Dez hotéis que tratam bem o ambiente

Vamos de Norte a Sul do país à procura de unidades de alojamento, de diferentes tipologias, com boas práticas ambientais. Pode dormir descansado: estes hotéis preocupam-se com o ambiente.

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Chão do Rio DR
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Pedras Salgadas Adriano Miranda
,Casa na árvore
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Pedras Salgadas DR
,Vila Do Corvo
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Aldeia da Cuada Enric Vives-Rubio

Pedras Salgadas Spa & Nature Park

Salgueiros, teixos, magnólias, nogueiras-pretas, plátanos, liquidâmbares, pinheiros, castanheiros, abetos, choupos, freixos, faias, tílias, vidoeiros, negrilhos, cedros, sorveiras-bravas, até uma sequóia-gigante, lago artificial, grutas, fontes neoclássicas. Água medicinal brota da terra (alguém pediu uma “água das pedras”?) e alimenta um moderno spa termal onde funcionou o balneário do início do século XX. Em 40 hectares de parque mais que centenário, e entre antigos edifícios termais restaurados, são eco-houses (de várias tipologias) e tree-houses que compõem a oferta de alojamento do Pedra Salgadas Spa & Nature Park.

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Pedras Salgadas Adriano Miranda

É o herdeiro legítimo da tradição termalista que dá fama à vila agora transformado numa espécie de eco-resort que é também uma espécie de parque encantado, onde não faltam piscina exterior, campo de ténis, minigolfe, enquadrados no cenário de forma orgânica. E mantidos da forma mais sustentável possível, como faz parte das práticas do hotel, que tem na ecologia a bússola que orienta o seu funcionamento e manutenção. A não impermeabilização do solo, o reaproveitamento de águas negras, a iluminação LED, os revestimentos e isolamentos reforçados são algumas iniciativas que ajudam a reduzir a pegada ambiental e voltam a justificar a nomeação para os prémios da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), em 2019, na categoria de Sustentabilidade Ambiental (já ganho em anos anteriores). A.M.P.

Dormir numa árvore ou o regresso à infância

FeelViana

É nas pequenas coisas que o FeelViana mostra ter consciência ambiental e respeitar os princípios básicos de poupança de recursos e boa gestão dos mesmos. O hotel implantado na praia do Cabedelo, Viana do Castelo, recorreu a materiais naturais desde a sua construção (nomeadamente a resistente madeira Criptoméria dos Açores, que se funde com o pinhal, mas também a terra e a pedra em toda a área externa, parque de estacionamento incluído), procurando prolongar boas práticas ecológicas no seu dia-a-dia.

A unidade dispõe de painéis solares para abastecimento de águas quentes, equipamentos de climatização através de bombas de calor com classe energética A++, reciclagem em ecopontos, usa produtos ecológicos para a limpeza geral e lâmpadas LED (classe energética A+). Para efeitos de poupança, os hóspedes têm acesso a torneiras e autoclismos com duas posições de abertura.

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FeelViana

As amenities do Feel não contêm parabenos, sendo que foram colocados nos duches apelos à poupança de água. Em constante evolução, o hotel de Viana eliminou recentemente os objectos de plástico nas refeições do staff. O FeelViana, com opções vegetarianas no menu tanto do restaurante como da taberna (tagine marroquino de soja com pimentos, risotto de cenoura e gengibre com legumes da praça, lasanha e salada de quinoa), acaba de inaugurar o primeiro Wake Park do Alto Minho, promovendo a prática desportiva em harmonia com o ambiente, um dos pontos fortes deste hotel. L.O.C.

Viana do Castelo descobriu o segredo do conforto radical

Chão do Rio

Os segredos não se revelam, mas o do Chão do Rio grita a plenos pulmões, ninguém o consegue esconder: a generosidade, simplicidade e autenticidade com que cada hóspede é recebido neste Turismo Rural não é traduzível em palavras. É medido pela verdadeira experiência de turismo de aldeia, como se de repente todos tivéssemos crescido em Travancinha, no concelho de Seia, e voltássemos com regularidade aos fins-de-semana, para abraçar a família, respirar ar puro, contemplar a natureza.

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Chão do Rio

Com oferta de seis casas rústicas, erguidas em pedra e com telhado de colmo (por isso não escaparam aos incêndios devastadores de 2017, mas já aí estão, reconstruídos e firmes), uma piscina exterior biológica e bicicletas gratuitas, a quinta do Chão do Rio foi também a primeira unidade de Turismo Rural em Portugal a receber a certificação Biosphere, evidenciando assim as suas práticas exemplares na área do turismo sustentável.  A Biosphere Responsible Tourism atribui e reconhece o trabalho em prol da sustentabilidade dos destinos avaliando o equilíbrio entre os três pilares da sustentabilidade: o económico, o social e o ambiental.

E eles estão bem presentes no Chão do Rio. Os hóspedes recebem um roteiro sobre o património local para conhecerem a pé ou de bicicleta( a quinta ocupa oito hectares, e tem uma parte florestal que é atravessada por um trilho sinalizado, o “Sendeiro da Moira”), e a comunidade local continua a ser parte activa nas muitas acções ambientais que são organizadas por este empreendimento gerido por Catarina Vieira. Fiquemos só pelos dois exemplos mais próximos: recentemente instalaram 13 caixas ninho para servir de refúgio a vários tipos de chapins e pica-paus e no fim do mês vão instalar um hotel de insectos na futura horta. L.P.

O sonho de Catarina pôs Travancinha no mapa

Areias do Seixo

A funcionar há nove anos, o Areias do Seixo, na freguesia de A dos Cunhados, paredes-meias com a praia da Mexilhoeira, surgiu, desde a primeira pedra, como um projecto assente na sustentabilidade ambiental, recorrendo a várias técnicas, engenhos e práticas que permitem, ao longo do seu ciclo de vida, reduzir a pegada ecológica da actividade. A começar pela sua localização, implantando-se de forma a provocar o mínimo impacto na paisagem que o envolve, e na sua construção, para a qual foram aproveitados todos os recursos naturais ao dispor — incluindo os despojos do temporal que assolou a área um ano antes da abertura do hotel.

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Areias do Seixo DR

Em termos de eficiência energética, a climatização e o aquecimento de águas assenta num sistema de geotermia e o isolamento térmico foi conseguido graças à utilização de cortiça nas paredes duplas, mas também com a implantação de coberturas ajardinadas, permitindo ainda a reposição de algumas das espécies naturais características desta região. Estas e outras medidas têm-lhe valido dezenas de distinções nacionais e internacionais, como por exemplo Melhor Hotel Ecológico Europeu pela alemã Geo Saison, Green Key e nos Green Project Awards. Hoje, a oferta inclui 14 quartos, dez villas e seis townhouses. Entre os serviços, há restaurante, bar e mercearia, spa, horta orgânica e piscina exterior (aquecida através painéis solares). C.B.R.

O discreto charme natural do luxo

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Tivoli Évora Ecoresort

Mergulhado na planície alentejana, a 10 minutos de carro do centro de Évora, fica o antigo Ecorkhotel, integrado no portefólio do grupo Tivoli desde Junho do ano passado. Como parte da renovação, o hotel colheu novo nome e uma villa exclusiva, com nove quartos e piscina exterior privada.

Para não destoar do cenário, quadro dourado onde sobressaem sobreiros, azinheiras e oliveiras centenárias, a unidade turística expande-se horizontalmente, numa arquitectura contemporânea e minimalista, acompanhando o suave declive da planície. O edifício central concentra os principais serviços e espaços públicos do hotel, incluindo o lobby bar, o spa (com salas de tratamento, piscina interior, sauna, banho turco e ginásio), uma piscina infinita com bar de apoio no terraço e o restaurante Cardo, de cozinha contemporânea portuguesa e pratos criados com “produtos locais e de época”, alguns colhidos na horta biológica do próprio hotel.

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Tivoli Évora Ecoresort DR

Já as suítes distribuem-se numa “aldeia” de casinhas brancas, que nascem de forma ordenada a poucos passos de distância. As ruas empedradas vão desenhando o bairro de 56 villas, cada uma com 70m2, divididos pelo quarto, sala (algumas com kitchenette integrada), casa de banho e um terraço privativo. A decoração, acolhedora, integra apontamentos feitos em materiais naturais, como a lã e a cortiça.

Em funcionamento desde 2013, a unidade hoteleira apresenta um projecto de arquitectura inovador na área ambiental, com uma forte aposta na eficiência energética. O edifício principal é revestido a cortiça – à data da inauguração anunciava-se como “o primeiro hotel do mundo” com este tipo de revestimento –, um material não só característico da região como um isolante acústico e térmico, capaz de atenuar de forma natural as grandes amplitudes térmicas que se fazem sentir no Alentejo. O hotel utiliza ainda a geotermia para aquecimento do edifício principal e painéis solares para o aquecimento das águas correntes e das piscinas. M.G.

São Lourenço do Barrocal

São Lourenço do Barrocal, perto de Reguengos de Monsaraz, foi durante muitas décadas um monte agrícola alentejano, como outros, com gado, cereais, oliveiras, vinha e uma dimensão importante na região. Quando José António Uva o herdou, a agricultura já não garantia o rendimento do passado e o turismo surgiu como um caminho.

A diferença em relação a outros projectos é que, aqui, procura-se conciliar as duas coisas: o Barrocal é hoje um hotel de cinco estrelas mas a produção agrícola não desapareceu – e enquanto os hóspedes passeiam pela propriedade, relaxam na piscina ou jantam na zona exterior junto à horta biológica, as tarefas agrícolas continuam e é possível ver as vacas que passeiam livremente, assistir às vindimas na época própria ou ver a apanha da azeitona.

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São Lourenço do Barrocal Nelson Garrido

O projecto de arquitectura, com a assinatura de Eduardo Souto de Moura, foi premiado na Bienal de Veneza, e respeita totalmente a estrutura da antiga propriedade agrícola, com as casas antigamente ocupadas pelos trabalhadores hoje transformadas em grandes e confortáveis quartos e também num spa.

Mas a vida do Barrocal vai para além das fronteiras da propriedade – há uma série de produtores locais, de mel, de peixe, de pão, de queijo, que fornecem o restaurante (cuja cozinha é assegurada pelo chef alentejano José Júlio Vintém) e que, em conjunto com artesãos, arqueólogos e até astrónomos, são cada vez mais parceiros e cúmplices importantes desta ideia de um hotel que faz tanto mais sentido quanto maior for o envolvimento com o território em que se encontra. A.P.C.

Pedra, tempo e memória num monte agrícola de cinco estrelas

Craveiral

Apesar de já ter aberto as portas há algum tempo, só este mês o Craveiral Farmhouse, na costa alentejana, próximo da Zanbujeira do Mar, vai fazer a sua inauguração oficial, que inclui, entre outras coisas, uma instalação artística que ficará aberta ao público até 7 de Junho e que envolve o fotógrafo dinamarquês Martin Kaufmann, a poeta Ana Freitas Reis, o aromista Ricardo Spencer, o sound designer Elvis Veiguinha e a produtora Patrícia Reis.

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Craveiral DR

Projecto de três sócios, João Canilho, Luís Miguel Capinha e Pedro Franca Pinto, o Craveiral apresenta-se como um Turismo da Natureza, com uma grande ligação às tradições, fauna e flora do Alentejo. No início, este terreno era apenas mato, mas nove anos depois (e perto de seis milhões de euros) há 38 casas no meio de uma área pertencente à Rede Natura 2000, o que permitiu a recuperação de habitats naturais que estavam em risco, como o charco temporário mediterrânico. 

Os hóspedes podem descobrir os cheiros e os sabores da região não só no restaurante, que tem uma filosofia de farm to table, como em workshops e no centro de interpretação da natureza. A.P.C.

Figueirinha Ecoturismo

Este é um daqueles lugares que dizem logo ao que vêm: a Figueirinha tem Ecoturismo no nome e quase podíamos dizer que não se fala mais no assunto. Mas não, damos a palavra a Paula Silva para explicar o que pode encontrar quem procurar este refúgio nas Relíquias, concelho de Odemira.

A Figueirinha, que era a casa de férias de Paula e do marido, Alexandre Coutinho, abriu-se a hóspedes em 2011, com apenas três quartos. A oferta alargou-se depois ao glamping e, explica a proprietária, há agora duas tendas disponíveis (por estes dias será instalada uma terceira) para quem buscar um contacto ainda mais próximo com a natureza.  “É nisso que nos concentramos, num turismo de natureza responsável e sustentado”, reforça Paula Silva.

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Figueirinha Ecoturismo

A piscina da Figueirinha é biológica – as espécies vegetais e animais que aqui vivem são incontáveis, mas os nenúfares e as rãs são os reis da festa – e da horta saem alguns produtos que Paula e Alexandre usam nas refeições que servem, a pedido. De resto, a sustentabilidade energética é um objectivo que perseguem diariamente. “Somos 100% sustentáveis a nível da luz, mas apenas 50% ao nível do aquecimento de águas. E estamos à procura de alternativas ao gás para cozinhar. É um processo que em Portugal ainda é difícil, mas lá chegaremos”, acredita Paula Silva.

Enquanto se trilha esse caminho, aposte-se, então, no contacto com a natureza: da Figueirinha parte um percurso circular de 14 quilómetros pela floresta autóctone e há também roteiros de BTT para cumprir. A zona presta-se ainda a passeios de bicicleta, a cavalo, de barco ou de canoa, nomeadamente no rio Mira e na barragem de Santa Clara. Haja vontade – e pernas. S.S.C.

Um filme caseiro da família e dos amigos

Paraíso Escondido

Entre a costa alentejana e a serra de Monchique, esconde-se este pequeno turismo rural, a casa de sonho de Berny Serrão e família transformada em projecto empresarial e estilo de vida. Abriu no final de 2014, depois de 13 anos de obras, legalizações e burocracias, e duplicou entretanto o número de alojamentos disponíveis. São agora três quartos, cinco suítes e dois bungalows, dispersos entre a casa principal, de traça típica alentejana, um novo edifício de linhas modernas e a sombra do eucaliptal, que vai descendo a colina, acompanhado aqui e ali por medronheiros e sobreiros.

O conceito, diz-nos a proprietária ao telefone, mantém-se exactamente o mesmo. Promover uma ligação próxima com a natureza – “Ela veio em primeiro lugar, nós estamos em segundo” – num ambiente intimista, pleno de tranquilidade, conforto e luxo minimalista, onde as preocupações com o bem-estar e o meio ambiente são transversais a todas áreas, das infra-estruturas às refeições, informando “sem impor nada”.

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Paraíso Escondido

Toda a água utilizada na unidade hoteleira vem de um furo e da pequena barragem construída na quota mais baixa dos oito hectares de terreno. Os produtos de limpeza e as amenities são ecológicos. O queijo e os “ovos de galinhas felizes” são comprados a uma vizinha. Do pomar e da horta vêm muitos dos produtos utilizados no pequeno-almoço (incluído) e ao jantar (a pedido), outros são comprados nos mercados da região ou a fornecedores que “seguem a mesma filosofia”. Para o final de Maio está previsto mais um refúgio no Paraíso: o estúdio de ioga deverá estar concluído, com a promessa de retiros fora da época alta e sessões de terapia, com plantas ou com pintura e meditação, por exemplo. E os tapetes de ioga? De cortiça, sustentáveis e biodegradáveis.

Um lar familiar longe de casa

Aldeia da Cuada

De uma aldeia abandonada por volta de 1970 Carlos e Teotónia Silva, fizeram, ao longo de três décadas, um dos mais belos turismos rurais do país e em cenário idílico. Recentemente, este projecto familiar foi passado a quem cresceu com ele, a filha Carlota, agora com 30 anos e que, juntamente com o marido, Sílvio, gere o futuro da Cuada.

São 17 casas, cada uma com o nome do último morador (Luís, Fagundes, Esméria…), reconstruídas com a sua própria pedra, interligadas por calçadas e em cenário de esplendor vegetal. O trabalho de recuperação preservando a história, o respeito pela natureza envolvente, o cuidado com os materiais e produtos, a pequena agricultura com hortas, frutas e aromáticas, entre outros predicados, garantiu à aldeia, em 2018, o prémio AHRESP (a associação de hotelaria e restauração) de Sustentabilidade Ambiental.

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Aldeia da Cuada Enric Vives-Rubio

Temos “amor à camisola”, diz-nos Carlota, que coloca como meta, precisamente, a sustentabilidade do projecto, até à “redução total de plásticos”, embora admita que isso está longe e não é fácil (mas há bons exemplos: 0% plástico nos pequenos-almoços, garrafas de vidro – água filtrada disponível, doseadores recarregáveis de gel e duche, etc.). Uma das novas estrelas da Cuada é o restaurante aberto ao público, focado nos produtos e ingredientes locais, uma cozinha do dia “sem nada congelado”, sendo que todo o lixo orgânico segue para compostagem. “Os nossos clientes estão muito atentos aos pormenores ambientais”, remata Carlota. L.J.S.

É preciso uma aldeia para criar uma ilha

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