Por aqui passou uma tempestade

Paulo Pimenta
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Paulo Pimenta

Vidros partidos, casas sem portas, brinquedos abandonados, retratos deixados para trás — 45 anos de memória. Despojos de vidas já noutras geografias. O Aleixo nos dias do fim assemelhava-se a cenário de catástrofe. Portas retiradas, caixilhos das janelas colhidos, portadas de armários arrancadas, louça de casa de banho levada, cobre extraído como ouro. A oportunidade de uns na perda de outros. Quem ali entrasse sem saber o contexto, julgar-se-ia em contexto de catástrofe. Vítima de um abalo? Mártir de um longo esquecimento? Não, apenas um bairro despejado. “Já ninguém salva o Aleixo”, reconhecia tristemente um morador enquanto se despedia, mais uma vez. Outro, ao lado, vasculhava os escombros em busca de um azulejo amarelo torrado das fachadas. Escolhia o mais bonito. Queria levá-lo casa. Um dia, quando a paisagem portuense já não mostrar as gigantes torres, para alívio de uns e mágoa de outros, há-de contar a quem não se lembre ter guardado um pedaço de um bairro. Uma outra história da cidade.

 

Nasceu com o país livre, em Abril de 74. Esvaziou-se este mês, 45 anos depois. Este é um dos retratos do Aleixo, nas palavras de quem o viveu por dentro. Os dias do fim num bairro portuense onde cidade e país se podem ver ao espelho.

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