O que pode a China fazer em resposta aos EUA?

Ao mesmo tempo que as negociações prosseguem, a China estuda qual a melhor forma de responder à subida de taxas alfandegárias realizada pelos EUA. Subir taxas, aumentar inspecções alfandegárias ou desvalorizar a moeda são opções, todas elas com riscos para a própria China.

Foto
Xi Jinping, presidente da China Reuters/JASON LEE

Com uma economia ainda fortemente dependente das suas exportações e com excedentes muito significativos face aos EUA, a China não só tem muito a perder com uma escalada da guerra comercial, como tem, ao nível das taxas alfandegárias, menos armas para utilizar no confronto do que os seus rivais. Ainda assim, são vários os possíveis danos que a China pode provocar à economia norte-americana.

Depois de os EUA terem concretizado, na madrugada desta sexta-feira, a ameaça de subir as taxas alfandegárias a mais 5700 produtos importados da China, no valor de 200 mil milhões de dólares, os responsáveis chineses já mostraram que estão decididos a retaliar.

A forma mais óbvia, à partida, é a subida das taxas alfandegárias aplicadas a produtos importados dos EUA. Para a China, o problema é que, se quiser responder exactamente na mesma medida que os EUA (200 mil milhões de dólares), isso significaria alargar a subida de taxas alfandegárias à totalidade dos produtos que compra nos EUA. Neste momento, a China já aplica, por causa de retaliações anteriores, taxas de 25% em dois quintos dos produtos importados dos EUA (no valor de 60 mil milhões de dólares). A generalização da subida de taxas teria impactos negativos para vários sectores de actividade na China, que apenas podem continuar a produzir (e a exportar) se comprarem determinados produtos, como semicondutores, dos EUA.

É portanto possível que Pequim, até para mostrar que tem outras hipóteses de retaliação, use outras opções. Uma das mais prováveis é a imposição de restrições administrativas à entrada de uma série de bens provenientes dos EUA. Este tipo de medidas surgiria em alternativa ou em complemento a uma subida de taxas alfandegárias, e passaria por colocar entraves práticos, como um maior nível de inspecção aos produtos, que constituiria um custo para as empresas norte-americanas a tentar operar no mercado chinês.

Uma opção mais radical seria a de travar a exportação de determinados produtos chineses que a economia norte-americana não pode dispensar (e que por isso os EUA não penalizaram com taxas mais elevadas), nomeadamente componentes que as empresas dos EUA usam na sua produção. Uma medida deste tipo, embora provocasse um dano significativo e imediato nos EUA seria no entanto arriscada para a China, já que afectaria a sua reputação como produtor de componentes a nível mundial e poderia dar vantagem a outros países asiáticos que são concorrentes da China neste mercado.

A China tem ainda a política cambial como arma possível. Se desvalorizar a sua divisa (algo que os EUA acusam de continuar a fazer), os seus produtos podem recuperar a competitividade perdida por causa das taxas. No entanto, também este é um caminho com perigos para a China, que colocaria em causa a sua estratégia de passagem de um modelo baseado nas exportações para um modelo baseado mais na procura interna e tornaria a inflação numa ameaça no curto prazo.

Outra carta que a China tem para usar contra os EUA é o enorme volume de dívida pública norte-americana que detém nos seus cofres (cerca de 1,1 biliões de dólares). Se a China começasse a vender parte desses activos, as taxas de juro da dívida norte-americana subiriam, com efeitos negativos para a capacidade de financiamento do Estado e das empresas dos EUA. No entanto, também aqui, a China arriscava-se a sofrer perdas, já que ao despejar dívida americana nos mercados, esta perderia o seu valor, e a China acabaria por sofrer perdas muito significativas.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários