Quatro a 12 anos de prisão para a herdeira falsa de Nova Iorque

Anna Sorokin, ou Anna Delvey, como era conhecida entre os amigos, roubou 275 mil dólares (244,95 mil euros) enquanto fingia ter uma fortuna de 60 milhões de euros.

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reuters

Fez-se passar por uma herdeira rica e enganou hotéis, amigos e bancos. Forjou documentos. Conseguiu empréstimos de milhares de dólares. Passou cheques sem cobertura. Anna Sorokin, cidadã alemã de 28 anos, já tinha sido condenada em Abril por fraude e quinta-feira recebeu uma sentença de quatro a 12 anos de prisão.

Entre os amigos de Manhattan, Anna Sorokin era mais conhecida como Anna Delvey, uma pretensa socialite que se vestia com roupas caras e cujos cartões de crédito eram recusados com uma frequência desconcertante, apesar de alegadamente viver por conta de um fundo de investimento.

Antes de dar quase a máxima sentença possível neste tipo de casos, a juíza Diane Kiesel, do tribunal supremo do estado de Nova Iorque, repreendeu Sorokin por ter ficado “cega pelo brilho e glamour da cidade de Nova Iorque”. “Ela ambicionava tudo o que o dinheiro pudesse comprar, mas esquecia-se que não tinha muito dinheiro”, apontou Kiesel durante o julgamento, denunciando o gosto de Sorokin pelos vinhos franceses de Sancerre, no Loire, e por jactos privados. “Tudo o que ela tinha era uma grande fraude”, acrescentou.

Entre 2016 e 2017, Sorokin terá forjado vários esquemas que a levaram a roubar 275 mil dólares (244,95 mil euros) enquanto fingia ter uma fortuna de 60 milhões de euros, explicaram os procuradores. 

Sorokin já passou mais de 500 dias na prisão. Apareceu em tribunal algemada, com um vestido preto, sapatos pretos e óculos de armação preta grossa. Para os procuradores, o facto de ter usado os serviços de um estilista na escolha da indumentária para o julgamento é revelador de que Sorokin não mostra qualquer remorso. “A única vez que mostrou emoções foi quando chorou porque estava chateada com a roupa que tinha recebido dos serviços prisionais”, comentou a procuradora Catherine McCawn.

Sorokin, que nasceu na Rússia e em adolescente se mudou com a família para a Alemanha, falou apenas para dizer que pedia “desculpa” pelos erros que cometeu. A juíza recusou uma carta de apoio de três familiares de Sorokin, justificando que também o documento poderia ser falsificado. 

"Tudo tem consequências"

Segundo os procuradores, Sorokin forjou extractos bancários para pedir um empréstimo no valor de 22 milhões de dólares (19,6 milhões de euros) para financiar um clube de artes privado que tencionava abrir em Manhattan. Conseguiu um empréstimo de 100 mil dólares (89 milhões de euros), que os procuradores disseram nunca ter sido pago. Usou cerca de 30 mil dólares (26,7 mil euros) para cobrir as contas em atraso no luxuoso hotel 11 Howard, onde vivia.

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Os procuradores disseram ainda que Sorokin depositou cheques sem cobertura no valor de 15 mil dólares (13,4 mil euros), numa conta no Signature Bank, tendo conseguido amontoar 8200 dólares em dinheiro antes que os cheques fossem devolvidos, e utilizou recibos falsos para enganar as vítimas.

No mês passado, um júri considerou-a culpada de quatro crimes de furto qualificado (de um valor elevado) e de quatro crimes de furto.

Chegou a ser criada uma conta de Instagram (annadelveycourtlooks), seguida por centenas de pessoas e que ia documentando a indumentária de Sorokin. “Eu sei que ela é uma criadora de tendências e uma influenciadora”, comentou Kiesel, “por isso acho que a mensagem é para a arguida e para muitos dos seus fãs: tudo tem consequências”.

Sorokin é uma cidadã alemã que permaneceu ilegalmente nos Estados Unidos, asseguram os serviços de Imigração norte-americanos. Poderá ser enviada de volta para a Alemanha quando cumprir a sentença — existe a possibilidade de lhe ser concedida liberdade condicional depois de ter cumprido quatro anos de prisão.

As argumentistas Shonda Rhimes e Lena Dunham (que criou e protagoniza a série Girls) ​estão a trabalhar na adaptação da história de Anna Delvey para o ecrãs. Isto também não a ajudou com a juíza, que disse que Sorokin, em entrevistas que deu já na prisão, não expressou remorsos, mas sim estar “preocupada” com quem a iria interpretar na série da Netflix.

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