Cuidador Informal, o teu sinónimo é Mulher

Nesta sociedade patriarcal, é preciso garantir que o cuidador não seja subjugado ou obrigado a abdicar da sua vida em prol do bem-estar familiar.

Podem chamar-se João, José ou Nivaldo mas, geralmente, têm o nome de Antónia, Maria, Bernarda ou Catarina. Os cuidadores informais são, nas palavras de Marta Temido, ministra da Saúde, um dos factores de sustentabilidade dos sistemas sociais. Se o economês vos assusta, traduzam por gente que abdica do seu tempo livre, do seu descanso, das atividades com amigos e família e até do emprego, para cuidar de outra pessoa.

A esperança média de vida aumentou mas a sociedade ainda não está preparada para cuidar dos mais velhos e dos enfermos. Estes cuidadores são tipicamente, segundo os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística, mulheres entre os 45 e 65 anos, com baixos rendimentos e baixa escolaridade. Num mundo tão globalizado mas ainda tão pouco igualitário, elas são o suporte emocional, físico e financeiro dos seus pais, sogros e filhos. São elas que, após a jornada de trabalho, dedicam quatro ou mais horas a cuidar dos seus. São elas que, sem qualquer renumeração, colocam a sua vida em espera, os seus sonhos e ambições, para dar ao outro a dignidade que a vida já lhes tirou. E porquê elas? Porque é o seu dever, diz-lhes uma sociedade pouco igual, machista e conservadora.

A proposta de lei apresentada pelo Governo, a 15 de fevereiro deste ano, é um passo importante para o reconhecimento desta questão e do trabalho não renumerado que lhe está associado. A atribuição de um subsídio de apoio ao cuidador, assim como a criação do seguro social voluntário, são passos fundamentais que só pecam por tardios. No entanto, as faltas ao trabalho por acompanhamento do familiar a consultas isoladas continuam a não ser consideradas faltas justificadas, o que configura uma das omissões graves desta proposta de lei. Perante as constantes faltas, os cuidadores optam por congelar as suas carreiras ou abandonar mesmo o emprego, tornando-os vulneráveis e menos independentes.

Mas mais do que a lei que tarda, consegue a sociedade garantir que o papel de cuidador é livremente exercido e é uma escolha consciente destas mulheres? Nesta sociedade patriarcal, é preciso garantir que o cuidador não seja subjugado ou obrigado a abdicar da sua vida em prol do bem-estar familiar. Cabe-nos a nós, enquanto sociedade, estarmos atentos a esta realidade e encontrar mecanismos que envolvam toda a família e comunidade para prestar cuidados a quem deles necessita, e cabe ao Estado proteger estas mulheres para que não lhes sejam atribuídas mais obrigações quando não o desejem, seja em nome do bem-estar familiar, seja em nome do bem-estar social. Cuidador informal tem de ser sinónimo de afeto, atenção, família, sociedade, respeito, mas não pode ser sinónimo de Mulher.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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