Labour pode exigir segundo referendo para chegar a acordo com May sobre o “Brexit”

Trabalhistas dizem que negociar com a primeira-ministra sobre o “Brexit” é como assinar um contrato com uma empresa que está prestes a mudar de gestão.

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Theresa May e Jeremy Corbyn continuam a enfrentar dificuldades para um acordo John Stillwell/Reuters

A primeira-ministra britânica, Theresa May, deixou um desafio ao líder da oposição, Jeremy Corbyn, antes de uma nova ronda de conversações entre os dois para um acordo que ponha fim ao impasse do “Brexit”: “Vamos deixar as nossas diferenças de lado” e negociar um acordo, escreveu May num artigo no Daily Telegraph.  

May e Corbyn, assim como responsáveis do Partido Conservador e do Trabalhista, têm-se reunido frequentemente desde há um mês, sem resultados. Mas os resultados desastrosos de ambos os partidos nas eleições locais da semana passada deixaram-nos com um novo motivo para apresentar um progresso.

A questão é que qualquer cedência de um lado arrisca a uma fractura no outro, comprometendo a possibilidade de uma aprovação na Câmara dos Comuns.

Os jornais de domingo divulgaram alguns pontos em que May poderia ceder, propondo por exemplo uma união aduaneira temporária, reciprocidade nos direitos dos trabalhadores e alinhamento na regulação de bens no mercado comum. 

Estas propostas poderão, no entanto, deixar descontentes os adeptos de uma saída com menos cooperação com a União Europeia dentro do seu partido. Por outro lado, poderão não ser suficientes para o Labour, que teme que qualquer acordo com May possa vir a ser desfeito por quem quer que lhe suceda à frente do Partido Conservador.

E se parece que a liderança de May é ciclicamente posta em causa, as eleições e o pior resultado dos Tories numa votação local desde a de John Major em 1995 deu novo ímpeto aos pedidos para que se afaste, com várias vozes do partido conservador a pedir um calendário claro para a sua saída.

May poderia tentar contar com a aprovação dos deputados trabalhistas de um acordo no Parlamento, mas arrisca-se a dividir ainda mais o seu partido.

Mas a fragilidade de May causa um problema aos trabalhistas. O partido teme ficar numa posição em que acabe agora por fazer um papel apenas de “salvar May” e quando esta cair, ver desfeito por quem ocupar a liderança dos conservadores o que foi acordado com ela. “É como negociar com uma empresa que está prestes a ficar sob administração judicial”, ou seja, gerida por outra entidade com outros objectivos, disse o ministro-sombra das Finanças, John McDonnell, no programa de Andrew Marr na BBC. 

Esta terça-feira, no mesmo dia em que May recomeça as conversações com Corbyn, encontra-se também com uma delegação do grupo parlamentar conservador que pressionará a primeira-ministra a apresentar um calendário de saída.

Outro problema para Corbyn é a divisão no interior do seu próprio partido. 

Uma fonte do Labour disse ao site Politico que “o que interessa são os números [de votos] no Parlamento”, porque “não adianta chegar a um acordo que seja rejeitado mal aterre no Parlamento”.

Nas semanas antes do que se pensava que era o fim do prazo para o “Brexit” (que acabou por ser adiado duas vezes. após acordos entre Londres e Bruxelas), Theresa May não conseguiu fazer aprovar o seu acordo de saída na Câmara dos Comuns – os deputados rejeitaram ainda várias alternativas, incluindo uma saída sem acordo.

O diário britânico The Guardian cita várias fontes trabalhistas dizendo que Corbyn não deverá conseguir deputados suficientes para aprovar um acordo que negoceie com May se esse este não incluir um segundo referendo – isto mesmo que o acordo tenha muitas cedências do Governo, e mesmo que o líder trabalhista impusesse disciplina de voto.

Se não houver acordo, May tem sugerido que poderá levar a cabo uma série de votações vinculativas na Câmara dos Comuns sobre como prosseguir. May recusou várias vezes um segundo referendo ao “Brexit”.

O diário The Telegraph diz no entanto que como último recurso, a primeira-ministra discutiu entretanto esta possibilidade – caso falhem as conversações com o Labour e o “Brexit” continue bloqueado nos Comuns. Neste caso, poderiam seria apresentadas não duas, mas três hipóteses aos eleitores: saída sem acordo, saída com acordo ou permanência na União Europeia.

No Financial Times, o editor Robert Shrimsley escreve que um segundo referendo é cada vez mais provável, já que nos Comuns os Remainers vão opor-se a um acordo sem referendo e os “radicais do ‘Brexit'” vão opor-se a qualquer acordo.

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