Melhor futebolista do mundo exige igualdade e não vai jogar no Mundial

Ada Hegerberg continua a não vestir as cores da Noruega desde 2017. Jogadora defende que a procura pela igualdade de género no futebol não passa só pelo dinheiro.

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Reuters/BENOIT TESSIER

Está confirmado: o próximo Mundial de futebol feminino não contará com a presença da actual melhor jogadora do mundo. Ada Hegerberg, a primeira a vencer a Bola de Ouro da revista da France Football, não consta na lista de convocadas da Noruega para a prova que se disputa de 7 de Junho a 7 de Julho, em França. A futebolista de 23 anos não vai disputar o campeonato do mundo por considerar que as mulheres não têm as mesmas condições que os homens na prática da modalidade, mesmo depois da igualdade salarial no futebol de selecções da Noruega ter sido assegurado.

Quando caíram por terra as expectativas de Hegerberg marcar presença no Mundial, o seleccionador norueguês Martin Sjögren disse, após divulgar a lista, que a federação tentou o possível para convocar a jogadora. “Tivemos reuniões, mas ela decidiu não jogar”.

“Como técnico, tenho que focar-me nas jogadoras que querem fazer parte da equipa e a Ada não está entre elas. Respeitamo-la e estamos a trabalhar com as outras mulheres, que têm vindo a fazer um grande trabalho”, vincou à BBC o seleccionador, que viu a equipa norueguesa qualificar-se para o Mundial sem a participação da actual melhor jogadora do mundo.

Esta posição de Ada Hegerberg já é conhecida desde Agosto de 2017, onde já tinha anunciado um período de pausa na selecção, que se prolonga até hoje. Desde logo a imprensa norueguesa adiantou que a presença de Hegerberg no próximo Mundial poderia estar em causa. Na altura a jogadora escreveu em comunicado que “o futebol é o desporto mais importante da Noruega para as mulheres há muitos anos, mas elas não têm as mesmas oportunidades que os homens”. 

A federação norueguesa de futebol e o sindicato de jogadores reagiu e em Dezembro de 2017 assinou um acordo histórico que iguala os salários de jogadores de ambos os sexos que joguem pelas selecções nacionais da Noruega. Em vez de receberem, em média e por ano, 3,1 milhões de coroas norueguesas (317 mil euros), as jogadoras passaram a receber tanto como os homens: 6 milhões de coroas norueguesas (614 mil euros).

No entanto, isso não conformou Ada Hegerberg. Em Dezembro de 2018, depois de ter conquistado a Bola de Ouro, após uma cerimónia polémica onde o DJ Martin Solveig pediu-lhe para dançar twerk, disse à CNN que “o dinheiro não é tudo”. “Trata-se de preparação, profissionalismo, pontos muitos claros que apresentei de forma muito directa à federação quando tomei a minha decisão”.

A irmã da jogadora, Andrine Hegeberg, que joga no Paris Saint-Germain, também não está nas contas da selecção da Noruega para o Mundial. Filhas de treinadores, Ada defendeu que a sua família deu a si e à sua irmã “a confiança e o valor para usar a voz e ser capaz de fazer sacríficos por uma carreira no futebol que dê melhores condições a futuras gerações”.

Por se tratar de uma jogadora de topo que conquistou as últimas três edições da Liga dos Campeões feminina pelo Lyon, clube do mesmo país onde irá acontecer o Mundial, o jornal El País escreve que a posição de Hegerberg foi um duro “golpe desportivo” para as expectativas da FIFA e do comité organizador do Mundial que se aproxima — que não terá a presença da selecção nacional, mas conta com a árbitra portuguesa Sandra Bastos.

A Noruega está no grupo A, onde jogará com a anfitriã França, Coreia do Sul e Nigéria. Antes, no dia 18 deste mês, o Lyon defronta o Barcelona e poderá conquistar a quarta Liga dos Campeões consecutiva.

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