Robin Williams, Elmer Fudd e Bruce Springsteen

Um excelente documentário da HBO recoloca o falecido comediante no seu habitat natural: a comédia de palco.

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“E agora, Elmer Fudd canta Bruce Springsteen.” A simples ideia do eterno antagonista do coelho Bugs Bunny nos velhos cartoons da Warner Bros. a cantar Springsteen com o seu defeito de pronúncia é um achado. O que é ainda mais extraordinário é que Robin Williams (1951-2014) era capaz de um achado destes por minuto e de os articular todos numa rotina de comédia improvisada que deixava o espectador a rebolar de riso na coxia. Porque – como o documentário de Marina Zenovich Come Inside My Mind explica – quem só conhece Williams como o actor de cinema não conhece o “verdadeiro” Robin Williams: o comediante que era capaz de improvisar cinco gagues por minuto durante uma hora, usando sotaques, movimentos, tons de voz, numa conversa consigo mesmo paredes-meias com o esquizofrénico e sempre, sempre hilariante.

É esse olhar que ganha o documentário – agora disponível no serviço HBO Portugal e feito para a aclamada linha de documentários do canal americano (que inclui títulos sobre Steven Spielberg, Jane Fonda, Stephen Sondheim ou muitos outros). Entre nós, sempre tivemos uma visão incompleta do actor, já que nunca tivemos acesso à sua comédia de palco e Mork & Mindy, a série televisiva que o celebrizou, nunca foi exibida entre nós. Foram Bom Dia, Vietname e Clube dos Poetas Mortos que o tornaram realmente popular fora dos EUA, numa altura em que o actor já tinha mais de uma década de carreira nos palcos.

Zenovich, que já dedicara documentários a Roman Polanski e a Richard Pryor (outra figura seminal da comédia americana que o cinema não soube aproveitar), não minimiza a carreira de Williams no grande ecrã, mas dedica inteligentemente a maior parte do seu filme ao local onde ele era mais “si mesmo”: o palco onde cada actuação era um salto mortal sem rede. E as imagens que vemos desses saltos no vazio são mais do que suficientes para chamarmos a Robin Williams em palco aquilo que raramente terá sido no cinema: génio. Enquanto nos desmanchamos a rir no sofá. 

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