45 anos de Liberdade, e as liberdades e leviandades que se seguiram

Celebro hoje, como sempre, a Liberdade, mas faz-me cada vez mais confusão o abuso das liberdades dos que, não contribuindo em nada para a sociedade, se acham com o seu na barriga e não conseguem ver o mundo além do seu próprio umbigo.

Quarenta e cinco anos passaram desde a madrugada gloriosa em que o país se libertou das amarras da ditadura.

O que começou como uma reivindicação militar logo integrou o sentimento generalizado do povo português. Os militares ocuparam Lisboa, o povo uniu-se aos militares e a liberdade fez-se.

A liberdade que conseguimos resgatar com o 25 de abril, não nos trouxe apenas o facto de sermos livres dentro de portas, abriu-nos as portas de par em par e empurrou-nos até, para a Europa. Uma Europa da qual estivemos afastados durante décadas, cada vez mais isolados e pobres.

A entrada na CEE (depois UE) pouco mais de dois anos depois, ainda no rescaldo da conquista de abril, trouxe-nos quatro importantes liberdades que nos trouxeram o progresso: a livre circulação de bens, a livre circulação de serviços, a livre circulação de capital e, mais importante, a livre circulação de pessoas.

A estas quatro, a que já se somavam à liberdade de associação e a liberdade de confissão religiosa, há ainda a destacar uma vitória que a Europa nos trouxe, a liberdade de não termos caído numa ditadura comunista, consolidando a nossa recém-nascida democracia e encerrando definitivamente o ciclo de descolonização que, libertando povos colonizados não deixou de destruir a liberdade de sonhar e a vida de muitos concidadãos que perderam tudo no processo atabalhoado e irresponsável da descolonização e do PREC.

Mas de todas as liberdades individuais que a Constituição viu depois consagradas, a mais importante de todas é a liberdade de expressão. Todos temos o direito a dizer o que pensamos, à livre opinião, à liberdade de informação, e aos longo dos últimos quarenta e cinco ano, exceptuando os primeiros anos de liberdade em que aprendíamos os primeiros passos com abusos à mistura, fomos conseguindo conviver com as liberdades de todos sem problemas de maior.

O que outrora era proibido, é hoje plenamente permitido, e o que estava ao alcance de alguns está hoje ao alcance de todos - falo da informação e dos canais de comunicação. De tal forma democratizados que poderemos perguntar se vivemos hoje uma época em que há excesso de informação, excesso de opinião, e as fronteiras da liberdade se convertem em legitimadas leviandades. E por leviandade podemos definir a insensatez, o que não é sério, o que é irrefletido.

Ninguém previu certamente que a democratização da informação lhe aumentaria tanto o volume... mas com certeza ninguém sequer imaginou que, mais do esclarecimento e clarificação, originasse tanto boato, tanto rumor, tantas falsas informações e notícias. Será o problema dos meios de comunicação a que todos temos acesso, ou será que o problema está na capacidade de discernir, de entender e de distinguir o certo do errado nos que hoje se tornaram não só ouvidos, mas também vozes que passam a mensagem a outros, sem escrutínio?

O que se pensava que tivesse um efeito positivo na sociedade, a democratização da informação, tornou-se um pesadelo. Um contra-senso, porque o que era aceite de forma comum como “a minha liberdade acaba onde começa a do outro”, não tem a mesma expressão numa sociedade cada vez mais individualista é desumana... onde uns se outorgaram a liberdade de destruir o carácter do outro, de dizer o que pensa mesmo que seja indecoroso, mais ainda, de dizer tudo o que lhe vem à cabeça sem o filtro da ética nem da moral.

Celebro hoje, como sempre, a Liberdade, mas faz-me cada vez mais confusão o abuso das liberdades dos que, não contribuindo em nada para a sociedade, se acham com o seu na barriga e não conseguem ver o mundo além do seu próprio umbigo.

Mais confusa e perplexa fico quando sobre as egides da democracia e da liberdade, cobertos de uma ética e moral duvidosa, em pseudo abono dos valores das quinas e outras sinas, vejo partidos políticos, responsáveis políticos eleitos por uma democracia plena, incentivarem ao ódio, à infâmia, a violência e à rebelião. 

Enfim, é o progresso... uma barbárie democrática ao som do hino, nunca deixará de ser uma barbárie, mas ainda assim há quem as defenda e promova. Vale sempre a pena, quando a alma é bem pequena.

É da vida...

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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