Nós, europeus…

Para que se perceba a importância da UE no desenvolvimento de Portugal é bom que se saiba que cerca de 80% das políticas públicas são financiadas pelo orçamento da União Europeia.

Os europeus, em geral, estão descontentes com o funcionamento da democracia na União Europeia (UE). Quem o revela é um estudo publicado no passado dia 29 de abril, pelo centro de investigação, Pew Research Center, com sede em Washington.

Em seis dos dez países europeus pesquisados, metade ou mais dizem estar insatisfeitos com o funcionamento da democracia. O descontentamento é maior nos países do sul da Europa, onde mais de 70% dizem estar insatisfeitos. Em contraste, cerca de 1/3 das populações do norte da Europa, têm visão positiva do estado da democracia.

Em 10 países da UE incluídos no estudo, a pontuação média foi de 52% para “não satisfeito” e 47% para “satisfeito” com o estado da democracia.

Na Europa, o descontentamento com o funcionamento da democracia está associado a temas relacionados com a imigração, má performance das economias, direitos individuais e à percepção de que as elites políticas são na generalidade corruptas.

Na maioria dos países pesquisados, a insatisfação democrática é maior entre pessoas que apoiam partidos que não estão atualmente no governo, mas seis em cada dez pessoas pensa que, independentemente de quem ganhe uma eleição, as coisas não mudam muito.

Mas para lá deste estudo, o pior de tudo isto, é que durante estes anos de suposta integração e coesão, muitos dos cidadãos dos Estado- membros olham para a UE como uma potência colonizadora, que lhes diz o que podem ou não fazer e que lhes dita as regras que podem ou não seguir.

Esta falta de identificação e este ressentimento geral contra a Europa, é, em grande medida, responsabilidade dos governos nacionais que imputam à Europa os seus fracassos na gestão nacional.

A desculpa permanente de que todos os constrangimentos são responsabilidade das imposições europeias aumenta a falta de confiança, de pertença e de identidade em relação ao projeto europeu.

Hoje somos parte integrante da Europa e sem ela não teríamos a mesma identidade e muito menos a mesma autonomia.

Para que se perceba a importância da UE no desenvolvimento de Portugal é bom que se saiba que cerca de 80% das políticas públicas são financiadas pelo orçamento da União Europeia.

Sem este conforto e garantia Portugal seria um país periférico perdido no mundo.

A integração é irreversível e mesmo com o sentimento de rejeição das elites políticas a crescer, não podemos permitir que se abra espaço para os movimentos populistas, sejam de esquerda ou de direita, que estão a aproveitar esta crise de identidade da UE para descaracterizar o projeto europeu.

O novo caminho tem de reforçar o projecto europeu, que já não se pode limitar à meta exclusiva da prosperidade económica dos seus estados. As clivagens entre Sul e Norte ou entre o Leste e o Oeste têm de dar lugar ao reforço das relações e de políticas comuns que promovam a coesão e que atenuem a diferença entre membros do centro da Europa e membros da periferia.

Como europeus já superámos uma crise financeira, uma grande recessão, uma crise do euro e agora a provável crise das democracias liberais. O fim natural desta sequência de fenómenos não tem de ser uma crise política.

Por isso, as próximas eleições de dia 26 são de uma importância vital e a relação de forças que sair delas ditará o futuro e o nível de estabilidade da UE. Precisamos de uma Europa moderada, conciliadora, integradora, que promova a prosperidade, a segurança e a coesão social e territorial no espaço europeu.

A Europa dos novos tempos tem de voltar a ocupar o seu lugar no tabuleiro da geopolítica a par dos EUA, da China e da Rússia, pois caso não o faça corre o risco de perder o comboio e passar a ser apenas um grande território geográfico com uma enorme irrelevância.

O autor escreve segundo o novo acordo ortrográfico

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