Espanha limita actividade política de Leopoldo López e Guaidó chama povo para os quartéis

O opositor ao regime de Maduro está refugiado na embaixada espanhola e tem falado. Mas o chefe da diplomacia de Madrid, Josep Borrel, impôs a condição do silêncio - e gerou polémica. Guaidó marca concentrações juntos aos quartéis para sábado.

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Leopoldo López falou aos jornalistas na quinta-feira à porta da embaixada espanhola MIGUEL GUTIERREZ/EPA

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Josep Borell, disse que o opositor venezuelano Leopoldo López é um “hóspede” na embaixada espanhola e que isso implica “naturalmente” uma limitação da actividade política. Palavras que fizeram eclodir uma chuva de críticas de outros partidos, que exigem que seja dada a López capacidade de se expressar.

As palavras do chefe da diplomacia espanhola surgiram depois de López ter falado aos jornalistas à porta da representação diplomática espanhola e de ter dado uma entrevista à agência Efe, na quinta-feira. E na sequência do mandado de prisão emitido pela justiça venezuelana contra o opositor, condenado em 2014 a 14 anos de prisão e que estava desde 2017 em regime de prisão domiciliária, de onde foi libertado pelo Presidente interino (que Espanha reconhece) na terça-feira.

López, que num primeiro momento procurou refugio na residência do embaixador chileno, foi depois para a residência do embaixador espanhol, porque a primeira já não tinha condições de o acolher - foi lá que se refugiaram, em 2017, outros dois líderes da oposição a Maduro, Freddy Guevara e Roberto Enríquez, quando o Supremo Tribunal lhes retirou imunidade parlamentar e foi emitida ordem de prisão contra eles.

A escolha da embaixada de Espanha prendeu-se também com o facto de o pai de Leopoldo López ser cidadão espanhol - e candidato do Partido Popular (direita) às eleições europeias de 26 de Maio.

Espanha foi apanhada na teia da crise institucional na Venezuela, com o Governo a ter de emitir declarações sobre a inviolabilidade da sua embaixada e a advertir as autoridades venezuelanas - que exigiram a entrega de López - para não tentarem prender o opositor dentro do seu território. Foram iniciados contactos e dito que o objectivo do Governo espanhol era encontrar “uma solução com brevidade”.

Borrel, revelando que falou sobre a situação de Leopoldo López com o Governo de Maduro, com quem mantém “relações cordiais” apesar de o país ter reconhecido Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, como chefe de Estado interino, traçou as regras para a permanência de López na embaixada. Sublinhou que, à luz do Direito internacional, um “hóspede acolhido” não pode ter actividade política. A representação diplomática espanhola “não se converterá num centro de activismo político”, disse. “Temos confiança de que, nestas condições, a Venezuela vai respeitar naturalmente a imunidade do território da Embaixada de Espanha”.

E o embaixador do Governo de Nicolás Maduro em Espanha, Mario Isea, disse depois que o seu país “não invade embaixadas”, mas insistiu no pedido que já tinha sido feito para que Leopoldo López seja entregue à polícia. 

Rapidamente, Partido Popular e Cidadãos lançaram a polémica. Luis Garicano, eurodeputado do Cidadãos, considerou infeliz a declaração do ministro: "Palavras infelizes as de Borrell. O PSOE volta mais uma vez a cara às violações de direitos humanos. Dar a Leopoldo López possibilidade de se expressar não é activismo político, é defender a liberdade onde ela é mais necessária”. O líder deste partido decalcou esta ideia: “Sánchez desvaloriza a luta de todo um povo pela liberdade chamando-lhe activismo político. Lamentável”.

A cabeça de lista do Partido Popular às europeias, Dolors Montserrat, exigiu ao Governo socialista de Pedro Sánchez que não se mantenha neutro na crise venezuelana, mas que “lidere o apoio à transição democrática”. “O nosso papel não é limitar a transição pacífica, temos que liderá-la. E pedimos ao Governo que dê máxima segurança a todo o povo da Venezuela e a Leopoldo López e à sua família”.

“Não é activismo político, sr. Borrell”, considerou Cayetana Alvarez de Toledo, também do PP. “E uma coisa essencial e admirável. E o Governo de Espanha deve apoiá-lo com toda a convicção e energia, sem matizes, hesitações ou condições”.

O que disse López na entrevista?

Na entrevista à agência espanhola Efe, Leopoldo López foi questionado sobre uma possível intervenção militar para tirar Nicolás Maduro do poder. O opositor, que classifica Maduro de “usurpador”, disse que esse tipo de intervenção está previsto na Constituição da Venezuela. “Não descartamos nenhum cenário que esteja dentro da Constituição. Esperemos que não venha a chegar a esse ponto, mas não o afastamos, pois é constitucional e não podemos afastar nenhum cenário que nos permita conquistar a liberdade”, disse.

Porém, considerou que a transição “tem que ser um processo pacífico, sem recorrer à violência” e para isso precisa de contar “com a força do povo e dos militares”. López revelou ainda que fez reuniões em sua casa, quando estava detido, com chefias militares e civis do chavismo. 

Desde o início da insurreição contra Maduro que a oposição apela ao apoio das forças militares. Na tarde desta sexta-feira, Juan Guaidó voltou a fazê-lo. E pediu à população que, na manhã de sábado, se mobilize junto das principais unidades militares do país. “Em paz - sublinhou, avançando, mas sem cair em provocações”.

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