“Fazer a história da Europa, ou fazer da Europa uma estória”

Temos, como jovens, o dever de participar ativamente na construção de uma Europa que corresponda aos nossos ideais e expectativas.

A menos de 50 dias para as eleições europeias, “cá por casa” ainda pouco ou nada se debate a Europa. Ao longo da pré-campanha, o discurso político tem estado maioritariamente focado na política nacional. Não discutir a Europa é um erro e não contribui para fomentar a participação nas próximas eleições.

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, a taxa de abstenção ultrapassou os 65%. Não acredito que este número signifique que os portugueses já não se identificam com a Europa. Só a poderíamos dispensar se passarmos bem sem ela. Mas nós não passaríamos bem sem a União Europeia (UE).

A UE cofinancia em 70% o pagamento das bolsas de estudo de ação social no ensino superior. Só este ano letivo, já beneficiaram destas bolsas mais de 70 mil estudantes. Também neste ano, mais de sete mil estudantes tiveram ou estão a ter a oportunidade de estudar um semestre letivo noutro Estado-membro, ao abrigo do programa de mobilidade Erasmus +. Se o desemprego jovem tem diminuído, isso deve-se sobretudo aos fundos comunitários, que têm permito apoiar medidas ativas de emprego.

Não há dúvidas sobre a grande influência que a UE tem no nosso futuro e, por isso mesmo, temos, como jovens, o dever de participar ativamente na construção de uma Europa que corresponda aos nossos ideais e expectativas. A UE é uma organização sui generis, única e diferente de todas as outras. É um sistema político em constante construção e cada ato eleitoral para o Parlamento Europeu tem de representar uma nova oportunidade para o mundo atual! Acima disso, não nos esqueçamos que a União Europeia é, aliás, o maior projeto de paz de que há memória!

Interna e externamente, as mudanças e os desafios são constantes. Há 20 anos, na transição para o novo milénio, a UE estabeleceu o objetivo de se transformar numa economia baseada em conhecimento, mais competitiva e dinâmica, centrada na promoção das indústrias com baixas emissões de carbono, no investimento na investigação e no desenvolvimento, no crescimento da economia digital e na modernização da educação e da formação.

Muitos desses objetivos foram renovados no âmbito da estratégia “Europa 2020” e voltarão a ser transportados para uma nova estratégia, para uma nova década. A Europa marcou passo. Portugal seguiu-lhe as passadas, mas ainda devagar.

Investir 3% do PIB em inovação e desenvolvimento (I&D) é um objetivo com quase 20 anos! A média europeia está atualmente fixada em 2,07%. Em Portugal parámos nos 1,33%. A economia europeia não terá condições de competir com os EUA e o Japão, nem mesmo com as emergentes China e Índia, se não encarar com maior seriedade este objetivo.

No nosso país, o Governo habituou-nos ao lançamento de vários programas com o objetivo de promover a atividade e o emprego científico. Infelizmente, os resultados mostram que em Portugal nada se consegue... apenas se arranjam ou se desenrascam umas coisas. Arranjam-se uns fundos, desenrascam-se uns empregos.

Portugal precisa de definir uma verdadeira estratégia, uma visão séria e estruturada para o longo prazo. Uma estratégia intersectorial, que não se limite a executar fundos de forma predatória, em toda e qualquer área apoiada.

Ao longo dos próximos anos, a Europa será forçada a reinventar-se, seja pelos desafios económicos emergentes, seja pelas revoluções políticas e sociais ou mesmo pelos enormes desafios climáticos com que nos deparamos. E por isso, não debatermos a Europa, nestas eleições, é perder a oportunidade de definir qual é o papel que queremos ter nesse futuro!

Recentre-se o debate, falemos do que é importante: “fazer a história da Europa, ou fazer da Europa uma estória”.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico 

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