A esperança do oceano pode estar nas mãos de jovens da Ericeira

Associação criada na Ericeira promove limpezas sistemáticas nas praias da região, com vista a recolher o lixo deixado nos areais ao longo de décadas.

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Ocean Hope

De todos os momentos maus, ou menos bons pelo menos, pode surgir uma oportunidade para fazer a diferença. Foi isso mesmo que pensou Samantha Smith, uma jovem com 19 anos, natural da Ericeira, quando decidiu tirar proveito de um período particularmente difícil da sua vida para fundar a Ocean Hope, uma associação que promove campanhas de recolha de lixo nas praias da região. 

Apesar de criada há apenas quatro meses, a associação já dinamizou 11 iniciativas —​ a próxima realiza-se no dia 11 de Maio — e foram apanhados cerca de 6500 quilogramas de lixo, maioritariamente plástico. Este marco foi possível com a colaboração de um total de 500 voluntários que se juntaram ao projecto ao longo dos meses. As praias escolhidas pela jovem são as preferidas dos amantes de surf, mas também de muitas centenas de turistas que escolhem a zona da Ericeira para passar férias.

Para a jovem, a importância que estas duas actividades — desporto e turismo — têm na região deveria ser proporcional à relevância e atenção que as limpezas das praias deveriam merecer, sob pena de as actividades não serem sustentáveis a longo prazo. “Se até quem frequenta as praias diariamente não sente a necessidade de as preservar, como é que alguém de fora se vai sentir sensibilizado a fazê-lo?” Ainda assim, revelou em declarações por e-mail ao P3, já recebeu “alguns pedidos” para que a associação organize limpezas no “Norte do país e em Lisboa”.

O exemplo de Samantha é, segundo a própria, a prova de que a idade não representa um impedimento na hora de agir. “Desisti da faculdade porque não estava motivada no curso e estava a passar por uma altura muito difícil: sentia que não tinha propósito, não queria sair da cama e andava constantemente num estado de ansiedade.” Mas tudo mudou. “Este projecto trouxe sentido e alegria à minha vida e espero que consiga transmitir isso às pessoas: que há esperança e todos podemos fazer algo, mesmo que sejamos ‘muito pequenos’”, sublinha. “Sou a prova de que não há desculpas, não temos todos de fazer um projecto destes, mas podemos todos agir.”

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Samantha tem 19 anos e criou a associação há sete meses Facebook Ocean Hope

Segundo Samantha, a missão da associação é “unir toda a sociedade para combater a problemática da poluição” das praias e, consequentemente, dos oceanos — aqui incluem-se, naturalmente, os jovens, os próximos guardiões do planeta Terra e garantes da sua sustentabilidade. É para sensibilizar estas novas gerações que a jovem tem dedicado parte do tempo a dar palestras em escolas da região para apresentar o projecto. “Acho que o feedback, apesar de ser diferente entre faixas etárias, é, por norma, positivo. As crianças encontram-se mais sensibilizadas pela mensagem e querem sempre ajudar e fazer mais.”

Os resultados provenientes destas acções de sensibilização já começaram a brotar, uma vez que muitas das crianças e adolescentes com quem Samantha contactou se juntaram às recolhas dinamizadas pela Ocean Hope. A pouca diferença etária que a separa destes voluntários é uma mais-valia, uma vez que “se torna mais fácil relacionarem-se e identificarem-se” com a causa.

O percurso tem sido de aprendizagem, tanto para a criadora da associação como para a equipa que a acompanha — uma “família de cinco voluntários, todos com menos de 22 anos e um coração disposto a ajudar”. Prova disso foi o uso (e consequente abandono) de sacos de descartáveis na primeira acção de recolha feita pela Ocean Hope. “Foi a primeira e a última vez que os usei, aprendi a lição!”, revelou a jovem numa publicação na conta de Instagram do movimento.

A grande ambição de Samantha é fazer jus ao nome do movimento que idealizou e criou: ser a esperança do oceano. Pode parecer uma meta ambiciosa, mas a jovem já delineou o caminho que a pode levar até lá: “O meu objectivo passa por expandir este movimento a toda a Europa, de forma a consciencializar todas as pessoas em relação a este tema.”

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