Morreu John Singleton, o realizador mais novo a ser nomeado para um Óscar

O autor de Boyz n the Hood tinha 51 anos e tinha sido vítima de um enfarte a 17 de Abril. Passou duas semanas em coma até a família ter acunciado, esta segunda-feira, a decisão de desligar a máquina que o mantinha vivo.

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O realizador de Boyz n the Hood tinha 51 anos LUSA/NINA PROMMER

John Singleton, que trouxe para o grande ecrã as lutas pela sobrevivência e o dia-a-dia de South Central, a região de Los Angeles pobre e assolada pelo crime em que cresceu, morreu esta segunda-feira aos 51 anos, na cidade que o viu nascer. Estava em coma desde 17 de Abril, após ter sofrido um enfarte resultante de hipertensão. A família decidiu por fim desligar a máquina que o mantinha vivo esta segunda-feira. Segundo o Washington Post, a família confirmou horas depois a morte num comunicado.

A notícia foi confirmada após alguns relatos contraditórios ao longo do dia. Primeiro foi a estação de televisão FOX4 News, de Kansas City, que adiantou que a família tinha dito ao seu crítico de cinema que o realizador tinha morrido. Vários órgãos de comunicação social deram a notícia do óbito com a FOX4 como fonte. Por esse motivo, os representantes de Singleton contactaram vários jornalistas para dizer que, afinal, o realizador ainda estava vivo, só que permanecia ligado à máquina e sem resposta. Até que, por fim, a família anunciou, num comunicado que saiu na revista Variety e noutros sites de notícias de entretenimento, a decisão de desligar a máquina.

Boyz n the Hood, que em Portugal se estreou com o nome A Malta do Bairro foi o seu filme de estreia, tanto como realizador quanto em argumentista. Saiu em 1991. Quando o rodou, aos 22 anos, Singleton tinha acabado de sair da USC School of Cinematic Arts. No elenco estavam nomes como Cuba Gooding Jr., Laurence Fishburne, Nia Long, Angela Bassett e Ice Cube, o que levou rapper dos NWA, cujo primeiro single teve como nome Boyz-n-the-Hood, a tornar-se actor – mais tarde, o realizador encorajaria Cube a tornar-se argumentista. O filme, que lidava com gangues, crime, pobreza, amizade, racismo, comunidade e gentrificação, foi mostrado na secção Un Certain Regard no Festival de Cannes e acabou por levar John Singleton a ser nomeado para os Óscares de Melhor Realização e Melhor Argumento Original.

Singleton continua a ser, ainda hoje, a pessoa mais nova a ser nomeado para um Óscar de Melhor Realização. Em 1992, ano da nomeação, o realizador tinha 24 anos, menos dois do que Orson Welles quando foi nomeado para Citizen Kane, que manteve essa distinção durante 50 anos até ser destronado por Singleton. Além disso, foi também o primeiro afro-americano a ser nomeado para tal prémio.

Foi o início de uma carreira feita de dramas originais e filmes de acção como o Shaft do ano 2000 – Gordon Parks, o realizador do original de 1971, era uma das suas maiores referências – ou Velocidade + Furiosa, o segundo capítulo da saga Velocidade Furiosa. Com Boyz n the Hood, Singleton ajudou a trazer ao cinema a representação de uma vivência que muito poucas vezes tinha sido mostrada, muito menos de uma perspectiva de dentro e não de fora, ajudando a mudar sobre quem é que se podiam contar histórias e quem é que as podia contar. Ao longo dos anos, insurgiu-se muitas vezes sobre a forma como filmes sobre pessoas negras muitas vezes não eram realizados por pessoas negras. 

Singleton não realizava filmes desde 2011, ano de Identidade Secreta, um filme de acção com Taylor Lautner. Em 2017, depois de ter realizado episódios de séries como BillionsEmpire American Crime Story e de ter sido produtor de Rebel, co-criou e tornou-se produtor executivo de Snowfall, uma série sobre a epidemia de crack na Los Angeles do início dos anos 1980. Foi também para a televisão que fez, em 2010, um documentário da série de desporto 30 for 30 sobre a atleta Marion Jones.

A seguir a Boyz n the Hood, assinou filmes como Poetic Justice (Fugir do Bairro), com Janet Jackson e Tupac Shakur – a relação com o rap não se fica por aí: foi o filme que inspirou o tema homónimo de Kendrick Lamar –, que contava também com poemas da escritora Maya Angelou, também actriz no filme, ou Higher Learning (Sementes de Raiva), com Omar Epps e Kristy Swanson. Também assinou o drama histórico sobre racismo O Massacre, de 1997. Em 1992 realizou um teledisco, algo próximo de uma curta-metragem, para Michael Jackson, Remember the Time, que se passava no antigo Egipto e tinha no elenco nomes como Eddie Murphy, Iman ou Magic Johnson.

Não é a única pessoa ligada a Boyz n the Hood a desaparecer nos últimos dias. Jessie Lawrence Ferguson, actor que fez de polícia corrupto em Boyz n the Hood, tinha morrido na sexta-feira à noite, aos 77 anos.

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