Investidores chineses com “algumas ideias” para fábricas em Portugal

Marcelo Rebelo de Sousa diz que Portugal é visto como “plataforma para a presença conjunta noutras economias” no terceiro dia da sua visita à China.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Cidade Proibida, em Pequim
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Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Cidade Proibida, em Pequim LUSA/MIGUEL A. LOPES
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O Presidente da República afirmou neste domingo que no seu encontro em Pequim com investidores chineses em Portugal ouviu “algumas ideias que têm a ver com fábricas, com indústrias, com o tal investimento na economia real” portuguesa.

“Isso é muito importante, porque era um dos objectivos deste contacto, era não ser apenas haver a compra de posições em empresas portuguesas, maiores ou menores, era instalar novas entidades produtivas. Sentiu-se que havia uma apetência, uma vontade de fazer isso. Isso é muito bom”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas durante uma visita à Cidade Proibida, em Pequim, sobre o jantar que teve no sábado com altos dirigentes dos principais grupos chineses com investimentos em Portugal, entre os quais China Three Gorges, State Grid, Fosun, Haitong.

“Eu desafiei cada qual a dizer como é que via a situação e que projectos tinham para o futuro. E todos falaram à vontade em frente de todos. Isto normalmente no mundo dos negócios não é habitual, que é dizer: olhe, eu tenho este projecto, eu tenciono fazer isto, eu estou a fazer aquilo. E havia algumas ideias”, relatou.

Segundo o chefe de Estado, “o juízo unânime” dos altos dirigentes de grupos chineses foi “muito positivo sobre a experiência em Portugal” e não houve queixas.

“De uma maneira geral, pensam que a economia portuguesa soube ultrapassar a fase crítica e entrar numa velocidade de cruzeiro que é importante para investidores. Por outro lado, estão muito empenhados em manter a sua presença e alargá-la a terceiros países. Quer dizer, em conjunto com Portugal estar presentes em países de língua oficial portuguesa”, referiu.

Portugal é visto como “plataforma para a presença conjunta noutras economias”, prosseguiu, dizendo que essa foi uma mensagem ouvida “da parte de todos”.

A lista de participantes neste encontro incluiu também dirigentes ao mais alto nível da empresa chinesa do sector da água Beijing Enterprises Water Group, do grupo agroalimentar COFCO e da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundada por Stanley Ho, do Banco da China, da empresa de construção CSCEC e da Tianjin EV Energies.

O Presidente da República adiantou que não se falou sobre o Porto de Sines, referindo que em relação a essa infraestrutura “há-de haver a definição das regras de abertura de concurso, e a abertura a todos os que quiserem, de todo o mundo concorrer”, como “o Governo tem dito várias vezes”.

“Portanto, não há nenhuma a abertura de concurso com fotografia a dizer: queremos o A, o B ou o C. Concorrem e o que tiver melhores condições ganha”, acrescentou.

Interrogado sobre a possibilidade de ser instalada em Portugal uma fábrica de mobilidade eléctrica, respondeu: “Vamos ver o que é que se concretiza e como se concretiza”.

A importância da língua portuguesa

Já num encontro com professores e agentes literários chineses, o Presidente da República sublinhou também a importância da língua portuguesa para a projecção de Portugal no mundo, durante uma visita oficial à China, onde 25 universidades têm licenciaturas em português.

“Não é possível separar Portugal da língua portuguesa. Há países que têm várias línguas, Portugal tem uma língua, fundamental para a sua projecção no mundo”, afirmou.

Citando Fernando Pessoa - “a língua portuguesa é a pátria portuguesa” - o Presidente disse querer que “a relação entre China e Portugal seja excelente não apenas na economia e nos contactos sociais, mas também na cultura”.

“Queria agradecer tudo o que têm feito pela língua portuguesa” afirmou, perante representantes de editoras chinesas como a CITIC, Comercial Press e Archipel, e responsáveis pelo ensino do português em universidades de Pequim e Xangai.

Até 1999, apenas a Universidade de Estudos Internacionais de Pequim e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai tinham licenciaturas em português.

Desde então, as instituições de ensino superior da China Continental a incluir licenciaturas em português aumentaram de três para 25. No total, mais de 1.500 estudantes chineses frequentam agora cursos em português.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda que a língua portuguesa é “partilhada por muitos outros países e comunidades espalhadas pelo mundo”, incluindo em Macau, território chinês outrora sob administração de Portugal.

“A ligação entre Portugal e a China é muito antiga e é muito intensa: conhecemo-nos muito bem e gostamos uns dos outros há muitos séculos”, disse.

A Harmonia Suprema de Marcelo

O terceiro dia da visita de Marcelo à China começou na Cidade Proibida, em Pequim, e após passar na Porta da Harmonia Suprema afirmou ser esse o ideal que corresponde à missão presidencial prevista na Constituição portuguesa.

“O papel do Presidente na Constituição de 1976 é um papel de construção da harmonia suprema”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas. “Um poder moderador”, acrescentou, a meio da visita ao complexo onde viveram 24 imperadores chineses das dinastias Ming e Qing, entre o século XV e o início do século XX.

O chefe de Estado percorreu a parte central da Cidade Proibida, de sul para norte, num espaço reservado para a sua comitiva, durante cerca de uma hora, tempo insuficiente para ver todo o complexo. No final proclamou: “É a primeira vez que venho aqui, não será a última”.

Junto ao Portão da Grandeza Divina, a saída norte, uma multidão de turistas amontoou-se atrás das baias para o ver passar, de braços no ar e telemóveis erguidos voltados para o Presidente português, que já se dirigia para o carro. Alguns dos visitantes, que eram maioritariamente chineses, bateram palmas, outros gritaram.

Marcelo Rebelo de Sousa acabou por fazer um desvio para cumprimentar brevemente alguns deles, mas a barreira linguística limitou a comunicação. Talvez por não ter a certeza de que soubessem quem era, o Presidente da República disse “Portugal” e deu alguns apertos de mão. Em menos de um minuto, entrou na viatura.

Embora relativamente curta, a visita foi guiada, com recurso a um intérprete, e as detalhadas explicações sobre a vida dos imperadores deixaram o chefe de Estado impressionado e suscitaram algumas reflexões sobre a visibilidade do poder político.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que “o imperador começou por ser invisível, ninguém o via, e depois pouco a pouco começou a ser visível, e no século XIX já ia assistir aos exames dos oficiais mais elevados do império, e aí finalmente esses oficiais podiam vê-lo face a face”.

A comunicação social logo lhe pediu que falasse também da actual “visibilidade” do poder político e o Presidente da República respondeu que há “uma exposição muito grande do poder político, o que significa que haverá porventura cada vez menos disponíveis para isso, porque significa pagar um preço o próprio e todos os que o rodeiam”.

“Por outro lado, significa também um escrutínio, quer dizer, um controlo do poder político muitíssimo mais apertado. O oposto do que acontecia no Império”, completou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “há hoje meios de acesso instantâneo ao que se passa na liderança do poder político” e “a dúvida é até onde é que isso irá ao longo do século XXI”.

Nesta visita, acompanharam-no os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte.

O chefe de Estado considerou que a Cidade Proibida “tem uma grandiosidade que mostra bem a importância do Império Chinês, que durou muitos séculos” e referiu que Portugal teve “muitas relações” com a China quando chegou ao Oriente. “É muito impressionante”, exclamou.

“Os Qing foram o auge para nós, curiosamente, quando tivemos uma série de jesuítas a viver aqui dentro, como o Tomás Pereira, que viveu aqui 40 anos, como conselheiro importante na música, na álgebra, na ciência e até diplomático”, assinalou o embaixador José Augusto Duarte.

No Livro de Honra, Marcelo Rebelo de Sousa deixou escrita a seguinte mensagem: “Ao visitar a Cidade Proibida, símbolo de uma cultura milenar, saúdo, em nome do povo português, a China e presto homenagem à sua história e ao seu povo, recordando muitos séculos de pacífica convivência com Portugal”.

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