O Inverno está a chegar também à guerra dos tronos espanhola

Sánchez alertou que ganhar pode ser perder; Iglesias avisou para os acordos pós-eleitorais entre PSOE e Cidadãos; Casado ofereceu lugares no Governo ao Vox; enquanto Rivera, eufórico, já se vê como líder da direita.

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Pablo Iglesias no comício de encerramento em Madrid RAFAEL MARCHANTE/Reuters

Pedro Sánchez, em Valência, afirmava que só os socialistas (PSOE) seriam capazes de impedir o lobo mau da extrema-direita de chegar ao poder, mobilizando o eleitorado para uma conclusão importante, ganhar pode ser perder: “Ganhar não significa governar”. Ao mesmo tempo que, em Madrid, no comício de encerramento de campanha do Unidas Podemos (UP), Pablo Iglesias, agitava outro medo à esquerda, o de que o primeiro-ministro venha a fazer aquilo que negou: uma coligação pós-eleitoral com o Cidadãos (Cs).

“Muita gente que pensava votar em Pedro Sánchez está a dar-se conta que o seu voto não é uma garantia”, disse o líder do UP. “É evidente que os poderes económicos e velhos sectores do Partido Socialista vão apostar nesse acordo”, acrescentou, garantindo que o único voto útil à esquerda é na sua formação política.

Apostando na cultura popular para ganhar citação nos jornais, Iglesias recorreu à série A Guerra dos Tronos para acentuar a ideia de que, com a possibilidade de a extrema-direita chegar ao poder ou influenciar o poder, o Inverno ameaça mesmo chegar: “Vamos ver se triunfam os caminhantes brancos ou se os bons ganham”.

Albert Rivera, que também encerrou a campanha do Cs em Valência, insistia naquele que tem sido o seu grande desejo de campanha, roubar a liderança da direita ao Partido Popular (PP), assumindo-se como o grande rival do líder socialista: “Nascemos para expulsar Sánchez e as personagens como Sánchez de La Moncloa”, sede do Governo.

O líder do Cs anda entusiasmado com a possibilidade de ganhar o campo da direita – o “roubo” do antigo presidente da comunidade madrilena, Ángel Garrido, que figurava como número quatro nas listas europeias do PP, foi guardado para esta semana, de modo a marcar o tom do último troço de campanha. Na sexta-feira, Rivera até vestiu os calções para correr 2,5 km e simular o sprint vencedor até à meta das urnas.

“O Cs está neste momento em empate técnico com o PP e inclusivamente com possibilidades de superar o PP em mandatos”, garantiu o líder do Cs esta sexta-feira.

Em contraste com a euforia de Rivera – que tem vindo a atacar o PP para roubar votos mais ao centro, como ficou demonstrado no tom agressivo no segundo debate na televisão –, Pablo Casado encerrava a campanha em Madrid com a mão estendida ao Cs e ao Vox para um Governo de coligação, liderado pelo PP e que inclua ministros dos outros dois partidos.

Incapaz de conter a sangria de eleitores para o partido de extrema-direita, Casado fez até um mea culpa, sublinhando que o partido aprendeu com os erros e mudou: “Que ninguém diga: ‘votaria em vocês, mas têm de mudar’. Já mudámos. Já corrigimos, Aprendemos com os nossos erros”.

Nas “eleições mais transcendentais da história da democracia” espanhola, em que “se joga a própria existência da nação”, o líder do PP abriu a porta aos tais caminhantes brancos de que falava Iglesias, porque para ele outro Inverno ameaça Espanha o dos “comunistas, independentistas e batasunos [em referência à esquerda independentista basca]”.

“O eleitor do VOX pedia ao PP o que estou a oferecer”, afirmou Pablo Casado, lançando depois uma mensagem directa ao coração dos espanholistas: “Vamos fazer com que esta Espanha unida volte a surpreender o mundo”.

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