Descobrindo o Peru

O Peru não é só Machu Picchu. É um país fabuloso, cheio de cultura, história e tradições.

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Viagem há muito nos meus planos, foi uma experiência de vida inesquecível. Depois de um voo de cerca de 11 horas de Madrid até Lima, capital do Peru, bem encostada ao oceano Pacífico, o primeiro impacto com a cidade não foi o melhor. O trânsito é caótico e assustador. Os carros “empurram-se”, tocam-se e a viagem continua como se nada fosse.

Fiz uma curta visita pelo centro histórico para apreciar a Praça de Armas, também conhecida por Praça Maior, e a basílica onde se encontram os Jesuítas e aí visitei uma bela biblioteca e as catacumbas, onde se encontram as ossadas de milhares de pessoas.

No dia seguinte, apanhei o voo para Juliaca, sobrevoando a cadeia montanhosa dos Andes, ainda com muita neve. O destino era Puno, uma pequena cidade, a cerca de 3800 metros de altitude onde, por vezes, uma simples caminhada pela rua deixa-nos cansados, devido à altitude, por isso, as pessoas mascam a folha de coca para minimizar a má disposição. No dia seguinte ia conhecer o lago Titicaca, situado na linha de fronteira da Bolívia com o Peru, que é povoado por variadas ilhas, algumas delas lendárias – como a Ilha do Sol, já no lado da Bolívia e que os incas acreditavam ser o berço do Pai Sol, habitadas por povos hospitaleiros como os de Taquile ou Amantaní.

O Lago Titicaca é o mais alto do mundo e está inserido numa região desértica, árida, no topo da maior cordilheira dos Andes. Segundo lendas andinas, as águas do Lago Titicaca deram origem à própria civilização inca.

Os Uros são as ilhas flutuantes artificiais sobre as águas do Lago Titicaca, feitas em juncos e que abrigam nativos peruanos e bolivianos. Muito simpáticos e hospitaleiros, os seus habitantes fazem interessante artesanato colorido, utilizando a lã das alpacas e das lamas. Desloquei-me num barco de junco até à pequena ilha de Santa Maria, também feita de junco.

Parei na Taquille para almoçar. Nesta ilha, a cerca de duas horas de barco de Puno e a 4050 metros de altitude, vivem cerca de 2 mil pessoas. É um dos lugares do Peru que mais preserva a sua cultura e tradições. Taquille foi uma agradável surpresa. Nela não existem estradas asfaltadas, nem veículos, nem mesmo bicicletas. Devido à altitude torna-se cansativo subir até ao povoado.

Os seus habitantes são mestres na arte da tecelagem e é habitual ver na rua homens nesse trabalho. Esta ilha mantém ainda muitas tradições centenárias e é possível saber pela forma como vestem e pelos gorros que usam o estado civil de cada um.

A esperança média de vida é uma das mais elevadas do Peru, chegando aos 85 anos. Isto deve-se muito à existência tranquila que levam e ao facto de 98% dos habitantes serem vegetarianos, alimentando-se principalmente do que a terra lhes dá: milho, batata, vagem e quinoa.

Uma curiosidade: não são permitidos cães na ilha. Dizem que não acrescentam nada ao bem-estar da comunidade, facto que certamente não será do agrado dos amigos dos animais.

A viagem continuou, agora para Cusco, antiga capital do Império Inca, num percurso de cerca de sete horas de autocarro, pelo Altiplano Peruano, com planícies a perder de vista. Depois de quase oito horas, de autocarro, desde Puno até Cusco, nas montanhas andinas, foi uma agradável surpresa esta cidade, situada no chamado Vale Encantado dos Incas. Quando em 1532 aqui chegou, o explorador espanhol Francisco Pizarro ficou impressionado com o património e as tradições que aqui encontrou e que, infelizmente, acabou por destruir. Merece uma visita a catedral, que reúne características do estilo gótico, renascentista maneirista e do barroco.

Em Cusco, surpreendeu-me a quantidade e qualidade de restaurantes vegetarianos, onde a quinoa impera. Não esperava, contudo, ver o porquinho-da-índia ser um petisco com tanta procura entre os peruanos. É um dos pratos mais famosos da cozinha andina, desde há mais de cinco mil anos. Frito ou assado, é de facto um bom petisco e com sabor a lembrar o leitão. No Peru, são chamados de cuye e é habitual vê-los empalados já cozinhados nos restaurantes junto à estrada.

No dia seguinte, bem cedinho, saímos de Cusco, tendo por roteiro o Vale Sagrado dos Incas e como destino a Ollantaytambo. Paramos em Pisac, onde visitamos as ruínas dessa antiga cidade inca. O seu local arqueológico é um dos mais importantes do Vale Sagrado dos Incas. A praça principal é um lugar cheio de cor, principalmente nas épocas festivas. Tivemos a sorte de assistir à procissão em honra da Virgen del Carmen. Espectáculo de cor e alegria, onde o sagrado e o profano se confundem,

Por sua vez, em Ollantaytambo o parque arqueológico impressiona. Fica quase dentro da cidade e bastam cinco minutos de caminhada para chegar lá. Do alto a vista sobre a cidade não deixa ninguém indiferente. Seguiu-se a caminhada inca de Cusco a Machu Pichu, em que passamos por Winay Wayna, também conhecida como Pequeno Machu Picchu, ruínas incas, que ficam já próximas de Machu Picchu, local sossegado e pouco frequentado, pois por lá só passam aqueles que fazem o caminho inca.

Viagem incrível onde muito certamente ficou por ver e que me fará um dia voltar a esta terra mágica.

Helder Taveira

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