É a primeira vez que acontece nas dez edições do Prémio Estação Imagem. O fotojornalista Leonel de Castro foi duplamente premiado com as mais importantes distinções do festival. A sua reportagem sobre cuidadores informais Almas deu-lhe o Prémio Estação Imagem 2019 Coimbra, o galardão mais cobiçado do único concurso de fotojornalismo e documental português. Já Mulher Berber, um fragmento da vida das mulheres muçulmanas em Marrocos, deu-lhe o prémio de Fotografia do Ano.

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O anúncio foi feito este sábado no Convento São Francisco, em Coimbra, cidade onde o prémio decorre pelo segundo ano consecutivo, depois de ter passado por Mora e Viana do Castelo. Leonel de Castro é fotojornalista na agência Global Imagens (do grupo Global Notícias, que inclui os diários Jornal de Notícias, Diário de Notícias ou O Jogo). 

Ao PÚBLICO, o presidente do júri, o editor de Fotografia Internacional da Agência France Presse (AFP), Stepháne Arnaud, explicou que o principal trabalho premiado “não era uma escolha óbvia”. Para o responsável, a série de imagens a preto e branco que capta o quotidiano dos cuidadores informais representa “uma verdadeira busca pela verdade”, resultando em fotografias “realmente íntimas”. É também um assunto que não é de “última hora, sobre o qual não se fala muito, que não está nas primeiras páginas dos jornais ou a abrir telejornais”, justifica. Ao mesmo tempo, é também um “cuidar dos idosos e dos doentes é uma problema das sociedades contemporâneas”, aponta. 

O trabalho premiado de Leonel Castro debruçou-se sobre “pessoas que abdicaram da sua carreira profissional para cuidar” dos seus. Almas retrata dez histórias de quem cuida de doentes a tempo inteiro e partiu de uma conversa com o escritor Mário Cláudio, que tinha sido professor do fotojornalista. Com este projecto, Leonel Castro quis “abalar consciências, nomeadamente dos nossos governantes” e apontar o foco para os cerca de 800 mil cuidadores informais que desempenham as suas funções com pouco ou nenhum apoio. 

O júri, do qual fazem também parte o fotógrafo da agência Reuters Darrin Zammit, pelo fotógrafo George Steinmetz (National Geographic e Geo) e por Michael Kamber, director do Bronx Documentary Center, atribuiu ainda menções honrosas, na categoria de Fotografia do Ano, a Gonçalo Lobo Pinheiro por Esperança e Crença (que retrata Ratna Khaleesy, uma indonésia muçulmana de 39 anos que vive em condições precárias em Macau) e a Óscar Corral por Transfer (o nome dado ao transbordo de migrantes, como mercadoria humana, no mar). 

O Prémio Europa, uma categoria criada este ano para divulgar o património cultural europeu, foi entregue a Romeiros, de Rui Oliveira (colaborador da Global Imagens), uma reportagem sobre um grupo de peregrinos que percorrem os trilhos da Ilha de São Miguel, nos Açores, durante uma semana e 300 kms. O fotojornalista tinha já sido premiado no ano passado, por exemplo, na secção Vida Quotidiana. ​

O fotojornalista da Agência Lusa Mário Cruz, que já venceu uma das categorias do concurso World Press Photo em 2016 com Talibés, Escravos dos Tempos Modernos e foi também o grande vencedor do Estação Imagem de 2016, este ano está novamente na lista dos premiados em Coimbra. O seu trabalho Viver entre o que é deixado para trás, sobre a sobre-povoação entre a poluição e o lixo do rio Pasig, em Manila, é o distinguido na categoria Ambiente – é também com este trabalho que o fotojornalista esteve entre os finalistas da edição deste ano World Press Photo e ficou com o terceiro lugar no importante concurso internacional.

O fotojornalista do site Observador João Porfírio foi o vencedor na categoria Notícias com A Imagem do Terror tem Som, uma reportagem sobre os incêndios de Monchique. O fotógrafo Rodrigo Cabrita, já premiado pelo Estação Imagem em 2014, passou um mês no Instituto Português de Oncologia (IPO) tentando captar várias perspectivas d’A Doença Maldita e esse trabalhou deu-lhe o prémio na secção de Assuntos Contemporâneos – na mesma, Gonçalo Fonseca recebeu uma menção honrosa por Bazar de Órgãos. Nas palavras de aceitação do prémio, Rodrigo Cabrita lembrou a precariedade no sector, lembrando que se tornou freelancer na sequência de um despedimento colectivo no jornal i, onde trabalhava. Apesar de não ter sido incluído no grupo a despedir, foi-lhe proposta a redução do salário, que recusou. 

Volta ao Mundo de uma Família Açoriana é a vencedora da categoria Vida Quotidiana, uma reportagem de Arlindo Camacho, fotógrafo freelance que colabora com publicações como as revistas Visão ou TimeOut, feita em Janeiro de 2018 em Bali em torno da viagem de circum-navegação à vela de uma família de quatro pessoas. Na secção Arte e Espectáculos Octavio Passos foi galardoado com É uma questão de Fé – Semana Santa de Zamora. O mesmo fotojornalista freelance foi premiado na secção de Desporto pela fotografia de surf no Canhão da Nazaré. Dentro do Ringue, de Eduardo Leal, mereceu uma menção honrosa na mesma categoria.

Na secção dedicada às séries de retratos, Ricardo Lopes (colaborador da Global Media e do PÚBLICO) foi escolhido pelo júri por Torre – Viver na escuridão, uma reportagem sobre a comunidade são-tomense no Bairro da Torre, às portas de Lisboa. Encarnados, de Tono Arias, teve uma menção honrosa nessa categoria.

Anualmente, o Estação Imagem atribui também uma bolsa e este ano a distinguida foi a fotojornalista Ana Brígida, com Inland, cujo resultado será publicado em livro e tem direito a uma exposição. O projecto será sobre a nova vaga de estrangeiros que se fixaram no interior distrito de Coimbra, criando comunidades em zonas marcadas pelo despovoamento. 

As exposições programadas do Estação Imagem tiveram início no passado dia 23 de Abril e estão de portas abertas até dia 21 de Junho. As fotografias vencedoras desta edição do prémio vão ficar em exibição na Galeria Pedro Olayo (Filho), no Convento São Francisco, de 28 de Junho a 31 de Julho.