Não vão à igreja nem à mesquita, pedem líderes cristãos e muçulmanos do Sri Lanka

Há receio de novos ataques. Presidente disse que a polícia procura 140 pessoas que estarão ligadas ao Daesh, o grupo extremista islâmico que reivindicou a responsabilidade pelos atentados suicidas do domingo de Páscoa.

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Nos atentados morreram 235 pessoas Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA

Os muçulmanos e os cristãos do Sri Lanka foram avisados para se manterem longe das mesquitas e igrejas, e para rezarem em casa, depois de os serviços secretos do país terem lançado um alerta sobre um possível atentado com carros armadilhados que estará a ser planeado como retaliação contra o ataque de domingo de Páscoa, que matou 253 pessoas.

A embaixada dos EUA em Colombo também apelou aos seus cidadãos para evitarem os locais de oração este fim-de-semana, depois de as autoridades terem dito que pode haver mais ataques contra igrejas ou mesquitas.

O Sri Lanka mantém-se em alerta máximo após os ataques suicidas contra três igrejas e quatro hotéis, que também deixaram cerca de 500 pessoas feridas.

Quase dez mil soldados foram destacados em todo o país para garantirem a segurança nos vários centros religiosos.

Os receios de violência sectária em resposta aos atentados do domingo de Páscoa já levaram à fuga de muçulmanos das suas casas, com medo de atentados à bomba e outras ameaças.

A principal organização religiosa muçulmana do Sri Lanka, a Jamiyathul Ullama, apelou aos muçulmanos que rezem em casa esta sexta-feira, “para o caso de haver necessidade de protegerem as suas famílias e propriedades”.

O cardeal Malcolm Ranjith também apelou aos padres que não digam missa nas igrejas até recomendações em contrário. “A segurança é importante”, disse o responsável.

A polícia deteve pelo menos 76 pessoas, incluindo estrangeiros da Síria e do Egipto.

O Daesh não apresentou provas que confirmem a sua revindicação, mas se confirmar, será um dos ataques mais mortíferos de sempre do grupo extremista islâmico fora do Iraque e da Síria.

Na terça-feira, o Daesh divulgou um vídeo em que surgem oito pessoas, sete delas com a cara tapada, em frente à bandeira negra do grupo e a declararem lealdade ao líder, Abu Bakr Al-Baghdadi.

Demissões na polícia

O Governo do Sri Lanka disse que o atentado foi executado por nove bombistas suicidas nascidos no país, a maioria com estudos acima da média, oito dos quais já foram identificados, incluindo uma mulher.

O Presidente, Maithripala Sirisena, disse aos jornalistas esta sexta-feira que alguns jovens cingaleses envolveram-se com o Daesh desde 2013. O responsável disse que 140 pessoas estarão ligadas ao grupo extremista.

“A polícia está à procura deles para os deter”, disse Sirisena.

Até agora, as autoridades focaram as investigações nas ligações internacionais a dois grupos islamistas locais – o National Thawheed Jama'th e o Jammiyathul Millathu Ibrahim.

Os responsáveis do Governo admitiram que cometeram uma falha grave ao não partilharem os alertas de ataque emitidos pela Índia. O Presidente disse que os responsáveis máximos da Defesa e da polícia não lhe enviaram essa informação.

O secretário da Defesa, Hemasiri Fernando, demitiu-se na sequência dessa falha. “E o chefe da polícia disse que vai apresentar a sua demissão”, anunciou Sirisena.

O Presidente cingalês acusou o Governo do primeiro-ministro Ranil Wickremesingh de enfraquecer o sistema de informações ao focar-se na acusação de militares por alegados crimes de guerra durante a guerra civil com os separatistas Tamil.

Sirisena despediu Wickremesinghe em Outubro, por causa de divergências sobre política externa, mas reverteu essa decisão semanas depois por pressão do Supremo Tribunal.

Os grupos fiéis a cada um dos governantes têm-se recusado a comunicar entre si e acusam-se mutuamente por qualquer problema, dizem fontes governamentais citadas pela Reuters.

Os atentados do domingo de Páscoa destruíram a relativa calma que existia no Sri Lanka desde o fim da guerra civil contra os separatistas Tamil, de maioria hindu, há uma década.

Entre os 22 milhões de habitantes do Sri Lanka há minorias cristãs, muçulmanas e hindus, e uma maioria budista, na qual existem grupos de extrema-direita que se manifestam violentamente contra as minorias religiosas. Até agora, os cristãos têm conseguido manter-se à margem das maiores tensões no país.

A maioria das vítimas são cidadãos do Sri Lanka, mas há pelo menos 38 mortos estrangeiros, muitos deles turistas que estavam a tomar o pequeno-almoço nos hotéis. Entre as vítimas mortais está um cidadão português, mas também britânicos, norte-americanos, australianos, turcos, indianos, chineses e dinamarqueses.

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