Memorando de Tancos foi entregue ao chefe de gabinete de Costa

Um ano depois de ter sido recebido na Defesa pelo general Martins Pereira, chefe de gabinete do ministro Azeredo Lopes, documento chegou a São Bento.

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O major-general Tiago Vasconcelos no Parlamento LUSA/MÁRIO CRUZ

O denominado memorando de Tancos foi entregue pelo assessor militar do primeiro-ministro ao chefe de gabinete de António Costa, confirmou na tarde desta quarta-feira o major-general Tiago Vasconcelos na comissão parlamentar de Tancos.

“Conversámos no dia 11 de Outubro de 2018 sobre toda esta coisa e, na manhã seguinte deu-me uma cópia do documento, um documento sem timbre e sem data.” Este é o relato de uma reunião do oficial Tiago Vasconcelos com o então chefe de gabinete do ministro da Defesa Nacional, general Martins Pereira, depois do advogado deste ter revelado a entrega do documento no DCIAP [Departamento Central de Investigação e Acção Penal].

Na posse deste documento, o assessor militar de Costa passou-o de imediato, a 12 de Outubro, a Francisco André, chefe de gabinete do primeiro-ministro. “Falei, mostrei e entreguei o documento”, assegurou. Naquela mesma tarde, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, demitiu-se.

O militar não teve resposta assertiva para estabelecer uma relação de causa e efeito entre a chegada do documento a São Bento e a demissão na Avenida da Ilha da Madeira, onde está a sede do Ministério da Defesa. Nem de qualquer feedback do primeiro-ministro, até porque depois da demissão do ministro da Defesa e da nomeação do seu sucessor, ocorreu também a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército.

Na fita do tempo, segundo declarações suas aos deputados, Martins Pereira recebera a 20 de Outubro de 2017 o memorando das mãos do coronel Luís Vieira, então director-geral da Polícia Judiciária Militar (PJM), e do investigador major Vasco Brazão. A existência deste documento só foi revelada após a Operação Húbris, que levou à desmontagem do achamento na Chamusca do material roubado em Tancos e à prisão de ex-militares, agentes da GNR e da então cúpula da PJM. E os seus efeitos, com as demissões do ministro Azeredo e do general Rovisco Duarte, só ocorrem um ano depois.

Quanto ao conteúdo do documento, o major-general Tiago Vasconcelos foi sucinto e claro: “Sem o enquadramento de ter sido levado a um general que eu conhecia [Martins Pereira], sem timbre, sem assinatura, lendo-o a frio é um documento altamente hipotético, tem uma credibilidade bastante limitada.”

O assessor militar de Costa, em funções desde Maio de 2018, já depois do roubo e do achamento do material furtado, revelou que “Tancos não foi assunto com o primeiro-ministro”, como já afirmara o seu antecessor no cargo, vice-almirante José Alfredo Montenegro. E garantiu que António Costa não sabia da encenação da recuperação.

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