O meu contributo para um mundo mais sustentável

Há pouco tempo li que não precisamos de um grupo de pessoas a viver com impacto zero, mas sim milhões de pessoas a fazê-lo de forma imperfeita. Não podia concordar mais com esta frase.

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Elyse Turton/Unsplash

Nasci e fui criada em Lisboa, numa altura em que reciclagem e a compostagem não eram uma preocupação nem matéria para incentivo. Cresci numa época em que se começava a ouvir falar da necessidade de separar o lixo, mas sem a preocupação de que era preciso produzir menos lixo e consumir de maneira mais responsável. A minha mudança para Londres há cinco anos, sem saber falar muito bem inglês, sem conhecer a cultura ou mesmo sem saber o que faria no futuro com um curso de design gráfico, ajudou formar a minha personalidade, os meus valores e a ser o que sou hoje, seja na minha vida pessoal ou profissional.

Sou desde sempre uma apaixonada pela natureza, mas o facto de ter começado a rejeitar carne despertou-me para a necessidade de preservar não só a natureza como também o meu corpo. Cresci a comer muita carne sem que isso fosse questionado, pelo menos até ao momento em que me apercebi que a minha alimentação estava a fragilizar e a danificar a minha saúde. Tentei encontrar respostas e perceber porquê. Pesquisei a indústria do leite, da carne e de todos os produtos animais. Sem nunca ter questionado o impacto das minhas escolhas alimentares, encontrei respostas e revelações que me levaram a deixar de comer qualquer tipo de produto animal. Hoje em dia, com o conhecimento que tenho, nem me cresce água na boca quando olho para um suculento prato de carne. 

Com esta mudança, a prática de questionar constantemente as minhas acções passou a fazer parte da minha rotina. Comecei a considerar e analisar os meus materiais de trabalho, as marcas e as quantidades absurdas de roupa que comprava mensalmente, a quantidade abismal de lixo que produzia, os químicos que inconscientemente colocava diariamente no meu corpo, fosse através de cremes, maquilhagem ou mesmo um simples bâton de cieiro. A minha atitude mudou até com o número de viagens que fazia a Portugal, convencendo-me a mim mesma de que as três horas de viagem e os preços acessíveis não eram um problema nem distância suficiente para me afastar da família.

A verdade é que mudar o nosso estilo de vida não é fácil e requer bastante força de vontade para prescindir do conforto, do que nos parece ou é acessível. Transformar uma simples ida a um supermercado numa visita a um mercado livre de plásticos ou fazer compras na loja da Maria Granel parece-me simples e apetecível. Ter uns quantos jarros de vidro ou usar sacos de pano em vez de sacos de plástico funciona e dura bastante mais tempo, sem o risco de acabar nas nossas maravilhosas praias.

Todos os dias surgem novas marcas com produtos sustentáveis e inovadores. Das escovas de dentes de bambu, a desodorizantes orgânicos ou a pensos higiénicos reutilizáveis, gosto de ter a certeza de que estou a investir no produto certo e inofensivo para o meu corpo ou ambiente. As alternativas até podem ser ligeiramente mais caras do que os produtos de um qualquer supermercado, mas com um pouco de criatividade e pesquisa na Internet é possível aprender a fazer pasta de dentes, maquilhagem ou mesmo creme para o corpo, o que torna tudo mais simples e barato do que nunca. Felizmente há cada vez mais pessoas a procurar estas alternativas, mesmo que a inovação pareça apenas que estamos a adoptar apenas alguns hábitos de gerações antigas. 

Muitas vezes perguntam-me como é que faço para jantar fora, argumentando que a comida dos restaurantes também vem em plástico. É verdade e é importante referir que é quase impossível ter zero impacto ambiental, principalmente vivendo numa cidade. É nosso dever estarmos conscientes de como podemos reduzir este e outros impactos ambientais. Há pouco tempo li que não precisamos de um grupo de pessoas a viver com impacto zero, mas sim milhões de pessoas a fazê-lo de forma imperfeita. Não podia concordar mais com esta frase.

Acredito que todos estamos numa jornada de aprendizagem, mas que todos aprendemos a velocidades e em alturas diferentes da vida. O que realmente importa é fazer o máximo que nos é possível, considerando as circunstâncias de cada um. Tenho aplicado esta teoria na minha vida. Por causa do impacto ambiental dos aviões, decidi mostrar a mim mesma, e a quem me segue nas redes sociais, que é possível ir de Londres a Lisboa usando apenas autocarros ou comboios, de modo a reduzir as emissões de carbono desta viagem. Não foi uma aventura fácil. Demorei 47 e 32 horas de viagem para cada lado, mas no final, e para além da satisfação do desafio alcançado, fiquei com a certeza de que sempre que a vida e o tempo me permitirem vou arranjar uma alternativa ao avião. Sempre com a minha marmita e utensílios reutilizáveis para não poluir ou comprar refeições embaladas em plástico.

Acredito que com o passar do tempo cada vez mais pessoas fiquem despertas para a necessidade de arranjar alternativas que a longo prazo melhoram o nosso planeta, a nossa saúde e o nosso desenvolvimento enquanto sociedade. Esta reflexão apenas fará sentido se a minha história influenciar ou motivar alguém da mesma maneira como tantas outras me influenciaram a mim. 

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