Estimulação eléctrica devolve movimentos a pacientes com Parkinson

O tratamento tem ajudado vários pacientes a recuperar as duas capacidades motoras através da estimulação da medula espinhal.

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Imagem de computador de um cérebro de um doente com Parkinson evr Enric Vives-Rubio

Um tratamento-piloto desenvolvido por uma equipa de cientistas da Universidade de Western, em Ontário, no Canadá, foi capaz de devolver os movimentos a alguns pacientes que foram diagnosticados com doença de Parkinson crónica, noticia a BBC esta segunda-feira.

O estudo, apresentado no 21º Congresso Internacional da Doença de Parkinson e dos Distúrbios do Movimento, em 2017, sugeria que a estimulação eléctrica da medula espinhal poderia aumentar significativamente a possibilidade dos pacientes de realização actividades diárias, ao mesmo tempo que diminuía os episódios de congelamento da marcha.

Depois de testado, o método fez com que alguns pacientes que estavam anteriormente internados em casa fossem capazes de andar mais livremente. O potencial do tratamento já foi realçado por várias organizações ligadas à doença, uma vez que, se se provar eficaz, resolverá um aspecto do Parkinson que ainda não tinha cura.

À BBC, o director da Fundação Nacional para o Parkinson no Centro de Ciências da Saúde de London, em Ontário, Mandar Jog, afirma que os resultados do método nos paciente vão além dos seus “sonhos mais loucos”.

“A maior parte dos nossos pacientes tem a doença há 15 anos e nunca caminhou com confiança. A evolução de estarem presos em casa e de apresentarem um grande risco de quedas até conseguirem viajar ou ir ao shopping é notável”, refere o investigador, também docente na Universidade de Western.

Grande parte dos pacientes com Parkinson demonstra mais dificuldades em andar à medida que a doença avança, sendo que é muito comum que tenham episódios de congelamento de marcha ou que caiam. 

Do cérebro às pernas

A actividade normal de caminhar envolve uma troca de instruções entre o cérebro e as pernas:​ o cérebro dá a ordem para que as pernas se mexam e só quando esse movimento for concluído é que é enviada a instrução para a próxima tarefa.

Mandar Jog acredita que a doença de Parkinson reduz os sinais que voltam ao cérebro quando a actividade está concluída, quebrando o ciclo de instruções e fazendo com que o paciente não consiga andar. O implante desenvolvido pela equipa de investigadores amplia esse sinal, permitindo que o paciente ande normalmente.

Ao canal britânico, o professor explica que ficou surpreendido ao perceber que o tratamento era duradouro e que funcionava mesmo quando o implante estava desligado.

“Esta é uma terapia de reabilitação completamente diferente. Nós achávamos que os problemas de movimento ocorreriam em pacientes com Parkinson porque os sinais do cérebro para as pernas não estavam a ser transmitidos, mas parece que são os sinais que deviam voltar ao cérebro que estão degradados”, explica.

O que a equipa concluiu, depois de alguns meses de tratamento, é que, antes de os pacientes receberem os estímulos eléctricos, as áreas que controlavam o movimento não funcionavam adequadamente, mas depois de alguns meses essas áreas pareciam restauradas.

"Agora posso andar muito melhor"

Gail Jardine, uma cidadã canadiana de 66 anos, está entre os pacientes que beneficiaram do tratamento. Antes de receber o implante, há dois meses, Gail tinha vários episódios de congelamento de marcha e caía várias por dia.

“Agora posso andar muito melhor. Não caio desde que comecei o tratamento e isso deu-me mais confiança. Estou ansiosa para dar mais passeios com o [marido] Stan ou talvez até fazê-lo sozinha”, conta à BBC.

Segundo o site MDedge, especializado em avanços tecnológicos nos campos na neurologia e da neurociência, este grau de independência verificou-se em quase todos os pacientes que foram expostos ao tratamento. Por exemplo, um paciente não precisou mais da sua cadeira de rodas para se movimentar; outro conseguiu retomar o seu trabalho na agricultura; e outro pôde, finalmente, caminhar numa praia.

“Todos melhoraram em diferentes níveis, mas a mudança ocorreu de forma imediata no laboratório”, refere Mandar Jog à revista.

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