Os desafios da ria de Aveiro

O leitor Jacinto Guimarães partilha a experiência dos seus passeios semanais pela zona lagunar do concelho de Ovar e terras vizinhas.

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Ao contrário de uma “viagem de uma vida”, que deixa impressões gravadas na memória para sempre, este apontamento pretende mostrar como um grupo de amigos, fazendo da bicicleta um elo de união (rotina que já leva mais de uma década), experimenta semanalmente sensações sempre renovadas num território por eles bem conhecido – o concelho de Ovar e terras vizinhas. O número de participantes do grupo pode variar, mas o dia não: é sempre à sexta!

Quando se fala da ria de Aveiro a primeira atenção do turista volta-se para a cidade que lhe dá o nome. Um passeio de barco moliceiro por canais que são sua “imagem de marca”, ou visita a uma das salinas que restam como cartaz turístico, é programa de interesse irrecusável. Mas esta crónica pretende tão-só mostrar experiências vivenciadas ao longo dos esteiros norte da ria, entre o Carregal (Ovar) e São Jacinto, com Torreira e Murtosa atadas à elegante Ponte da Varela... Nenhum visitante se arrependerá se um dia lhes seguir o trilho.

Para quem utiliza a bicicleta, um dos grandes trunfos da região é estar dotada de uma extensa rede de ciclovias, agora em expansão através do programa Cicloria. Talvez por isso, a Murtosa é o concelho do país onde a população (16,2%) é rainha no uso da bicicleta. E os parques de “biclas” das suas escolas são, por si só, um espectáculo.

A ria de Aveiro é atraente não apenas pela beleza da sua paisagem natural mas também pelos recantos que desafiam o visitante à sua descoberta. Tal como os protagonistas deste grupo fazem das suas viagens ciclísticas uma aventura sempre renovada, nenhum visitante fica indiferente à diversidade natural da laguna. Qualquer que seja o meio de transporte utilizado...

O prateado das águas na maré-cheia, exuberante neste tempo de Primavera, os extensos sapais que servem de ligação entre canais de águas minguadas e os terrenos de cultivo circundantes, a fauna que os habita, cíclica ou permanentemente, como a garça-branca e a andorinha do mar. Ou as colónias de garça-vermelha, raras em Portugal. E não escapam ao olhar mais descuidado os muitos ninhos de cegonhas brancas que vêm nidificar nas margens dos sapais... Irresistível!

Os numerosos cais recentemente reabilitados ao abrigo do programa Polis da Ria de Aveiro – desde o Cais da Pedra, em Ovar, até ao Cais do Bico, na Murtosa –, muitos deles pejados de barcos de pesca e de recreio, são atracção de paragem obrigatória.

À volta destes locais, há sítios e recantos que nunca cansam, seduzindo-nos a parar. E colam à pele do passeante a vontade de voltar. Seja turista ou mero curioso...

O exotismo da paisagem é um íman para os amantes de fotografia, que têm nestes braços da ria uma diversidade de oportunidades estéticas únicas. Seja ao raiar da aurora ou ao pôr do sol. José Polónia, “fotógrafo do grupo”, não perde um ângulo desta oferta da natureza.

A ria de Aveiro tem o mar à ilharga, o que reforça o leque de atracções e oportunidades ao dispor do visitante. Muitas vezes nos cruzamos com turistas entusiasmados com a arte xávega, ainda em uso nestas paragens, ou bronzeando-se ao sol nos extensos areais das praias dos Marretas, da Torreira ou de São Jacinto.

Quem se aventura à descoberta destes recantos burilados por artes ancestrais não mais esquecerá a experiência. Como se de uma das tais viagens de “uma vida” se tratasse.

E para satisfazer o prazer gastronómico, o visitante encontra nesta região piscatória muitos restaurantes onde pode saborear pratos típicos, sejam de enguias, de lampreia ou sardinha assada. Depende da época e dos gostos de cada um.

Este é um testemunho dos “ABC- Amigos Bué Cansados”.

Até sexta (se não chover).

Jacinto Guimarães

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