“Klopp twist”: revolução no Liverpool, pela mão do alemão “louco”

“Doido”, “louco” ou “estranho” são algumas das palavras usadas para definir o carismático treinador que recolocou o Liverpool no topo da Europa. Três anos de Klopp foram três anos de “revolução”.

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De sorriso largo ou em plena descarga de raiva, Klopp é dos treinadores mais carismáticos do Mundo. DR

O desenrolar da história do Liverpool estava a tornar-se um “filme” monótono, triste e sem emoção, que espoletava a ira dos exigentes adeptos de Anfield Road. Solução: um “plot twist” à moda alemã e, com Jurgen Klopp, o Liverpool voltou a ser o Liverpool.

Em cerca de três anos, o treinador alemão transformou uma equipa curta para chegar, sequer, ao top-4 da Liga inglesa numa das favoritas a conquistar o campeonato e candidata segura a lutar pela Champions. Provou, em três anos, que não só é um excelente motivador, como sabe dotar a equipa de ferramentas tácticas interessantes. Esta é a “fotografia geral” do “Klopp twist”, que celebrou, no fim-de-semana, o jogo 200.

“Doido”, “louco” ou “estranho” são algumas das palavras usadas para definir o treinador do Liverpool. Eufórico nos festejos dos golos, quase sempre sorridente e um incurável adepto do desportivismo, Klopp conquistou os ingleses com o seu carisma e excentricidade e recolocou o Liverpool no topo da Europa, depois de passagens por Mainz e Borussia Dortmund.

Para fazer “zoom” ao percurso do alemão em Liverpool é preciso perceber o que é que este técnico herdou. Em Outubro de 2015, Klopp substituiu Brendan Rodgers, herdando uma equipa que estava no décimo lugar do campeonato e que continuava o descalabro da sexta posição da temporada anterior. O plantel parecia ser não só incapaz de lutar pelo título como de lutar, sequer, pelo top-4.

Um bom lugar na Liga inglesa já não era fácil de recuperar, mesmo ainda sendo Outubro, pelo que Klopp se focou nas outras competições, chegando à final da Taça da Liga inglesa e da Liga Europa. Na primeira, houve desilusão nos penáltis, frente ao Manchester City. Na segunda, houve desilusão após um colapso na segunda parte, frente ao Sevilha. No entanto, em poucos meses, um Liverpool “moribundo” passou a Liverpool na luta por títulos. E isso, por si só, já tinha dedo de Klopp.

No ano seguinte, o primeiro de “full Klopp”, houve mais um passo na recuperação: o Liverpool reentrou no top-4 inglês, regressou à Liga dos Campeões e, acima disso, mostrou futebol atractivo. Os muitos golos marcados eram contrabalançados pelos problemas defensivos, mas a evolução estava lá: para além dos bons resultados, Klopp operou, em menos de dois anos, uma revolução que, em 2019, ainda tem efeito: saíram nomes como Skrtel, Benteke, Sakho, Leiva ou Joe Allen e chegaram jogadores como Mané, Salah, Matip, Oxlade-Chamberlain, Robertson ou Wijnaldum.

Tudo isto foi suficiente para valer a ida à final da Champions, no ano seguinte, e foi aí que apareceu Loris Karius a provar que nem todas as contratações de Klopp foram acertadas. O guarda-redes, que Klopp conhecia dos tempos da Bundesliga, estragou aquele que poderia ser o atestar definitivo do “Klopp twist”: em 2018, na final da Champions, entregou o título europeu ao Real Madrid, colocando, de forma bizarra, a bola nos pés Benzema, primeiro, e empurrando um remate de Bale para dentro da baliza, depois.

Gegenpressing e trabalho com jovens

Apesar da final da Liga dos Campeões e do recorde de golos de Salah – que liderou um trio, com Mané e Firmino, responsável por uns incríveis 91 golos na temporada –, o Liverpool europeu e de topo inglês precisava, ainda, de um “patrão” na defesa e, claro, de um guarda-redes de gabarito. Os pedidos foram cumpridos e o Liverpool gastou valores-recorde nas contratações de Alisson e Van Dijk, além dos “retoques” feitos com Fabinho, Keita e Shaqiri, com a missão de contornar as partidas de Coutinho e Emre Can.

Por outro lado, Klopp conseguiu, ainda, desenvolver talento jovem, juntando-o aos milhões gastos no mercado e ao descobrir de um Firmino goleador. Alexander-Arnold e Robertson são, actualmente, dois dos melhores laterais do mundo e o próprio Joe Gomez, apesar dos problemas físicos, fixou-se como um possível tremendo parceiro para Van Dijk. Tudo dedo de Klopp.

Mais. O alemão dotou o Liverpool daquele que começou a ser apelidado “gegenpressing”: em traços gerais, uma pressão ao contra-ataque adversário, suportado pela avidez na procura de recuperar a bola quando o adversário tenta sair em transição, transformando um contra-ataque adversário num ataque do Liverpool. Um Liverpool dominador e, a espaços, asfixiante.

Agora, o Liverpool lidera a Liga inglesa e está perto das meias-finais da Champions. Um clube 18 vezes campeão inglês e cinco vezes campeão europeu está há 28 anos sem vencer internamente. Graças ao “Klopp twist”, o jejum nunca esteve tão perto de terminar.

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