Tusk aos eurodeputados: os britânicos não podem ser tratados como de “segunda categoria”

Presidente do Conselho Europeu foi explicar a Estrasburgo os motivos que levaram líderes a conceder novo adiamento do prazo do “Brexit”.

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Donald Tusk YVES HERMAN/Reuters

Na última sessão plenária do Parlamento Europeu em Estrasburgo, o impacto político da decisão de um novo adiamento da data do “Brexit” para 31 de Outubro foi por demais evidente, e valeu mesmo um “sermão” do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que se dirigiu aos eurodeputados que têm exprimido o seu receio e a sua preocupação pelo regresso da delegação britânica após as eleições para o Parlamento Europeu.

Os futuros membros eleitos no Reino Unido “terão os seus direitos e as suas obrigações como todos os outros”, lembrou Tusk, “e não devem em caso algum ser tratados como de segunda categoria”, avisou.

“Gostaria de lembrar a todos que o Reino Unido tem o direito mas também a obrigação de participar na eleição europeia enquanto for membro da UE. Isso não é nem será objecto de negociação. E é por isso que não posso aceitar que se fale numa segunda categoria”, afirmou Donald Tusk, depois de alguns eurodeputados terem manifestado o seu incómodo com o prolongamento da indefinição que mantém os britânicos com um pé dentro mas a cabeça de fora da UE. “Até posso perceber os interesses partidários, mas eles não podem sobrepôr-se à realidade jurídica”, criticou.

Os presidentes do Conselho e da Comissão Europeia viajaram até Estrasburgo para dar conta aos eurodeputados das conclusões da cimeira extraordinária de líderes dedicada ao “Brexit” — e explicar os argumentos que justificaram a decisão de conceder ao Reino Unido um novo prazo de seis meses para fechar as negociações políticas internas e aprovar o acordo de saída da União Europeia.

Ou não: como bem lembrou Donald Tusk, durante este prazo, o Governo, os legisladores ou os eleitores britânicos poderão concluir que a melhor solução para o impasse é reverter a decisão e permanecer na UE. “Não devemos ceder ao fatalismo. Eu pelo menos continuo a sonhar com uma Europa melhor e mais integrada”, disse. 

A eventual revogação do artigo 50 pelo Reino Unido não é, contudo, uma “hipótese de trabalho” para Juncker — como também não é a de um terceiro adiamento do “Brexit”, dentro de seis meses. “Não me parece que depois de 31 de Outubro seja possível uma nova extensão. Se o acordo de saída não tiver sido ratificado até aí, teremos o ‘Brexit’ abrupto que todos queremos evitar”, concluiu.

Mas antes de lidar com esse precipício, as instituições terão de lidar com as eleições para o Parlamento Europeu e o retorno dos 73 eurodeputados do Reino Unido. “A mensagem do dia é esta: eu vou voltar, e muitos outros como eu vão voltar”, sublinhou o campeão do eurocepticismo britânico, Nigel Farage, antecipando já um reforço da bancada da Europa das Liberdades e da Democracia Directa depois das eleições.

Outra bancada que deverá beneficiar com a realização das eleições no Reino Unido é a dos Socialistas e Democratas, que com a representação do Partido Trabalhista será mais competitiva face ao dominante Partido Popular Europeu. O grupo do PPE está dividido quanto à avaliação dos efeitos do “Brexit”, com os representantes franceses e espanhóis a mostrarem-se mais relutantes. “Ninguém deseja um ‘Brexit’ duro, mas ainda pior do que isso é um ‘Brexit’ indefinido e sem data”, comparou o eurodeputado espanhol do PP, Esteban González Pons.

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