“Brexit” incerto, banca por consolidar e Angola por capitalizar

Barómetro trimestral da Ordem dos Economistas

A Ordem dos Economistas (OE) apresenta novamente o seu barómetro trimestral, fonte exclusiva de informação sobre a perceção dos nossos membros (economistas e gestores) sobre os mais variados assuntos da Economia portuguesa.

Tendo adotado um novo formato centrado nos acontecimentos da atualidade e que permite uma maior dinâmica dos temas em análise, é resultado da síntese obtida através de cerca de 600 contributos e, neste primeiro barómetro de 2019, integra as principais questões relativas aos temas da Europa (“Brexit” e Eleições Europeias), da banca portuguesa e das relações com Angola.    

Relativamente ao primeiro tema, os membros da OE definiram que as três prioridades para a União Europeia no próximo mandato deveriam centrar-se em torno do desenvolvimento económico ao nível do emprego, do crescimento e do investimento, definindo esta como a sua prioridade. Em seguida, os membros da OE acreditam que o futuro passará por uma união económica e monetária reforçada e mais justa, bem como pela reafirmação do papel fundamental da UE no panorama mundial.

A incerteza inerente ao “Brexit” é notória nas respostas às questões que abordam o tema. De um modo geral, é partilhada uma indefinição quanto ao modo como irá ocorrer a saída e, apesar de todas as previsões, os riscos e impactos concretos são ainda sentidos como indeterminados.

Segundo os membros, é também outra indefinição a magnitude das alterações de fundo na UE, caso o “Brexit” ocorra de um modo “soft”. Esta mesma incerteza está presente ao considerar-se o “Brexit” como uma potencial oportunidade apesar de, no entanto, a perspetiva quanto às exportações ser sentida como um risco que poderá afetar a performance portuguesa, nomeadamente a nível da transação de bens e de serviços, com uma expectável quebra no turismo. Nesta saída, a única convicção é a de que não haverá vencedores, sendo que quase 60% concordam que o Reino Unido será o principal perdedor neste processo, tendo como principal risco o seu isolamento.

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Quanto à eventualidade da criação de impostos europeus, na generalidade 68% concordam com a sua existência. No entanto, desses 68% apenas 22% concordam com impostos sobre os cidadãos para financiamento do orçamento comunitário. 21% consideram que só fará sentido se os impostos incidirem sobre plataformas online, atualmente não tributadas e outros 25% se, ao digital, se acrescentar o carbono e as transações financeiras.

De modo a que a Europa retome a sua posição e centralidade como ator principal no panorama internacional, a maioria dos membros acredita que esta deverá adotar políticas de federalismo tais como o reforço dos mecanismos de contribuição comunitária mais solidários. A união bancária e do mercado de capitais é aceite por ¾ dos membros, bem como a ideia da criação de um fundo monetário europeu, criado a partir do mecanismo de estabilidade. Este fundo permitirá uma ação mais rápida e abrangente do que a do mecanismo atual, ficando toda essa ação sob a fiscalização do Parlamento Europeu.

A abertura a relações comerciais com o Oriente e os EUA é considerada mais positiva do que negativa. Porém, existe uma parcela considerável mais neutra a estas parcerias, o que indicia que estas não deverão ser uma preocupação central para a nossa economia. A prioridade deverá antes ser a de uma maior aposta na concorrência, na tecnologia e na inovação, promovendo uma maior competição.

Quanto ao segundo tópico deste barómetro, é possível concluir que a banca, apesar de se encontrar num período estável, fomenta preocupações quanto à solidez financeira do sector, com 60% dos respondentes a considerar que esta poderá ter níveis altos de exposição a crédito mal-parado e fraca capitalização. Para os membros da OE, a venda do Novo Banco ao fundo Lone Star não foi a melhor opção, dadas as circunstâncias da altura e, adicionalmente, o novo empréstimo do fundo de resolução é percecionado como um custo para os contribuintes. A existência de um único banco com capital integralmente português (CGD), não obteve uma resposta conclusiva quanto ao facto de representar um risco estratégico para a soberania de Portugal. Esta mesma incerteza foi gerada quanto à expectativa de a nova proposta de supervisão financeira ser a resposta necessária para uma melhor regulação do setor.

Finalmente, as relações com Angola estarão a atravessar um momento positivo de acordo com os inquiridos neste Barómetro, sendo identificadas como melhores oportunidades e sectores onde as empresas portuguesas mais poderão capitalizar as áreas da consultoria e do apoio ao desenvolvimento de novos projetos, bem como o desenvolvimento do setor da construção.

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