Administradores hospitalares defendem integração de cuidados de saúde com os cuidados sociais

Audição aconteceu nesta quinta-feira, no Parlamento, no âmbito de um grupo de trabalho sobre a autonomia dos hospitais.

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Paulo Pimenta

Os presidentes dos conselhos de administração dos hospitais Amadora-Sintra e Figueira da Foz defendem que os cuidados de saúde e os cuidados sociais devem estar integrados, de forma a dar melhor resposta aos doentes. Os dois responsáveis fizeram parte de um grupo de administradores que foram ouvidos nesta quinta-feira no Parlamento, no âmbito de um grupo de trabalho sobre a autonomia dos hospitais.

“Um ponto crítico é a integração de cuidados. Não são cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares, são doentes”, afirmou o presidente do conselho de administração do Hospital Amadora-Sintra. “Este aspecto tem de mudar radicalmente. Não concebo um novo sistema de saúde, com descentralização ou autonomia, sem que a integração de cuidados de saúde e sociais possam existir de forma clara”, defendeu Francisco Velez Roxo, lembrando que esta integração já existe em países como o Reino Unido e Holanda.

O administrador lembrou os casos de utentes que embora tenham alta clínica permanecem internados no hospital por falta de soluções sociais. A solução, referiu, é o hospital pagar camas que “custam um milhão e meio por ano”. “Não vejo esta questão presente nos projectos [a nível governativo] como gostaria. Se isto não for visto, não conseguimos tratar das pessoa como seres humanos do princípio ao fim”, considerou.

A mesma visão foi defendida pelo presidente do conselho de administração do Hospital Distrital da Figueira da Foz, Manuel Teixeira Veríssimo, após ter salientado a “boa relação” que a unidade tem com os centros de saúde da área. “Quero reforçar que é muito importante a integração de cuidados com os cuidados de saúde primários, continuados e especialmente a área social. Esta é uma reformulação que terá de ser feita saúde. Não há saúde apenas a tratar doença, a parte social é importante. Tratamos doentes, não doenças”, salientou.

Autonomia é central para os hospitais

Os dois administradores fizeram parte do grupo de cinco responsáveis que esta quinta-feira prestaram declarações aos deputados da comissão parlamentar de Saúde, no âmbito de um grupo de trabalho dedicado à autonomia dos hospitais. Os hospitais que representam — Amadora-Sintra, Figueira da Foz, Santa Maria Maior (Barcelos), Centro Hospitalar de Leira e Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa — fazem parte das 11 unidades de saúde que este ano vão ter um novo modelo de gestão, com mais autonomia. A medida faz parte do Orçamento do Estado deste ano e estas unidades foram escolhidas por serem as que se mostraram mais eficientes.

Em resposta aos deputados, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Carlos Alberto, salientou o facto de ver, pela primeira vez, uma “diferenciação positiva”. “É muito importante que estes projectos sejam acarinhados por todos e sejam bem-sucedidos. Fazer disto guerra política pode fazer com que se quebre a evolução”, disse. Carlos Alberto salientou que os 11 hospitais escolhidos para testar o novo modelo de gestão “tiveram capacidade de mostrar num momento difícil níveis de eficiência acima da média”.

Os vários administradores explicaram que o novo modelo prevê mais autonomia quer para a contratação de profissionais quer para a realização de investimentos, de acordo com o plano de actividades definido para 2019 e que está em análise pelo Ministério das Finanças.

“É importante dar passos decisivos na devolução da autonomia a estas entidades”, afirmou Licínio Carvalho, do centro Hospitalar de Leiria. “A autonomia não pode ser dissociada dos recursos que os hospitais precisam para cumprir a sua missão. Penso que não há risco de este projecto-piloto criar hospitais mais ou menos importantes”, referiu, em resposta a Carla Cruz. A deputada do PCP quis saber se o novo modelo não criava o risco de existirem hospitais “com várias velocidades” no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Joaquim Barbosa, do Hospital Santa Maria Maior (Barcelos), disse que é “completamente a favor da responsabilização do conselho de administração e do escrutínio dos resultados da gestão”. Tal como outros administradores, o responsável afirmou que “a autonomia envolve recursos humanos mas também investimentos”. “Isto implica responsabilidade e rigor acrescido gestão dia-a-dia”, disse ainda, referindo que embora o plano de actividades ainda não tenha sido assinado, o hospital já está a trabalhar com base no mesmo.

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