A Maré já devia estar a funcionar em pleno, mas pouco mudou depois da Resende

Câmara de Matosinhos e empresa que herdou a concessão do serviço privado de transportes colectivos dizem que prazo de três meses para a transição era “ambicioso”, mas “curto” e, por isso, definiu nova meta, agora para o final de Maio.

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Hugo Santos / Publico

Três meses, era o prazo definido para que o serviço privado de transportes colectivos de Matosinhos, desde o início do ano a cargo da Via Move/Maré, estivesse a funcionar em pleno, depois desta nova sociedade ter substituído o anterior operador – Resende -, após um longo historial de incidentes e falhas de serviço, envolvendo os autocarros desta transportadora matosinhense, que a par da Barraqueiro (51%) detém 49% da nova empresa. Esta meta, traçada até ao final de Março, não foi atingida. O prazo para afinações a serem feitas durante este período de transição alargou e autarquia e Via Move dizem agora que só no final de Maio é que a máquina estará oleada.

Tendo em conta o não cumprimento dos objectivos, pode parecer que o prazo foi estipulado por terceiros. Mas, não foi. Em causa estava o compromisso de colmatar todas as deficiências do serviço anterior. Não existiam motoristas suficientes, anunciou-se a contratação de mais trinta para se juntarem aos 200 já existentes; os horários não se cumpriam, garantiu-se que passariam a ser cumpridos e que os utentes passariam a ter disponíveis aplicações móveis para os poder consultar; os autocarros que transitassem da Resende para a Maré seriam “recondicionados” a nível de mecânica e pintados com as cores da nova marca; seriam compradas mais viaturas, algumas novas, outras semi-novas; as paragens seriam adaptadas à nova imagem; garantiu-se que a segurança iria aumentar.

Todos estes objectivos foram traçados pela autarquia e pela Via Move, assim como os prazos definidos para o cumprimento dos mesmos. O plano não foi concretizado e agora as duas partes admitem que era demasiado “ambicioso”, tendo-se revelado que o espaço temporal para o pôr em marcha era “curto”.

A Resende tinha uma frota de cerca de 70 autocarros que transitaram para a Maré. De acordo com um dos gerentes da nova sociedade, Pedro Morais, alguns foram abatidos. Nas ruas, actualmente, estão a circular cerca de 60, sendo que só 35 é que já estão adaptadas à nova marca – 10 foram comprados, os restantes foram recondicionados. As que sobram ainda circulam com as cores da Resende.

Das 30 vagas para motorista anunciadas só 14 foram ocupadas. A empresa diz que o processo de contratação ainda está a decorrer. O cumprimento dos horários continua a falhar e não há informação sobre os mesmos. As 800 paragens ainda não foram alteradas e os incidentes continuam a existir.

Incidentes continuam

Garante o responsável pela Maré que os incidentes registados neste período, incluindo o de mais um autocarro que ardeu, ocorreram com autocarros ainda não recuperados. Com os novos registou-se uma avaria, que desvaloriza por entender tratar-se de um “caso isolado”.

Face ao atraso e consequente falha no cumprimento das expectativas definidas no início do ano, afirma não terem existido contratempos “de maior” que comprometessem os prazos. Assume antes que houve “ambição a mais” e “excesso de optimismo” para um prazo que se revelou “curto”. De qualquer forma, garante que este atraso “não põe o projecto em causa”. “Alinhados com a câmara”, dizem estar empenhados para criar condições para que os horários se cumpram, que a informação relativamente aos mesmos melhore e para que a qualidade da frota aumente, elevando também os níveis de segurança para os clientes.

O vereador da mobilidade da câmara de Matosinhos, José Pedro Rodrigues, admite igualmente ter existido excesso de confiança do ponto de vista da concretização das metas. Lamenta que a expectativa dos utentes tenha sido beliscada, mas também garante que até final de Maio todas as pontas soltas serão resolvidas pelo novo operador.

Novas linhas, para já, sem novas viaturas

Ao PÚBLICO disse que é nessa altura que já estará a funcionar uma nova linha que se juntará às 22 linhas já existentes. Recorde-se que a Maré, à imagem do que acontecia com a Resende, detém a concessão de 60% das carreiras de transporte de passageiros no concelho, com ligações ao Porto, Maia, Gondomar e Valongo. A nova linha ligará a Lionesa, em Leça do Balio, à Trindade, no Porto. Esta linha colmatará a inexistência de qualquer alternativa de transporte colectivo de passageiros nesta zona de indústria e serviços da Via Norte desde que o antigo 95, da STCP, deixou de operar há cerca de 20 anos.

Mais linhas entrarão em funcionamento, mas só depois de ser adjudicada nova concessão, no âmbito do concurso público metropolitano a abrir nas próximas semanas. Por legislação comunitária, Portugal está obrigado a ter a 3 de Dezembro todo o serviço de transporte público concessionado a partir de concursos abertos à concorrência. A nova rede a ser criada em Matosinhos representará um acréscimo de 30% relativamente à actual, incluindo o reforço da oferta na zona norte do concelho. O PÚBLICO sabe que se prepara a criação de uma nova linha com ligação a Vila do Conde.

A Maré diz ter condições para disputar a concessão, mas adianta que, à imagem do que outros privados já deram a entender, não investirá em nova frota até saírem as adjudicações. “Até termos a certeza que ficaremos com as linhas não vamos investir. Depois disso, durante um período de ajustamento, renovaremos a frota”, assegura Jorge Morais.

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