Assédio: Geoffrey Rush recebe mais de 500 mil euros do Daily Telegraph por difamação

O actor australiano ganhou o processo judicial de difamação contra o jornal Daily Telegraph, que relatou, no ano passado, um alegado assédio sexual de Rush à actriz Eryn Norvill.

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LUSA/PETER RAE

O actor australiano Geoffrey Rush venceu nesta quinta-feira um processo judicial de difamação contra o jornal Daily Telegraph. Em causa está a acusação de assédio sexual contra o actor por “comportamento impróprio” durante a produção da peça de teatro Rei Lear, que foi noticiada pelo tablóide em Novembro de 2017. Para já, o grupo News Corp — que detém o diário — deverá pagar 850 mil dólares australianos (cerca de 539 mil euros) ao actor por “danos à sua reputação”.

O juiz Michael Wigney disse, no tribunal de Sydney, que os artigos produzidos pelo jornal foram “em todas as circunstâncias, exemplares de trabalhos irresponsáveis de jornalismo sensacionalista da pior espécie”.

Para o juiz que assinou a decisão, o grupo News Corp’s Nationwide News e o jornalista Jonathon Moran “não defenderam a sua verdade” durante o processo. As provas contra o grupo de Rupert Murdoch “são sólidas”, garante o tribunal, uma vez que “não só foram comprovadas, como foram contrariadas por Rush Armfied [director da peça] e pelos actores Robyn Nevin e Helen Buday”.

A história contada na primeira página do Daily Telegraph, em Dezembro de 2017, relatava um alegado assédio sexual contra a actriz Eryn Jean Norvill, durante uma produção da peça de teatro Rei Lear, em 2015, para a Companhia de Teatro de Sydney. O jornal tabloide popular em Sydney utilizou uma fotografia do actor caracterizado, de cara pintada de branco, acompanhada da frase “King Leer” (Rei Malicioso), em analogia com o nome da peça (King Lear).

A actriz Norvill não foi entrevistada para o artigo do jornal, mas, no ano passado, testemunhou contra o actor australiano. Segundo a actriz, Geoffrey Rush fez gestos simulando que estava a apalpar os seus seios, durante os ensaios. Norvill acusa também Rush de tocar “deliberadamente” nos seus seios em frente da plateia e de mexer as mãos acima do seu torso, fingindo que estava a acariciar a parte superior do tronco. Depois de ouvir Norvill em tribunal, Michael Wigney considerou que a história contada pela actriz era “inconsistente”.

O jornal mostra descontentamento perante a decisão do juiz, “em particular com a rejeição das provas de Norvill”, disse o editor Ben English ao jornal The Guardian. O jornalista acrescenta que o jornal vai recorrer da decisão do juiz.

Além da indemnização de 580 mil euros que o jornal vai ter de dar ao actor de O Discurso do Rei por danos agravados, Geoffrey Rush pode ainda ter direito a uma indemnização adicional, cujo valor ainda está por decidir, mas que deve ser calculado com base nos efeitos que as notícias podem ter tido no trabalho do actor durante dois anos.

Este caso é particularmente importante na Austrália, sendo a primeira vez que foram partilhadas acusações de assédio contra uma figura conhecida do país - depois da explosão do movimento #MeToo nos Estados Unidos, que decorreu da investigação dos jornais New Yorker e The New York Times premiada com um Pulitzer. As investigações jornalísticas acabaram por originar um movimento social internacional de denuncia de assédio sexual e influenciaram o desfecho de pelo menos um processo criminal – contra o comediante Bill Cosby.

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