Quase um terço dos jovens deixam de ver o pai depois do divórcio

Estudo revela que são ainda muito poucos os adolescentes filhos de pais separados que vivem alternadamente em casa da mãe e do pai, o chamado modelo de “guarda partilhada”.

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Só 6,8% dos adolescentes vivem no modelo de guarda partilhada daniel Rocha

Cerca de 30% dos jovens que vivem apenas com a mãe assumem que nunca vêem o pai, segundo mostram os resultados de um inquérito sobre guarda parental realizado no âmbito do Health Behaviour in School aged Children (HBSC), o grande estudo sobre a adolescência realizado pela Organização Mundial de Saúde.

Na última edição, datada de 2018, participaram 8125 adolescentes portugueses. Com base nos resultados divulgados em Dezembro, a equipa liderada pela psicóloga e investigadora Margarida Gaspar Matos foi aprofundar o que se passa com os jovens nas várias componentes da sua vida. Este retrato, a que o PÚBLICO teve acesso, será apresentado na Universidade Lusíada nesta quarta-feira.

A situação de vida dos jovens com pais separados foi um dos temas trabalhados e com resultados inesperados devido à sua reduzida dimensão. “Fiquei muito surpreendida. Pensei que íamos ter muito mais jovens nesta situação”, comenta a psicóloga e investigadora da Universidade de Lisboa Inês Camacho, responsável por este capítulo.

E o que é motivo de espanto? O facto de apenas 895 jovens (11%) num total de 8125 referirem que os pais não estão juntos. Mais concretamente foi este o total dos que disseram pertencer a um dos três grupos definidos pelos investigadores no que respeita à guarda parental. Será que não perceberam o que lhes estava a ser perguntado? Inês Camacho não exclui que tal possa ter acontecido e em futuros estudos já sabe o que lhes irá perguntar: se vivem com pais separados, o que pensam que será melhor para eles? É apenas uma de várias questões que pretende colocar.

Quanto ao presente estudo, 6,8% (51) dos adolescentes cujos pais estão separados referiram estar em “guarda partilhada”, alternando a permanência na casa da mãe e do pai; 37,4% (335) indicaram que vivem com um dos progenitores e estão com o outro de 15 em 15 dias; 55,8% afirmaram também que vivem com um dos pais mas raramente, ou mesmo nunca, vêem o outro.

Apesar da sua reduzida dimensão, Inês Camacho garante que as conclusões a que se chegou são válidas para todo o universo de adolescentes com pais separados. E um dos alertas que deixa é este: “Apesar da guarda parental ter sofrido alterações nos últimos anos em Portugal, com um maior número de guardas partilhadas atribuídas, esse número fica anda muito aquém do que seria suposto, sendo que existem ainda muitos adolescentes que vivem com um progenitor, na maior parte das vezes com a mãe e que na maioria das vezes também são privados do contacto com o pai.”

Neste grupo maioritário dos que vivem apenas com um dos pais, 3,4% indicam que não vêem a mãe, proporção que sobe para 28,6% no que respeita à ausência do pai. Os estudos realizados “têm demonstrado que os jovens que não mantêm contacto com o pai apresentam mais comportamentos de risco e são mais infelizes quando comparados com jovens que têm alguma dificuldade em comunicar com o pai, mas que continuam em contacto” com este, avisa Inês Camacho.

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