Adolescentes estão mais contentes com o corpo, o que é bom para a saúde

Mais de metade dos adolescentes portugueses considera que tem um corpo “ideal”.

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Hábitos saudáveis têm vindo a aumentar entre os adolescentes Daniel Rocha

Os adolescentes portugueses têm vindo a ficar mais satisfeitos com o seu corpo, o que nesta etapa da vida pode ser decisivo tanto para a formação da sua identidade, como em termos de saúde física e mental.

Em nove anos, entre 2010 e 2018, a proporção dos que encaram o seu corpo como “ideal” passou de 49,1% para 54.6%. Esta evolução está patente nos resultados da última edição do Health Behaviour in School aged Children (HBSC), o grande estudo sobre a adolescência feito pela Organização Mundial de Saúde que se realiza de quatro em quatro anos.

A última edição data de 2018. Com base nos resultados então divulgados, a equipa liderada pela psicóloga e investigadora Margarida Gaspar Matos, responsável por este estudo em Portugal, foi aprofundar o que se passa com os jovens nas várias componentes da sua vida e daí resultou um número inteiro da revista Psicologia do Desenvolvimento da Criança e do Adolescente, que será apresentada nesta quarta-feira em Lisboa.

Como não poderia deixar de ser, o corpo é uma componente essencial na vida dos adolescentes. Neste estudo o que se tentou apurar foi qual a sua satisfação com o corpo, tendo sido questionados para o efeito 6997 alunos entre o 6.º, 8.º e 10.º ano de escolaridade, de uma amostra total que congrega 8215 estudantes, vários dos quais do 12.º ano.

“É importante valorizar a melhoria deste indicador por tudo o que representa para o desenvolvimento saudável do adolescente”, comenta ao PÚBLICO o professor do Instituto Politécnico de Beja Nuno Loureiro, que integra a equipa portuguesa do HBSC. Loureiro frisa a este respeito que “o adolescente que não está satisfeito com a sua imagem apresenta-se num estado mais frágil e vulnerável, que o pode condicionar na hora de tomar as melhores decisões ao longo do seu percurso”.

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Por outro lado, adianta, quando se aborda a satisfação com o corpo não se pode esquecer que a sociedade actual “disponibiliza um conjunto de imagens e modelos-tipo, que muitas vezes surgem como a única via a seguir, quando o mais importante é que os jovens percebam qual o formato possível de se obter em estreita articulação com hábitos de vida saudável”.

E o que os dados de 2018 também mostram é que os adolescentes portugueses estão no bom caminho. Por comparação à edição anterior de 2014, aponta Nuno Loureiro, constata-se um “aumento ligeiro (mais 1,5%) da prática de actividade física, um maior consumo de frutas (subida de 4,9%) de vegetais (mais 2,9%), e uma diminuição de consumo de refrigerantes (quebra de 1,9%) e de doces (menos 0,5%) ”.

Riscos de infecção

Mas nem tudo são boas notícias neste retrato que os adolescentes nos dão de si próprios. Por exemplo, no que toca a comportamentos sexuais, “o uso do preservativo tem vindo a descer dramaticamente desde 2010”, alerta Margarida Gaspar Matos. Nesse ano, 82,5% dos alunos questionados indicaram ter usado preservativo na sua última relação sexual, em 2014 eram 70,4% e em 2018 esta proporção voltou a baixar para 65,9%.

No artigo sobre comportamentos sexuais de risco entre os adolescentes, a equipa portuguesa do HBSC aponta três causas prováveis para esta despreocupação: “a infecção pelo VIH/SIDA passou a ser considerada uma ‘doença crónica, em vez de uma ‘sentença de morte; o número de campanhas de prevenção relativas a esta infecção diminuiu; e tem-se registado um desinvestimento na educação sexual” nas escolas.

Sobre este último aspecto, especifica-se que apesar de a educação sexual ser obrigatória em todos os ciclos de ensino, “tem-se verificado nos últimos anos que esta se reduziu à leccionação dos conteúdos que fazem parte das disciplinas escolares, não havendo oportunidade para os alunos desenvolverem as competências pessoais e sociais que estão na base de comportamentos sexuais saudáveis”.

Para os autores do estudo, a diminuição do uso de preservativos pelos adolescentes torna “urgente” a necessidade de uma intervenção preventiva, como aliás mostram os últimos números relativos ao VIH/SIDA: em 2018, 16% dos infectados em Portugal tinham idades entre os 15 e os 24 anos.

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