Rio defendeu entrada de privados na CGD, mas ficou a falar sozinho

O líder social-democrata recuperou a ideia de que a CGD não deveria ser totalmente pública. À esquerda, os socialistas lembram o que aconteceu aos CTT.

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LUSA/ESTELA SILVA

Em 2008, quando ainda não era líder do PSD mas estava a concorrer ao lugar, Pedro Passos Coelho defendia que "o Estado se deve retirar mais rapidamente da economia do que o tem feito”. Propunha, por isso, a privatização da CGD (e também da RTP). Durante o seu Governo de coligação com o CDS, a história deu muito que falar. 

Esta semana, foi Rui Rio a trazer de volta o assunto, embora de forma bem mais moderada. O líder do PSD defendeu a ideia que a Caixa Geral de Depósitos pode ser privatizada parcialmente. “Sou favorável a que a CGD mantenha uma maioria pública de capital, mas estou aberto à abertura de critérios de gestão privados”, disse esta segunda-feira numa edição das Eco talks, uma iniciativa do jornal Eco.

A ideia do social-democrata não terá pernas para andar. PS, PCP e Bloco, que ainda têm bem presente a altura em que Passos Coelho quis privatizar o banco público, o que acabou por fazer aos correios, criticam a proposta. O CDS também não vê necessidade em retomar o assunto.

Oposição total

“O PS irá opor-se sempre à privatização da Caixa. [O PSD] Quer transformar a CGD no que fez aos CTT”, disse ao PÚBLICO o deputado socialista João Paulo Correia. O deputado lembra que a ideia de entrada de capital privado no banco público já vem da anterior liderança do PSD. “O PSD, agora através de Rui Rio, sempre teve em vista privatizar a CGD desde o tempo de Passos Coelho”. 

Ideia semelhante tem um responsável do BE: “A posição assumida por Rui Rio já foi defendida no passado por Pedro Passos Coelho. O Bloco de Esquerda opôs-se sempre a qualquer tentativa de privatização da CGD. A CGD é o banco público, deve ser gerido como tal e deve servir as populações de todo o país”.

Pelo PCP, o deputado Duarte Alves defende que esta ideia “revela que da parte do PSD e do CDS nunca houve uma desistência do objectivo de que os privados entrem na Caixa”. Pelo contrário, os comunistas entendem ser importante que a CGD “ se mantenha como banco público ao serviço do financiamento da economia e da coesão social”. 

Aliás, diz Duarte Alves, “os problemas com que a Caixa actualmente se debate resultam dessa estratégia de aproximar a sua gestão dos critérios de gestão privada”.

Para os socialistas, a ideia de Rio vem numa senda de outras propostas dos sociais-democratas que consideram ser “envergonhadas” uma vez que não são discutidas em público. “Esta ideia surge naquele rol de ideias e propostas que o PSD tem trazido timidamente através do conselho económico de Rui Rio e do próprio, que são ideias que o PSD está com alguma vergonha de discutir publicamente”, diz João Paulo Correia, que dá como exemplo dessas intenções a redução do valor dos passes, a descida do valor das propinas, a redução da carga horária para a função pública ou ainda a ideia de que “quem não paga IRS porque tem rendimentos baixos deve pagar uma colecta mínima”. “Esta ideia junta a este conjunto de propostas que o PSD está a forjar no seu programa e que timidamente lá vai mostrando”.

E a recapitalização?

Além disso, diz o socialista, esta intenção mostra que “Rio está desactualizado” uma vez que a negociação com a União Europeia, aquando da recapitalização de 2016, obrigou a CGD a “adoptar um plano de negócios que obedece a uma gestão muito próxima da gestão da banca privada, de outra forma a recapitalização seria considerada ajuda de Estado”.

Já o CDS defende que a abertura a privados não é necessária depois da recapitalização. João Almeida, porta-voz do CDS-PP, lembra que o CDS “sempre defendeu uma Caixa Geral de Depósitos pública” e que essa “foi uma exigência” do partido sobre o acordo de coligação de Governo com o PSD em 2011. O deputado defende que depois da operação de recapitalização “não faz sentido” abrir o banco a privados. “Se foi feito este esforço dos contribuintes tem de ser o Estado a retirar dividendos desta capitalização”, afirmou ao PÚBLICO.

O primeiro socialista a trazer o assunto a lume foi Fernando Medina que, na segunda-feira, no comentário habitual na TVI24, considerou que esta proposta mostra uma intenção preconceituosa por parte do líder social-democrata. “Isto é uma coisa que não tem nenhum sentido e só mostra bem um problema de preconceito ideológico da parte de Rui Rio. Primeiro, desatenção face ao que aconteceu no sector privado, mas também de preconceito ideológico”, disse. com Sofia Rodrigues e Sónia Sapage

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