Dois anos depois, Trump continua a despedir estrelas na Casa Branca

Nas últimas décadas, nenhum Presidente norte-americano fez tantas mudanças no seu gabinete executivo como Trump. Uma história que começou menos de um mês após a chegada à Casa Branca e que teve o seu mais recente capítulo no domingo.

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Donald Trump Reuters/Kevin Lamarque

Manter um emprego na Administração Trump tem sido uma tarefa difícil para muitos dos escolhidos. Entre saídas de figuras de peso como Jeff Sessions, John Kelly ou Jim Mattis, e de outros nomes menos sonantes mas igualmente importantes, dezenas de altos responsáveis da política norte-americana foram empurrados para fora da Casa Branca pelo Presidente Donald Trump desde Janeiro de 2017 – e alguns cargos relevantes têm funcionado com directores interinos.

O número de pessoas que apoiam e aconselham o Presidente norte-americano no dia-a-dia, de forma mais próxima, não é fixo, mas o grupo de pesquisa e análise norte-americano National Journal estabeleceu, entre 1981 e 2009, um núcleo de 60 cargos a que chamou os “decisores”.

A estas seis dezenas somam-se os responsáveis pelas 15 secretarias de Estado executivas – equivalentes aos ministérios em Portugal.

Segundo os números do site FiverFortyEight, com a saída de Kirstjen Nielsen da secretaria da Segurança Interna, no domingo, o Presidente Trump fez 12 mudanças no seu restrito Gabinete desde que chegou à Casa Branca, há dois anos e quatro meses. Mais do dobro do que qualquer um dos seus antecessores no mesmo período, nos últimos 40 anos: Barack Obama e George W. Bush não mudaram ninguém nos primeiros dois anos; Bill Clinton e George Bush mudaram seis cada um; Ronald Reagan mudou quatro; e Jimmy Carter mudou um.

Na lista dos mais próximos destacam-se os que saíram em confronto com o Presidente: John Kelly, um general da Marinha que aguentou um ano e meio como chefe de gabinete da Casa Branca; Rex Tillerson, antigo presidente da ExxonMobil e secretário de Estado durante 15 meses; Jeff Sessions, ex-senador do Alabama e uma das primeiras figuras de peso no Partido Republicano a apoiar a candidatura de Trump à Casa Branca, que aguentou o cargo de attorney general (secretário da Justiça) quase dois anos; e Jim Mattis, um general da Marinha que saiu do cargo de secretário da Defesa no último dia de 2018, também em ruptura com Trump.

De Flynn a Nielsen

Mas a primeira saída de peso aconteceu quando Trump ainda não tinha cumprido dois meses na Casa Branca. O então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, que tinha sido confirmado pelo Senado no dia 23 de Janeiro de 2017, foi afastado duas semanas depois, no dia 13 de Fevereiro, por causa das suas ligações à Rússia.

Fora do círculo executivo, mas em posições de grande relevo, destacam-se o director do FBI, James Comey, e o seu adjunto, Andrew McCabe – este a poucas horas de se reformar, em Janeiro de 2018, o que lhe custou uma parte significativa das suas pensões.

É verdade que Comey tinha sido nomeado pelo Presidente Obama, e que McCabe tinha sido nomeado por Comey, mas a demissão de um responsável de topo do FBI é um assunto extremamente sensível, e só acontecera uma vez. Em 1993, o Presidente Bill Clinton despediu William Sessions, mas essa decisão foi consensual no topo do FBI, ao contrário do que aconteceu no caso de James Comey – William Sessions foi despedido na sequência de um relatório interno que o acusou de graves irregularidades, como desvio de fundos do FBI para pagar viagens e obras em casa.

Mas a posição mais complicada de todas é a de chefe de gabinete, um cargo que já foi ocupado por três pessoas, e que deverá ser ocupado por pelo menos mais uma – tudo num espaço de pouco mais de dois anos, um recorde na história dos EUA.

O primeiro foi Reince Priebus, que esteve no cargo seis meses. Para o seu lugar entrou John Kelly, que sairia em Janeiro deste ano. A cadeira do chefe de gabinete do Presidente é ocupada actualmente por Mick Mulvaney, mas apenas como interino – um cargo provisório que se repete no Departamento de Segurança Interna; na Secretaria do Interior; na Administração de Pequenas Empresas; no Gabinete de Gestão e Orçamento; e na representação dos EUA nas Nações Unidas.

Ao todo, segundo as contas do Washington Post, há 140 cargos em aberto, todos dependentes de nomeação pelo Presidente e de confirmação pelo Senado (que tem uma maioria de senadores do Partido Republicano), incluindo 19 embaixadores – com destaque para o representante nas Honduras, um dos países de onde partem mais pessoas em direcção à fronteira entre o México e os EUA.

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