Rua de aldeia em Viana do Castelo tem biblioteca de livre acesso para troca de livros

Pintada de cor branca, a pequena biblioteca ostenta um letreiro: “Leve um livro, depois traga um livro”.

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Nuno Ferreira Santos

Uma rua de Mazarefes, freguesia a sete quilómetros do centro de Viana do Castelo, tem uma biblioteca de livre acesso, em forma de uma “pequena casa”, para permitir a “troca e partilha de gostos e interesses literários”.

“Que eu tenha conhecimento, esta é a primeira pequena biblioteca de acesso livre do concelho de Viana do Castelo e está na minha freguesia”, disse à agência Lusa André Correia, responsável pela sua construção.

Tal como refere o conceito norte-americano sobre este tipo de biblioteca, também André Correia, de 34 anos, diz estar “interessado em combater a iliteracia e em promover o convívio entre a comunidade” da aldeia rural onde nasceu e reside.

Pintada de cor branca, a pequena biblioteca ostenta um letreiro: “Leve um livro, depois traga um livro”. O repto foi lançado na última sexta-feira, quando o operador especializado, que trabalha numa grande superfície comercial do concelho, instalou a biblioteca que construiu “em duas tardes livres” no emprego.

Reutilizou “materiais em fim de vida” e recuperou “um móvel antigo” que encontrou “junto a um contentor do lixo” da freguesia.

“Não tive ajuda porque também não a solicitei a ninguém. Por vezes tenho ideias demasiado loucas que não tenho muito tempo nem paciência para explicar. Prefiro pôr mãos à obra e reflectir no final da acção”, explicou.

“Não sou carpinteiro, mas estou cheio de vaidade deste meu trabalho. Biblioteca de rua, a primeira no meu amado Mazarefes. Cidadania e cultura”, escreveu André Correia numa publicação nas redes sociais nas quais anunciava a entrada em funcionamento da sua “obra-prima”.

Das mãos de André, com o 12.º ano de escolaridade do curso profissional de música de Viana do Castelo, saiu uma caixa de madeira, em forma de casa, com uma porta de vidro que permite vislumbrar, nas prateleiras, livros “para todos os gostos literários”, que quer partilhar com desconhecidos.

André Correia foi buscar a ideia a um projecto que surgiu nos Estados Unidos, em 2009, intitulado Little Free Library (pequena biblioteca livre).

“A inspiração surgiu pelo gosto em fazer algo de positivo e enriquecedor pela freguesia onde nasci e vivo e pelo próximo”, explicou, adiantando que espera ver o projecto “inspirar muitas pessoas e que, a partir daquela, surjam mais bibliotecas no concelho de Viana do Castelo e por todo o país”.

“A reacção das pessoas tem sido extremamente positiva, as pessoas param em frente à biblioteca, lêem e falam, fazem perguntas e ficam com um sorriso quando ouvem a explicação, devem até pensar que eu sou louco e não me importo. O importante é o seu sorriso. Essa é a minha recompensa”, afirmou.

As palavras de “apreço” pelo projecto chegaram também através das redes sociais.

“As pessoas têm mostrado interesse, o que me leva a pensar que este projecto vai incentivar e catapultar projectos semelhantes em todo território nacional”, disse André Correia, também organizador de eventos de cinema e de jazz na aldeia dos arredores da capital do Alto Minho.

Desde a última sexta-feira já foram trocados mais de quatro livros. André passa diariamente pela pequena biblioteca para ver se está tudo bem. Não teme vandalismos: “Prefiro pensar que, hoje em dia, as pessoas estão mais sensíveis e respeitadoras”.

O mapa internacional da Little Free Library, que a Lusa hoje consultou na Internet, tem identificadas cinco pequenas bibliotecas em Portugal, nos distritos do Porto, Leiria e Lisboa e quatro nos Açores.

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