Nova tecnologia para avaliar em casa o funcionamento do coração

Investigadores da Universidade de Coimbra desenvolveram tecnologia “baseada no bater do coração”, de “baixo custo e não invasiva”, que permite caracterizar e avaliar, em casa, o funcionamento do coração

Foto
o sistema integra três componentes: sensores (que podem ser colocados, por exemplo, no vestuário), um telemóvel (que recebe os sinais dos sensores) e um servidor Patrícia Martins

Uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia de Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) propõe “uma nova abordagem tecnológica baseada no som dos batimentos cardíacos, que permite a monitorização contínua das doenças do coração em casa”, afirma a FCTUC, numa nota de imprensa divulgada hoje. O grupo de investigadores, liderado por Paulo de Carvalho, especialista em informática clínica, desenvolveu, com a colaboração de três médicos, “uma tecnologia de baixo custo e não invasiva, em que o som cardíaco é a chave de acesso a um conjunto de informação necessária para caracterizar e avaliar o funcionamento do coração”, refere a FCTUC.

Basicamente, a partir do som do batimento cardíaco, “obtido com recurso a pequenos sensores, desenvolveu-se um algoritmo [software] que permite extrair automaticamente os denominados tempos sistólicos do coração e estimar o débito cardíaco”, explica, citado pela FCTUC, Paulo de Carvalho. De acordo com a mesma nota da FCTUC, há dois tempos sistólicos que são fundamentais para a avaliação do estado de saúde do coração: “o período de pré-ejecção (PEP), que funciona como comando para o coração contrair (uma espécie de “motor de arranque"), e o período de ejecção -- o tempo que o ventrículo esquerdo está contraído para ejectar o sangue para a aorta”.

Com os dados obtidos durante esta dinâmica cardiovascular, a nova tecnologia avalia continuamente a função cardíaca, fornecendo aos cardiologistas o relatório sobre a situação do doente. Para tal, o sistema integra três componentes, designadamente sensores (que podem ser colocados, por exemplo, no vestuário), um telemóvel (que agrega os sinais provenientes dos sensores) e um servidor (que armazena a informação), explicita a FCTUC.

A grande vantagem desta tecnologia é permitir “o seguimento permanente de vários tipos de patologias cardiovasculares, em particular a insuficiência cardíaca, em ambulatório”, sublinha Paulo de Carvalho. “Não estamos a inventar informação nova, já que a auscultação sempre foi e continua a ser uma fonte de informação extremamente relevante no diagnóstico e prognóstico médico, sobretudo em cardiologia, apenas encontrámos uma nova solução para fornecer ao clínico informação que ele já percebe”, salienta o investigador. Ou seja, “descobriu-se uma forma de obter em casa informação que até agora só era possível adquirir no hospital”.

Foto
Investigador Paulo de Carvalho DR

“Com esta tecnologia, o doente tem um acompanhamento constante e de longo prazo no conforto do seu lar”, acrescenta Paulo de Carvalho. Atualmente, o acompanhamento dos doentes é realizado periodicamente, tipicamente em consultas de seis em seis meses, mas com este tipo de sistemas de monitorização contínua “consegue-se fazer uma correcção muito mais fina, evitando que o doente evolua para situações agudas”.

Trata-se de “uma ferramenta valiosa para o prognóstico e diagnóstico, de simples utilização”, assegura ainda o investigador e docente do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra. Por isso, conclui a FCTUC, “está-se perante uma tecnologia que pode fazer a diferença na gestão das doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte em todo o mundo”. A solução -- que “está pronta a entrar no mercado, assim a indústria a pretenda implementar” -- foi desenvolvida no âmbito do projecto SoundForLife, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e testada em doentes internados no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e em pessoas saudáveis (grupo de controlo).

Sugerir correcção
Comentar