Feitos de solidariedade

Somos um povo feito de solidariedade, é talvez isso que melhor nos caracteriza. Uma vez mais o país uniu-se e mobilizou-se ante a catástrofe e o sofrimento. Uma vez mais ficou demonstrado que a calamidade aflora em nós o melhor dos sentimentos. Quanto melhor viveríamos se este pendor solidário não tivesse que ser activado apenas pelo clamor.

Centenas de mortos, milhares de feridos, centenas de milhares de desalojados e quase dois milhões de afectados pela destruição causada por uma das maiores intempéries que assolou Moçambique. Números, apenas números, que nos mostram de uma forma fria uma pequena visão do rasto de destruição e sofrimento que atingiu um dos países mais pobres do mundo. É impossível ficar indiferente. É impossível não sentir simultaneamente revolta e impotência por tamanha infelicidade. E é o que acontece.

A passagem do ciclone Idai por Moçambique teve consequências muito graves. Desde logo porque destruiu quase integralmente uma das suas maiores cidades. Chegam-nos a todo o instante imagens impressionantes do rasto de destruição e de morte.

Vários dias se passaram, e ainda não é possível contabilizar a dimensão humana da catástrofe nem dos prejuízos que esta causou. E também não é possível prever quantos ainda serão vítimas das doenças provocadas pela fome e pela contaminação das águas que inundaram uma gigantesca área. A cólera e a malária são agora as grandes ameaças ao povo moçambicano que resistiu à intempérie.

A mobilização internacional foi imediata. Um gigantesco movimento de solidariedade, ancorado num grande número de organizações humanitárias de todo o mundo, apressou-se a enviar a ajuda de emergência. Gerou-se instantaneamente uma grande onda solidária de apoio dentro e fora de Moçambique. Os portugueses, uma vez mais, quiseram afirmar-se presentes. Dezenas de organizações, autarquias, empresas, instituições e a sociedade civil mobilizaram-se para ajudar o povo Moçambicano. Sucedem-se as campanhas de recolha de apoio financeiro, bens alimentares, medicamentos, bens de primeira necessidade, roupas e toda a panóplia de recursos que visam minorar o impacto do rasto de destruição que a catástrofe deixou.

Somos um povo feito de solidariedade, é talvez isso que melhor nos caracteriza. Uma vez mais o país uniu-se e mobilizou-se ante a catástrofe e o sofrimento. Uma vez mais ficou demonstrado que a calamidade aflora em nós o melhor dos sentimentos. Quanto melhor viveríamos se este pendor solidário não tivesse que ser activado apenas pelo clamor. 

Este alívio imediato, que nos pacifica a consciência, não nos pode permitir esquecer os enormes desafios que a população de Moçambique terá ainda de enfrentar. 

As televisões vão, a pouco e pouco, deixando de mostrar a imensidão de zonas alagadas ou submersas. Deixaremos de ser sacudidos pelo impacto que nos provoca assistir a crianças, idosos, famílias inteiras e animais em cima de telhados, árvores ou qualquer outra superfície que tenha resistido à força das águas, desesperadamente à espera do resgate.

O abaixamento natural das águas que se seguirá não levará consigo todos os problemas que provocou. Deixa gigantes desafios à reconstrução das áreas afectadas, e à saúde pública, com a progressão de doenças como a cólera e malária. À onda de solidariedade deverá seguir-se uma onda de cooperação.

A onda de solidariedade com Moçambique não pode diminuir quando as televisões já não mostrarem as imagens da cidade submersa. Tal como o abaixamento das águas não terá lavado os problemas que ficam, a diminuição da cobertura mediática não terá eliminado os perigos e o sofrimento. Sejamos solidários de corpo e a tempo inteiro.

Uma ultima palavra para homenagear João Vasconcelos, meu camarada e um dos melhores quadros do Partido Socialista, que partiu inesperadamente, deixando-nos a todos com um infindável sentimento de perda. 

Não só pelo que foi enquanto ser humano, mas ainda pelo que representava em termos políticos e empresariais. Deixa a sua indelével marca no partido e em Portugal pela dimensão e importância determinante que teve no impulsionamento da economia digital e apoio ao empreendedorismo em Portugal.

Na sua rápida passagem por este imenso corredor da vida, deu o seu contributo, o seu grande contributo, com paixão, alegria e sabedoria. Por isso lhe estamos e estaremos sempre gratos.

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