Família rosa choque

Que a Administração Interna se case com o Mar é coisa que só traz vantagens ao país, a começar pelo bom funcionamento da Polícia Marítima, o controlo das fronteiras por água e até pode contribuir para uma diminuição do preço do bacalhau por alturas de Natal, pois fiscaliza-se melhor a sua pesca ilegal.

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António Costa na Assembleia da República LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Caro António Costa,

Escrevo-lhe em sincera solidariedade com o que se vem passando nos últimos tempos. O povo está de cabeça perdida ao acusá-lo a si e ao seu Governo de nepotismo e de favorecimento que vai para além de uns quantos Césares. Basta pensar no governo das nossas casas para perceber a baixeza da chicana política instalada. Quem queremos que administre as nossas casas? A família, pois claro! Em quem se confia a “féria” para o governo doméstico em muitos dos lares lusos? À mulher, pois claro. Noutros, mais modernos, é ao marido e, na sua falta, a filhos, sobrinhos ou primos. Os mais desafortunados, aos amigos e, é evidente, nem todos têm amigos tão bem abonados como Sócrates.

Tanta escandaleira e rasgar de vestes para nada… Que a Administração Interna se case com o Mar é coisa que só traz vantagens ao país, a começar pelo bom funcionamento da Polícia Marítima, o controlo das fronteiras por água e até pode contribuir para uma diminuição do preço do bacalhau por alturas de Natal, pois fiscaliza-se melhor a sua pesca ilegal. As pessoas são ingratas e julgo que a Cristina devia convidar este casal ministerial para cozinhar um belo prato de bacalhau com todos. Os “todos” serão os membros dos gabinetes respectivos com laços familiares entre si ou que, simplesmente, vivam em pecado, amancebados uns com os outros. Sempre se mudavam o grão, os grelos e os ovos do fiel amigo.

Um pai que manda no Trabalho e, sobretudo, na Solidariedade, vai começar a ser solidário e a dar trabalho a quem? À filha, pois claro! Então não é em casa que devem iniciar-se os bons exemplos? Não é o núcleo familiar restrito que é visto, até pela Igreja, como a célula básica societal? E a filha, que era acólita das reuniões do Conselho de Ministros e que, pelos vistos, tem o condão único no mundo de acalmar o Primeiro-Ministro, não merecia já uma promoção, sem que o Mário Nogueira viesse desfiar não sei quantos anos, meses e dias, e passasse para a Modernização Administrativa? Há lá coisa mais moderna e única na história das civilizações que ter a filha como Ministra, de igual para igual, nas reuniões do Conselho? A pobre coitada foi, durante alguns anos, uma mera Secretária de Estado entre Ministros. Algum pai de bons sentimentos aguentaria um vexame destes?

E a confiança que o Pedro Nuno tem na sua mulher não lhe faria escrever uma carta de recomendação para o seu velho amigo Duarte, para a senhora trabalhar mais directamente com ele? Não se despacham os assuntos da governação mais rapidamente, sem pausas ao fim-de-semana, quando há ligações familiares ou de amizade entre membros do Governo ou dos respectivos gabinetes? É mesmo inveja e incompreensão, caro amigo Costa! Têm é inveja de ter V. Exa. tornado tudo mais ágil, instituindo o “Simplex Família & C.ª”, algo de que nunca ninguém se tinha lembrado, pois nunca houve, para falar só a partir de 1974, relações de parentesco, conjugalidade e análogas, afinidade e amizade no Governo e na Administração Pública…

Há lá coisa mais linda que uns primos que se dão tão bem que quando um é alçado à dignidade governativa se não esquece do outro? Não é tocante que as famílias se ajudem e permaneçam unidas? Está tudo louco! E ainda querem legislar sobre isto! Com a dificuldade que há em arranjar alguém de jeito para estes cargos que ninguém quer, arriscamo-nos a ter Governos sem Ministros. Onde pararia o país? Uma espécie de Bélgica, há alguns anos atrás, em que o reino, sem Governo, batia sucessivos recordes económicos?

Qualquer dia, caro Sr. Primeiro-Ministro, ainda se lembram de legislar no sentido de obrigar alguém nomeável a fazer testes de ADN como na Islândia, em que, devido à pouca dimensão populacional, os “banhos” que conduzem ao casamento podem ser impedidos por relações de consanguinidade ou parecidas… Veja-se o ultraje! E os familiares que não conhecemos? Filhos de uma prima afastada lá da aldeia que são competentes e cuja existência se desconhecia até sair o maldito teste de ADN?

Qualquer dia ainda exigem um rigoroso “check-up” médico e do cromossoma antes de alguém entrar na Administração Pública. Já não bastam os famosos “atestados de robustez física e psíquica”, que tanto têm contribuído a que só a nata da nata trabalhe para o Estado?

Descanse, Sr. Primeiro-Ministro, o povo é sábio e distingue o que é mesmo importante do que é folclore e o povo que V. Exa. tão bem conhece gosta de histórias familiares com final bonito, em que tudo acaba com beijos alambazados e grandes festas ciganas que se prolongam por uma legislatura. Não ligue. E se algum dos seus filhos quiser ir para o Governo, não hesite: acaso se pode confiar mais em alguém que no sangue do nosso sangue?

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