António José Seguro diz que saída do Reino Unido será “muito dolorosa”

Ex-líder do PS quebrou o silêncio de quatro anos e meio para falar sobre o Brexit a estudantes de Penamacor, a sua terra Natal.

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Seguro abandonou a vida política em Setembro de 2014, após a derrota nas primárias fvl Fernando Veludo/NFACTOS

O antigo secretário-geral do PS, António José Seguro, considerou esta quinta-feira que, se a saída do Reino Unido da União Europeia se concretizar, ela “será muito dolorosa” para todos. “A haver saída, ela será uma saída muito dolorosa. Uma saída dolorosa para a Europa e, fundamentalmente, uma saída muito dolorosa para o próprio Reino Unido”, afirmou.

António José Seguro, que não faz qualquer intervenção pública sobre temas de actualidade desde que perdeu as primárias no PS para António Costa, em 2014 - a sua única intervenção pública desde então ocorreu em Março de 2016, quando lançou um livro sobre A reforma do Parlamento português” - falava no final da sessão intitulada “A Europa, a Casa da Democracia”, que teve lugar no Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches, em Penamacor, terra de onde é natural, no distrito de Castelo Branco. 

Perante uma plateia essencialmente constituída de estudantes e já quando respondia a questões que lhe tinham sido colocadas, António José Seguro partilhou uma conversa que teve no dia a seguir ao referendo, na qual assumiu que estava convencido que o Reino Unido nunca sairia da União Europeia (UE).

Actualmente, e tendo em conta “os passos” que estão a ser dados, António José Seguro considerou que essa opção está mais próxima, mas salientou que as razões que o levavam a não acreditar na saída também estão a emergir.

“De facto é muito difícil sair, quando há relações de interdependência muito grandes. E não se pode sair dizendo: ‘Olhe, eu saio dos meus deveres, mas quero manter todos os meus direitos’. Não, pode ser assim. O Reino Unido faz falta à União Europeia, mas faz falta de corpo inteiro e estando cá e sendo co-responsável em direitos e em deveres”, acrescentou.

António José Seguro referiu ainda que, agora, a solução não é fácil, até pelas relações que estão estabelecidas com os outros países europeus, e considerou que a decisão de avançar com o referendo foi “irresponsável”.

“Esse é outro drama que a Europa tem, não tem líderes a pensar na Europa. Não tem líderes a pensar nos europeus. Tem líderes a olhar para o egoísmo dos Estados”, disse.

Ao longo da intervenção, António José Seguro também apontou o desnorte da UE como um dos principais problemas que o projecto europeu enfrenta, tendo mesmo comparado a situação com uma pessoa que está a meio de uma ponte e não sabe para que lado deve seguir.

“A Europa neste momento está numa situação em que não sabe para onde é que quer ir. E como não sabe para onde quer ir, anda sempre a correr atrás do prejuízo e isso tem consequências na vida das pessoas”, afirmou.

Europeísta convicto, o antigo secretário-geral socialista defendeu a importância da UE como um projecto “generoso e solidário” e sublinhou a relevância do voto nas eleições europeias marcadas para 26 de Maio, não só porque é “um erro” deixar que os outros decidam, mas também para não dar espaço à “ilusão dos nacionalismos, extremismos e populismos”.

“Isso seria de facto um tiro no próprio projecto europeu e seria, sobretudo, um retrocesso do ponto de vista civilizacional”, reiterou, lembrando que a “democracia é uma planta que deve ser regada e acarinhada” e deixando o apelo aos presentes para que cuidem dessa democracia.

Na terça-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou pretender pedir um novo adiamento do “Brexit "o mais curto possível”, ao mesmo tempo que convidou o líder da oposição, o trabalhista, Jeremy Corbyn, para negociar um entendimento sobre alterações à Declaração Política para as relações futuras entre o Reino Unido e a UE, que acompanha o Acordo de Saída, que possam ser apresentadas ao Conselho Europeu de 10 de abril e permitam aprovar os documentos no parlamento.

A decisão definitiva de prorrogar o período de negociações do “Brexit” cabe aos líderes dos restantes 27 Estados-membros, implicando uma extensão longa a participação do Reino Unido nas eleições europeias.

Hoje, o ministro britânico para o “Brexit”, Stephen Barclay, admitiu a possibilidade de o Reino Unido participar nas eleições europeias de Maio se o Parlamento não aprovar um acordo de saída do Reino Unido da UE.

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