Bombas e boicotes recebem Macron na Córsega

Presidente francês prometeu “diálogo pela História” com os nacionalistas corsos, mas recusou convite para ir à Assembleia da Córsega.

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Macron visitou uma fábrica de enchidos e presuntos em Cozzano, no departamento da Córsega-do-Sul LUSA/OLIVIER SANCHEZ

Emmanuel Macron terminou esta quinta-feira na Córsega o seu périplo nacional no âmbito do grande debate iniciado devido aos protestos dos Coletes Amarelos. Uma visita que provocou tensão na ilha mediterrânica, com duas bombas encontradas esta semana junto a edifícios públicos e um boicote dos eleitos nacionalistas corsos à passagem do chefe de Estado francês.

Apesar de há alguns anos adormecido, o conflito com o movimento nacionalista na Córsega permanece latente na ilha. Os eleitos nacionalistas chegaram a convidar Macron para um debate na Assembleia da Córsega na manhã de quinta-feira, mas o Presidente preferiu evitar o embate e declinou comparecer.

Em entrevista ao Corse-Matin, Macron oferecera aos nacionalistas um “diálogo pela História”, que foi logo aceite e o convite endereçado. “Em resposta a essa declaração, vimos reafirmar, publicamente e solenemente, que também temos essa vontade firme de nos envolvermos nesse ‘diálogo pela História’”, referiu Gilles Simeoni, presidente do Conselho Executivo corso, lendo uma declaração em seu nome e em nome do presidente da Assembleia da Córsega, Jean-Guy Talamoni.

Os nacionalistas pretendiam que esse diálogo começasse já, na instituição que “simboliza a história contemporânea da Córsega” – a assembleia foi criada em 1982 quando o estatuto político da ilha passou de departamento para colectividade territorial única. Macron recusou: “O Presidente da República está disponível para uma conversa com os senhores Simeoni e Talamoni em Cozzano [no sul da Córsega, que Macron visitou] ou em Paris”, adiantou o Palácio do Eliseu. Em resposta, os nacionalistas corsos boicotaram a passagem de Macron pela ilha.

“É um mau vento o que sopra na Córsega”, escreveu em editorial na Europe 1 Jean-Michel Aphatie, que acusa Simeoni e Talamoni de contribuir para “um clima de tensão que aquece as cabeças que já estão quentes”.

As duas bombas encontradas na segunda-feira junto a uma tesouraria e perto do edifício da direcção departamental de finanças públicas, em Bastia, e que não chegaram a deflagrar, mostram até que ponto estão quentes os ânimos na ilha mediterrânica. “Esses dois engenhos explosivos são intimidação”, acrescentou Aphatie.

“A elaboração dessas bombas é obra de amadores, mas é preciso determinar se as fizeram deliberadamente para não explodir ou se foi resultado do seu amadorismo”, disse ao Le Monde uma fonte próxima da investigação, entregue ao departamento antiterrorista da procuradoria de Paris.

A ilha conheceu um recrudescimento de acções violentas contra casas de férias de pessoas que vivem fora da Córsega. No fim-de-semana passado, uma casa foi destruída em Sagonde, no departamento da Córsega-do-Sul, enquanto outra em construção foi parcialmente demolida em Venzolasca, na Alta Córsega. Há menos de um mês, na madrugada de 10 de Março, seis residências tinham sido alvo de atentados à bomba não reivindicados.

Questionada pelo Le Monde, a procuradoria de Bastia explicou “que, por agora, ninguém pode afirmar que haja um regresso da violência política” à Córsega. Os autonomistas e os independentistas, escreve Aphatie, “alimentam as tensões e um dia tudo isso acabará mal”.

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