Espectáculo feito com os cidadãos de Ílhavo alerta para o lixo

A produção “Marés” irá invadir, sábado e domingo, as ruas da Gafanha da Nazaré. É apenas uma das várias propostas de um festival dedicado aos robertos e às marionetas.

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Está prestes a chegar o dia em que os “animais se vão revoltar contra esta forma de viver das pessoas, em que tudo é descartável, de plástico, poluindo rios e oceanos”. Na frente de “batalha” vai estar o “Monstro das Marés”, “uma marioneta de grande escala” (entre quatro a cinco metros de comprimento), que tem uma missão muito importante para cumprir: alertar consciências. É esta a ideia central da história que a companhia Teatro e Marionetas de Mandrágora se prepara para apresentar ao público na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, num espectáculo que envolve a comunidade.

Cerca de 50 pessoas, com ou sem experiência no mundo do espectáculo, fazem parte do elenco que, sábado e domingo, irá percorrer as ruas daquela cidade. O espectáculo “Marés” é uma das várias propostas do festival Palheta, dedicado aos robertos e às marionetas. Uma aposta do 23 Milhas, projecto cultural do município de Ílhavo, que vai já no seu terceiro ano enquanto Palheta, apostando numa programação para vários públicos (ver caixa).

Mais do que trazer a comunidade para o palco – que, neste caso, será o espaço público -, a produção da Mandrágora decidiu envolver os cidadãos na preparação de todo o espectáculo. Durante várias tardes e noites, estiveram envolvidos em oficinas e ensaios, para aprender a trabalhar a manipulação de objectos, a construção de marionetas, a criação de figurinos ou a construção de uma banda sonora.

Eduarda Gaspar, de 71 anos, tem estado dedicada à parte dos figurinos, canalizando para aquela oficina a sua experiência como costureira. “Aqui, a diferença é que colocamos lixo, plástico e latas, nas peças de roupa”, repara. Botões, copos, latas, brinquedos, tudo é aproveitado para decorar as peças de roupa ou acessórios que vão ser usados pelos figurantes. Dezenas - talvez centenas – de objectos que foram recolhidos em “praias do Norte” do país, pela própria responsável pelos figurinos, Patrícia Costa. “Fico um pouco chocada com a quantidade de lixo que se encontra no areal”, testemunha, ao mesmo tempo que acaba de coser umas antigas latas num casaco.

No espectáculo “Marés” o lixo também acaba por ser transformado em “instrumento musical”, realça Filipa Mesquita, produtora e uma das responsáveis da Mandrágora. O objectivo é que a mensagem passe, que o público perceba “o mal que toda esta quantidade de plástico está a fazer aos oceanos e à natureza em geral”, acrescenta. Nesta exibição, que irá partir do Jardim 31 de Agosto para a rua (sábado e domingo, às 15h30), o grito de alerta será, então, lançado por um conjunto de criaturas marinhas, algumas das quais já conhecidas do público português.

“Trazemos para esta produção os ‘Monstrengos’, que nasceram de uma criação feita a convite da Volvo Ocean Race, em Lisboa”, adianta Filipa Mesquita.

São cinco marionetas manipuladas – que representam cinco criaturas marinhas -cada uma delas com mais de dois metros de comprimento. Neste novo espectáculo, aparecerão acompanhadas do “Monstro das Marés” – figura criada propositadamente para a apresentação no “Palheta” e quem tem estado a ser construída pelos cidadãos que responderam positivamente ao apelo da Mandrágora. Como é o caso de Liliane Balcão, brasileira a viver temporariamente na Gafanha da Encarnação. “Nunca tinha visto uma marioneta tão grande”, confessa. Professora do ensino básico, gosta muito de trabalhar a área do teatro com crianças e, segundo garante, esta experiência na produção do “Marés” já lhe permitiu adquirir conhecimentos que irá, depois, colocar em prática.

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