Chicago elege uma presidente de câmara negra e lésbica

A advogada Lori Lightfoot nunca tinha sido eleita para qualquer cargo público. Derrotou uma política experiente numa cidade com uma forte “máquina partidária” democrata.

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Lori Lightfoot no discurso da vitória: "Estão a ver algo, bom, um bocadinho diferente" JOSHUA LOTT/Reuters

A cidade de Chicago tornou-se a primeira entre as grandes cidades americanas a ter uma mulher negra e lésbica como presidente da câmara: Lori Lightfoot.

Lightfoot, 56 anos, tem outra característica: é uma outsider na política, e venceu por uma maioria significativa a rival mais próxima, Toni Preckwinkle, de 71 anos, uma veterana do Partido Democrata. Ambas se apresentaram como candidatas progressistas, do mesmo partido, e ficaram à frente após a primeira ronda de votos entre 14 candidatos.

“A campanha”, diz a emissora pública NPR, “foi muito diferente de quase todas as outras eleições numa cidade que tem sido sinónimo da máquina política democrata e do caciquismo durante quase um século”.

A eleição para presidente da câmara de Chicago é aberta – os candidatos surgem no boletim de voto sem a indicação do partido. Mas os candidatos com hipóteses de vencer são sempre ligados ao Partido Democrata, porque o eleitorado do Partido Republicano na cidade não ultrapassa os 20% – a última vitória de um republicano aconteceu em 1927.

Lori Lightfoot comemorou a vitória com a sua mulher e filha. “Hoje há muitas raparigas e rapazes atentos. Eles estão a ver-nos. E estão a ver o início de uma coisa um pouco diferente”, disse, citada pela CNN. “Estão a ver uma cidade a renascer. Uma cidade onde a cor não interessa. Onde não interessa quem se ama, desde que se ame com todo o coração”.

Lightfoot substitui Rahm Emanuel, que foi chefe de gabinete do Presidente Barack Obama e estava há oito anos à frente da câmara da cidade. 

A corrida para a sucessão abriu-se no ano passado quando Emanuel anunciou que não se recandidatava. Conhecido - nota a NPR - por ser eficaz a recolher fundos de campanha e pela sua combatividade, Emanuel tinha antes dito que planeava concorrer a um terceiro mandato.

Mas a sua popularidade vinha a diminuir com a crise financeira da cidade, e era alvo de críticas devido a medidas como o encerramento de instituições de ensino públicas (em que estudavam sobretudo negros e hispânicos), e devido à relação entre a polícia e a comunidade negra.

Lightfoot, advogada, ganhou relevância ao presidir a uma comissão para a maior responsabilização da polícia. Foi uma task-force criada por Emanuel em 2015 na sequência do escândalo em que um adolescente negro, Laquan McDonald, de 17 anos, foi morto por um polícia branco, Jason Van Dyke, que disparou 16 vezes contra o jovem enquanto este se afastava. Dyke foi condenado em 2018.

O jornal Chicago Tribune destaca entre as propostas de Lightfoot o aumento do acesso a habitação acessível, a criação de um gabinete de segurança pública para reduzir o crime e a reforma da polícia, e ainda um imposto sobre as vendas de imóveis para ajudar a ter menos sem-abrigo. 

“Juntos, podemos finalmente pôr o interesse do povo - todo o nosso povo - acima do interesses de uns poucos poderosos”, disse no discurso de vitória, citado pelo diário britânico The Guardian. “Juntos, podemos fazer de Chicago um sítio onde o código postal de uma pessoa não determina o seu destino.”

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