Câmara de Lisboa admite reduzir velocidade na Segunda Circular e reforçar restrição de carros no centro

A redução do limite de velocidade contribuirá para um melhor escoamento do trânsito nesta artéria da cidade. Município pondera limitar circulação de veículos poluentes no centro da cidade.

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Daniel Rocha

O vereador da Segurança e Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, Miguel Gaspar, admite reduzir o limite de velocidade em toda a Segunda Circular, em especial no troço entre o nó da Buraca e o Fonte Nova, na zona de Benfica.

Em entrevista à agência Lusa, o responsável pela pasta da Mobilidade na capital explicou que “o troço que fica entre o nó da Buraca e a zona do Fonte Nova” é onde há mais acidentes, pelo que a autarquia está a considerar baixar o limite de velocidade para 50 quilómetros/hora (km/h).

Miguel Gaspar (PS) avançou também que não exclui “a hipótese de avaliar uma redução maior em toda a Segunda Circular, como, aliás, foi feito no Eixo Norte-Sul” pela Infra-estruturas de Portugal.

“Embora as pessoas possam achar que isto até as prejudica, não, porque não só é mais seguro, como a Segunda Circular a 60 km/h consegue fazer escoar mais carros do que a 80 km/h. Portanto, na verdade, melhora a fluidez [...] e perde-se menos tempo nas horas de ponta”, exemplificou.

Relativamente à expansão da rede de radares na capital, o autarca adiantou que o objectivo é passar “dos 21 para pelo menos 40”, defendendo que são necessários para “reduzir a sinistralidade na cidade de Lisboa”.

O vereador da Mobilidade na Câmara de Lisboa referiu que “a Polícia Municipal adquiriu recentemente um radar móvel, que já está a começar a ser usado” e que será destinado às vias com mais acidentes, como a Avenida Infante Dom Henrique.

“Morreram mais de 140 pessoas em 10 anos na cidade de Lisboa, portanto dá uma média de 14-16 pessoas por ano. Podemos perguntar se o número é grande, se é pouco, se o que é que é. Mais do que zero é demasiado”, disse.

Miguel Gaspar apontou ainda que as ruas de quarto e quinto nível de importância da cidade de Lisboa deverão passar a ter um limite de 30 km/h, ou seja, “aquilo que é abaixo da Avenida de Roma em termos de importância”.

“Nenhum radar está escondido, todos os radares são muito visíveis, estão bem anunciados. Sinceramente, só é apanhado em excesso de velocidade quem vai distraído e vai a incumprir de facto”, acrescentou.

“É muito melhor termos radares do que mortes na estrada”, reforçou.

Município pondera limitar entrada de carros poluentes no centro da cidade 

O vereador está também a equacionar aumentar a protecção do centro da capital face aos carros mais poluentes, recorrendo à fiscalização electrónica.

“A nossa opção já é, por via do desenho da hierarquia viária, tirar carros do centro, e, em cima disso, estamos a equacionar ir mais longe, com medidas de maior protecção do centro”, afirmou Miguel Gaspar, referindo-se ao aumento do nível das restrições já existentes desde 2015 a veículos poluentes.

O vereador revelou que este ano está prevista a criação de parques dissuasores com mais de 2500 lugares, bem como de pontos de carregamento rápido de veículos eléctricos em Entrecampos, Belém e Parque das Nações, estando ainda a ser estudada a instalação de locais de carregamento para frotas profissionais em espaços vagos nos bairros municipais.

O responsável pelas pastas da Mobilidade e Segurança no município lisboeta está a estudar aumentar as restrições existentes, com recurso a “instrumentos de fiscalização electrónica” que possam substituir as tradicionais operações “stop” da Polícia Municipal.

Só este ano, estas operações multaram 55 condutores nas chamadas “zonas zero”.

O autarca não exclui “aumentar uma maior restrição de circulação no centro”, mandatado por um plano para as energias sustentáveis e o clima, que prevê a interdição de carros a “diesel” no centro de Lisboa até 2030, aprovado por unanimidade na Câmara e na Assembleia Municipal no ano passado.

Ainda assim, sublinhou, as decisões não estão tomadas e o vereador afasta a ideia de portagens urbanas.

“Entre o estacionamento e as medidas de microgestão de tráfego, acredito que há uma alternativa melhor do que uma portagem urbana”, defendeu, referindo que uma das razões que as pessoas apontam para andarem de transporte público é o preço do estacionamento.

“O preço do estacionamento já é uma forma de portagem”, sustentou, atribuindo à política de estacionamento um “papel muito importante” na mudança de comportamentos.

Apesar do aumento projectado de parques dissuasores para este ano, Miguel Gaspar alertou que os parques mais estruturantes existentes não estão cheios.

“O parque da Ameixoeira tem sistematicamente 200 lugares livres. Este parque custa 10 euros por mês para quem compra o passe, são 50 cêntimos por dia”, afirmou.

Além dos 440 lugares que serão disponibilizados nas próximas semanas no Areeiro, estão a ser ultimados aspectos formais para a criação de “dois parques dissuasores da Pontinha, que, em conjunto, vão ser 2200 lugares”, além de um outro “parque de grande dimensão” na zona do Parque das Nações.

“Para quem vem do corredor de Santa Iria, da A1, é uma boa alternativa na zona da Expo. É no último terreno de Lisboa, junto ao Trancão, onde há um apeadeiro da CP, para as pessoas conseguirem a partir da CP e da Carris chegar ao Parque das Nações ou, pela CP, ao centro de Lisboa”, explicou.

Relativamente à mobilidade eléctrica, o vereador identificou “uma falha de mercado": “Não há redes de carregamento rápido na cidade de Lisboa”.

Para ajudar a colmatar essa falha, serão criadas três zonas com sete a oito postos cada uma, em Entrecampos, Belém e Parque das Nações, locais que foram identificados ouvindo a necessidade dos utilizadores e tendo em conta a disponibilidade da infra-estrutura da rede eléctrica da cidade.

“Além disso, estamos a falar com interessados, empresas comercializadoras de energia e operadoras de pontos de carregamento, para que possam ser criados pontos de carregamento de elevada disponibilidade para frotas profissionais”, revelou.

O objectivo é que “empresas que não tenham parqueamento e estruturas próprias para carregar os seus carros nas suas instalações possam ir a um sítio da Câmara de Lisboa com 30, 40, 50, 60 pontos”.

Esta medida está a ser pensada com um enquadramento social dos bairros municipais, geridos pela empresa municipal Gebalis.

“Estamos a tentar localizar estes pontos em espaços que hoje estão fechados, estão emparedados, de bairros municipais. São garagens que são da Câmara de Lisboa e a oportunidade de as requalificar é também de ter um projecto social nos bairros municipais, em que não só damos ainda mais vida àqueles bairros como criaremos oportunidades de emprego”, explicou.

O município está ainda “em conversação com operadores para aumentar a rede de carregamentos, em particular, semi-rápidos”, tendo disponibilidade para, por exemplo, “trocar espaço de estacionamento por espaço de carregamento, para alargar a rede de carregamento.”

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