Eli Keszler e a bateria como raramente a ouvimos

Virtuoso da percussão, o nova-iorquino Eli Keszler apresenta-se esta sexta-feira em Braga, para uma sessão onde som e espaço participam na mesma experiência imersiva.

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Dizer-se que é baterista, constitui uma verdade inabalável, no entanto pode induzir em erro. É que o americano Eli Keszler não corresponde ao que ainda é o retrato padrão da maior parte dos bateristas, desfazendo qualquer ideia pré-concebida de como aquele instrumento deve soar. Nele tudo é subtileza, ambientes, texturas, encontros frágeis entre espaços, tempos e ritmos mais sugeridos do que autenticados.

Esta sexta-feira vai apresentar-se, em data única, no espaço GNRation de Braga, depois de há uns anos ter estado no festival Madeira Dig, e vem na hora certa. É que o pretexto é a apresentação do álbum Stadium, que no ano passado lhe valeu o elogio quase unânime de quem se move pelas alamedas mais aventureiras da música actual, numa síntese de territórios onde se tocam as músicas ambientais, as electrónicas, o jazz ou os ritmos disjuntos do drum & bass, sem que a sua música pertença exactamente a qualquer uma dessas filiações.

Activo há mais de uma década e com nove álbuns lançados, para lá do EP Empire que já foi editado em Janeiro deste ano, é um artista multidisciplinar, percussionista, compositor, artista sonoro e visual, que se tem debruçado sobre a interacção entre som e ambientes, transformando espaços físicos e virtuais através das suas performances, instalações e gravações. Enquanto percussionista tem sido colaborador regular de nomes da música mais ousada, como Laurel Halo, Oneothrix Point Never, Keith Fullerton Withman ou Joe McPhee.

A sua música é instrumental, mas não só responde à arquitectura dos lugares, como aos impasses e dinâmicas socioeconómicas do nosso tempo. Não é por acaso que no seu último álbum encontramos temas com títulos como Measurement doesn’t change the system at all ou We live in pathetic temporal urgency, embora o principal motivo de inspiração para o seu mais recente registo tenha sido a mudança de residência de Brooklyn para o coração de Nova Iorque em Manhattan.

É como se tentasse captar a essência sonora dos bairros da cidade, através de estruturas elásticas, ritmos microscópicos e uma singular ordenação espacial. Como tantos outros aventureiros contemporâneos, Eli Keszler é um daqueles estetas que há muito percebeu que a omnipresença do barulho e da música no espaço público se tem vindo a tornar no principal inimigo da própria experiência musical, banalizando-a, tornando-a indiferenciada ou confusa. Na desordem ninguém se ouve. Como encontrar ordem no caos, eis a pergunta a que tem tentado responder com música, organizando-a com silêncios, intervalos e vazios, dando tempo para nos submergirmos nela.

O resultado é uma magnífica aventura de dinâmica e investigação sonora, onde o ritmo, e a abordagem virtuosa à bateria, conduzem o público para uma nova dimensão. Braga vai poder senti-lo nesta sexta-feira.  

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