Trabalhar e ser feliz? Há empresas que apostam na felicidade dos seus colaboradores

O que é que a felicidade tem a ver com criatividade, menos stress e mais produtividade? Alguns empresários respondem na 4ª edição do Norte Yoga, que decorre na Porto Business School.

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No quarto andar da Porto Business School (PBS), em Matosinhos, os colaboradores vão entrando numa sala com vista para um jardim e sentam-se nos tapetes vermelhos dispostos em xadrez. A professora de ioga Catarina Santos Ferreira vai orientando: “Sentamo-nos de pernas cruzadas, com as costas verticais. Fechamos suavemente os olhos, concentramo-nos na nossa respiração e sentimo-nos, aos poucos, cada vez mais leves.”

Esta é uma das aulas que a Confederação Portuguesa de Yoga dá às sextas-feiras, pela hora do almoço, a cerca de 15 colaboradores da escola de negócios e a mais duas dezenas de trabalhadores da Sonae de Matosinhos. “Para ajudar a ultrapassar situações de stress, trabalhar a ergonomia, a concentração, a capacidade de gestão de tempo, a recarregar baterias”, explica a professora que é também a responsável pela organização da 4.ª edição do Norte Yoga, cujo tema é “Produtividade, Excelência e Felicidade” e que decorre nesta sexta-feira e no sábado, na PBS.

Este é um fórum de partilha de boas práticas para empresas e organizações públicas e privadas, onde vão estar oradores da Sonae (a que o PÚBLICO pertence), da Amorim Cork Composites, Altronix, Fundação Casa de Mateus, mas também de organizações ligadas à saúde como o IPO-Porto, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, o Hospital de S. João, entre outros.

Durante dois dias vão falar sobre gestão de stress, sustentabilidade ambiental, ergonomia, partilha de conhecimento e responsabilidade social. O ioga pode ser um elo de ligação e os colaboradores da PBS, que fazem estas aulas desde 2017, sabem-no bem. “Contribui para a felicidade no ambiente de trabalho”, resume Márcia Coelho, responsável pela área da gestão de pessoas da PBS, que aderiu à iniciativa desde a primeira hora.

“A PBS acredita que a prática do ioga contribui para os níveis físico, de consciência e emocional”, continua Márcia Coelho, poucos minutos antes de iniciar a aula. E considera que os colaboradores só têm a ganhar com a prática, porque “é o desligar de uma semana de trabalho, de stress”. Por exemplo, no seu caso, sente que fica mais relaxada, concentrada e ter mais produtividade. “Quando não pratico, sinto falta”, confessa.

Martim Leal, analista de marketing, e Mafalda Ferreira, responsável de comunicação da PBS, partilham da mesma opinião. “Já fazia meditação. Mas é no ioga que encontro a verdadeira meditação”, conta Martim Leal enquanto se prepara para entrar na sala. Os benefícios não ficam por aqui. “Melhorei a minha postura, tenho menos dores de costas, e tenho mais flexibilidade”, diz, satisfeito. Já Mafalda Ferreira sente diferença quando não vai à aula: “Quando vou, tenho maior capacidade de concentração, porque estou mais relaxada e consigo depois relativizar os assuntos. Contribui para a minha produtividade.”, elucida.

Ana Martins, professora e directora do departamento de comunicação da Confederação Portuguesa do Yoga refere os benefícios sentidos por quem pratica ioga a partir de um questionário que a organização fez em Novembro de 2018, junto dos praticantes de algumas das organizações onde a  instituição dá aulas, como a Sonae, o Intermarché, o IPO-Porto e a Universidade do Porto. Neste, 96% dos 78 entrevistados afirmaram ter mais energia e vitalidade, e sentirem-se mais relaxados após a prática do ioga. Depois, 94% sente-se mais saudável e 87% mais feliz. Outros 77% afirmaram gerir melhor o stress. No que toca ao impacto do ioga no trabalho diário, 83% sente que, em geral, corre melhor nos dias em que o pratica.

Empresa feliz

Também os empresários acreditam que o bem-estar e a felicidade são pilares para o sucesso das empresas. Por exemplo, a Altronix já foi distinguida várias vezes como “Empresa Feliz” e é considerada uma das dez mais felizes em Portugal – segundo a revista Exame e o semanário Expresso – pelas iniciativas que tem junto dos trabalhadores como, por exemplo, celebrar o Verão de chinelos e calções. “Percebi que alguém que está motivado e feliz, cria mais valor e produz mais. E não é só a produtividade directa, ou seja, vai ser mais pró-activo e não reactivo, e vai sugerir novas metodologias de trabalho”, justifica Rui Fonseca, fundador da empresa de etiquetagem.

O empresário sabe bem a importância da felicidade e motivação no local de trabalho pois recorda-se de, aos 13 anos, trabalhar numa oficina de automóveis, onde “o ambiente era muito mau e uma ordem vinha acompanhada de uma palmada”, recorda.

Também José Teixeira, presidente do DST Group, de engenharia e construção civil, de Braga, acredita que ao proporcionar consultas de estética, dentárias e ter um centro de saúde nas instalações, contribui para a felicidade dos cerca de 1600 funcionários. E, por consequência, contribui para que tenham mais criatividade, competitividade e produtividade, diz.

Neste caso, os trabalhadores vão ao teatro ou ver uma exposição na galeria da empresa, a Zet Gallery. O empresário acredita que “é o nível de cultura do grupo, a capacidade de criatividade, lerem muito, irem ao teatro, ouvirem música” que faz da empresa o que ela hoje é. Ao ponto de abrir o leque para outras áreas além da construção civil, como energias renováveis, telecomunicações, etc.

Rui Fonseca, da Altronix, diz que é à felicidade e ao bem-estar que se deve parte da produtividade e crescimento da empresa. “Temos um sucesso enorme porque temos uma equipa motivada que veste a camisola da Altronix”, diz satisfeito por, pelo segundo ano consecutivo, receber o prémio “felicidade no feminino” por garantir a igualdade de género na empresa.

“Isto tudo requer um foco grande da empresa para proporcionar actividades e metodologias para que as pessoas venham trabalhar com um sorriso nos lábios”, esclarece. “E alguns delírios e pequenas loucuras”, acrescenta José Teixeira, que proporcionou a 25 engenheiros e economistas da empresa uma pós-gradução centrada em economia comportamental. “Quando terminarem, vão ter mais prazer e momentos de felicidade”, acredita.

Para a advogada de direito do trabalho Carla Naia há necessidade de se regulamentar e legislar sobre o direito à desconexão, ou seja, o direito do trabalhador ao repouso e ao lazer, numa altura em que as pessoas estão, por intermédio das novas tecnologias, mais ligadas ao trabalho, mesmo fora do horário. Quanto às actividades que as empresas propõem também salvaguarda que “não será legítimo impor um dever de obediência do trabalhador à participação nessas acções ou, pelo menos, deve ser dada a possibilidade de, justificadamente, delas não participarem”. Isto porque, refere, estas “extravasam o objecto contratual, ou seja, a actividade contratada”. 

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