Morreu Zeca Mendonça, antigo assessor do PSD

José Mendonça trabalhava actualmente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou o assessor como alguém que "serviu a democracia".

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Zeca Mendonça com Francisco Sá Carneiro DR
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Mota Pinto foi outro dos líderes que o assessor do PSD acompanhou DR
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Com Francisco Balsemão, à entrada da sede do PSD, já na Lapa DR
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Cavaco Silva tinha os seus assessores no gabinete de primeiro-ministro, mas não dispensava o apoio de Zeca DR
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Fernando Nogueira foi líder durante pouco tempo, mas Zeca Mendonça também o assessorou DR
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Com Mota Amaral, que foi líder do Governo Regional dos Açores DR
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Com Alberto João Jardim, que liderou o Governo madeirense DR
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Com Marcelo, o líder por quem viria a trocar o PSD, assessorando-o na Presidência da República DR
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Durão Barroso e Zeca Mendonça à conversa, ainda antes de Durão ser líder do PSD PÚBLICO
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Quando Durão passou a pasta a Santana, Zeca manteve-se no PSD Adriano Miranda
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A única mulher líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, também contou com o apoio de Zeca Mendonça Adriano Miranda
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Para Marques Mendes, Zeca era um "laranjinha de uma dedicação sem limites" PÚBLICO
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Zeca Mendonça a zelar por Luís Filipe Menezes Nuno Ferreira Santos
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Zeca no congresso do partido, com pose de líder, aplaudido por Pedro Passos Coelho Adriano Miranda
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Zeca entre vários líderes DR

José Luís Mendonça Nunes morreu esta quinta-feira aos 70 anos. Conhecido por “Zeca”, o histórico assessor político do PSD morreu devido a um cancro no pulmão. O velório realiza-se no sábado, a partir das 18h, na Basílica da Estrela e a missa de corpo presente está marcada para as 14h30 de domingo, seguindo o funeral para o cemitério da Galiza, no Estoril.

Assessor de imprensa do PSD ao lado de 17 presidentes desde 1977, Mendonça não trabalhou com o actual líder, Rui Rio. Estava há mais de um ano a assessorar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém. Começou como segurança no partido em 1974 depois de ter sido militante da Juventude Operária Católica (JOC), trabalhado no teatro​ e com o músico Jorge Palma.

Representou em algumas peças e, nos anos 60, torna-se próximo de vários artistas, como Paulo de Carvalho e Carlos Mendes, e, em especial, do cantor Jorge Palma, com quem parte à aventura para o Algarve em 1968. Nessa viagem, chega a cantar uns fados “para estrangeiros”, segundo relatou ao PÚBLICO em 2012.

Em 2016, no último congresso do PSD, Zeca Mendonça foi um dos funcionários homenageados com aplausos, de pé, por parte dos delegados.

Ao Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte do assessor que serviu de forma discreta, leal, competente e devotada todos os líderes do PSD”. “Privou de forma afectuosa com todos os quadrantes partidários, nessa medida servindo a democracia portuguesa”, elogiou o Presidente da República.

Em comunicado, o PSD “recebeu com profunda consternação que o Partido Social Democrata recebeu a notícia do falecimento do histórico assessor Zeca Mendonça”. “Faltam as palavras para expressar a sua importância para o partido e para todos aqueles com quem se cruzou ao longo da vida”, acrescentou o partido que envia condolências à família e amigos do seu antigo funcionário.

"Nele e com ele, o humanismo era poder"

O ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva lembra o antigo assessor do PSD Zeca Mendonça como “um homem bom” a quem o partido e “cada um dos seus líderes muito devem”.

Numa declaração escrita, Cavaco Silva, que liderou o PSD entre 1985 e 1995, refere que foi com “tristeza” que tomou conhecimento da morte de Zeca Mendonça e recorda que ainda há poucos dias falou com ele.”A propósito do seu aniversário, há uns dias, tive oportunidade de transmitir ao Zeca e à família que nunca esquecerei o quanto ele me ajudou na minha vida política. Foram dezenas de campanhas feitas com o seu apoio directo, que mostraram a sua enorme lealdade, capacidade e dedicação, ao PSD e, dessa forma, a Portugal. Presto-lhe uma sentida homenagem”, lê-se na nota assinada por Cavaco Silva.

No Twitter, Rui Rio lamenta a morte do histórico assessor, descrevendo-o como “um profissional competente, honesto e de enorme dedicação ao PSD”. “O Zeca faz parte da história do PPD/PSD, e deixará, para sempre, uma enorme saudade em todos nós”, acrescenta.

 O antigo presidente do PSD Pedro Santana Lopes recorda Zeca Mendonça como “a boa sombra” de todos os líderes sociais-democratas. “É a perda de um grande amigo, de um confidente meu e acho que de todos os presidentes do PSD. Era a nossa sombra, a boa sombra, na qual nos abrigávamos muitas vezes, nomeadamente quanto o tempo piorava”, diz Santana Lopes à Lusa. “Ele acompanhava-nos para todo o lado, são cargos solitários, e o Zeca era o confidente. Tornámo-nos amigos. Foi sempre impecável e irrepreensível comigo, era um cavalheiro”, destacou.

Também o antigo primeiro-ministro Durão Barroso reagiu, no Twitter, à morte de Zeca Mendonça: “Notícia muito triste: Morreu o nosso Zeca Mendonça, uma pessoa muito boa que faz parte da história do PSD”.

Paulo Rangel, actual cabeça de lista do PSD nas Eleições Europeias, tece elogios ao assessor. “Atento, previdente, discreto. Nunca se impunha e impôs-se-nos a todos. Nele e com ele, o humanismo era poder. O poder de fazer bem. Bem ao outro”. “O Zeca Mendonça ensinou-me muito; muitíssimo”, escreve no Twitter. Paulo Rangel recorda ainda a altura em que era líder parlamentar do PSD, em 2007. “Desde então ficámos sempre a falar”, afirma.

O Vice-presidente do PSD, Maló de Abreu, refere-se a Zeca Mendonça como “um companheiro insubstituível”. “Como, aliás, são todos os nossos grandes e bons amigos de tantos anos. Mas alguns deviam ser imortais”, escreve no Facebook. Também o secretário-geral do PSD, José Silvano, lamenta a morte do assessor, uma “referência histórica” que “era apreciada por todos os quadrantes políticos”. 

O homem “ao lado de todos os presidentes"

José Luís Mendonça Nunes, conhecido por “Zeca Mendonça”, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, em 23 de Março de 1949.

Segundo de cinco filhos de um pequeno industrial de mobílias com fábrica em Lordelo (Guimarães), cresceu em Lisboa (na freguesia de Arroios) e frequentou o liceu Camões, época em se liga à Juventude Operária Católica, onde também militava o futuro dirigente da CGTP/Intersindical Manuel Lopes, que era o ensaiador do teatro.

Depois de ter andado na estrada com Jorge Palma, regressou a Lisboa de cabelo comprido, que mantém até ser chamado a cumprir serviço militar: entre 1970 e 1972, deu instrução de obuses no RAL 1, unidade militar que seria importante no 11 de Março e no 25 de Novembro de 1975, passando, entretanto, a chamar-se RALIS.

Nesse período, participa numa manifestação contra o regime, que considera ter sido a causa de ser convocado para duas comissões de serviço na Guiné, onde acabaria por cumprir apenas uma, devido ao 25 de Abril. Ainda ponderou seguir o destino de amigos e emigrar, mas “por moeda ao ar”, contou ao PÚBLICO, decidiu embarcar para o antigo Ultramar.

Regressa a Portugal em Agosto de 1974 e um amigo, João Inácio Simões de Almeida, convidou-o a trabalhar como segurança de um novo partido, o então PPD.

Ainda recolheu algumas das cinco mil assinaturas necessárias à legalização do partido, nas quais se inclui a sua, e vive episódios atribulados no “Verão Quente” de 1975, quer na sede – com várias falsas ameaças de bomba - quer em comícios pelo país.

Em 1977, a segurança do PSD deixou de existir e dão-lhe a escolher entre três opções: o grupo de Estudos, o jornal Povo Livre ou o gabinete de relações públicas, escolhendo este último, sem hesitar. Como assessor de imprensa, trabalhou com 16 presidentes do PSD — ou 17, caso se conte com Leonardo Ribeiro de Almeida, que presidiu à Comissão Política quando Francisco Sá Carneiro liderava o partido e era primeiro-ministro –, só ficando de fora Emídio Guerreiro (secretário-geral por breves meses em 1975, quando ainda era segurança no PSD) e o actual líder do PSD, Rui Rio.

Quem com ele trabalhou destaca duas características: a dedicação ao PSD e a lealdade a todos os presidentes com quem trabalhou, fazendo questão de nunca partilhar com o líder em funções episódios ou comentários desagradáveis sobre os seus antecessores. A facilidade nos relacionamentos e a capacidade de “descrispar” ambientes políticos tensos são outros elogios frequentes ao histórico assessor do PSD.

Manteve uma boa relação, em geral, com a imprensa, com a excepção a acontecer em Março de 2014, durante o Governo PSD/CDS-PP, quando à chegada de Miguel Relvas à reunião do Conselho Nacional dos sociais-democratas, deu um pontapé num fotojornalista que tentava captar imagens num local que teria sido vedado. O episódio, que o próprio classificou como “um descontrolo”, foi ultrapassado com um pedido de desculpas ao repórter.

Em Dezembro de 2017, Zeca Mendonça põe fim a 43 anos de ligação profissional ao PSD para ir reforçar a equipa de assessoria do Presidente da República. Depois de convidado para trabalhar com Marcelo Rebelo de Sousa – quem o conhece bem assegura que foi o seu líder “preferido”, apesar de ser uma pergunta a que nunca respondia —, Zeca encontrou o primeiro-ministro, António Costa, nos corredores do parlamento, que lhe deu os parabéns pela promoção e lhe disse que era “a segunda pessoa do PSD” de quem mais gostava, segundo um relato que transmitiu a vários amigos.

Um ano antes, no 36.º Congresso do PSD de Espinho, em 2016, tinha recebido um aplauso, de pé, dos delegados, durante uma homenagem aos funcionários do partido.

Conhecido pela sua discrição, mas também pelos dotes de bom conversador e contador de histórias – sobretudo ligadas ao PSD -, Zeca Mendonça foi por várias vezes desafiado para escrever as suas memórias, mas recusou sempre. “Já me desafiaram para as memórias, o partido sempre teve confiança em mim, pelo que não faria sentido escrevê-las”, justificou ao PÚBLICO, em 2012.

Notícia actualizada às 12h05 de sexta-feira com as informações sobre as cerimónias fúnebres.

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