Alcoutim festeja o contrabando a pensar no futuro

Abriram-se as fronteiras da Europa, mas o isolamento da vila raiana continua. Falta uma ponte para a outra margem.

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enric vives-rubio

Alcoutim faz marcha atrás no tempo, durante três dias, para recordar as velhas histórias do contrabando entre as duas margens do rio Guadiana. Desta sexta-feira até domingo, realiza-se o Festival do Contrabando — uma representação cénica de histórias de vidas, forjadas na cumplicidade entre guardas-fiscais e traficantes, em luta pela sobrevivência num país de portas trancadas. Caíram as barreiras alfandegárias, mas o isolamento desta vila raiana continua. Falta uma ponta para a outra margem.

Durante este fim-de-semana, o acontecimento leva até à zona do nordeste algarvio milhares de pessoas, que aproveitam os festejos para dar um salto até ao interior e, ao mesmo, tempo espreitarem o desabrochar da Primavera no meio da serra. O festival centra-se no legado cultural e histórico da memória colectiva de um território que perdeu pessoas mas não abdica da defesa dos seus valores: “Somos resilientes, e não vamos desistir de reivindicar a construção de uma nova ponte sobre o Guadiana”, diz o presidente da Câmara, Osvaldo Gonçalves, recordando que a obra, simbolicamente, teve direito ao lançamento de uma “primeira pedra” há cerca de duas décadas mas não avançou. “Espero que assunto regresse à agenda política”, enfatiza. Durante o evento vais ser lançada sobre o rio uma ponte flutuante que vai permitir atravessar a pé de Alcoutim para Sanlúcar do Guadiana. 

O Festival do Contrabando, apoiado pelo “365 Algarve — um programa promovido pelos ministérios da Cultura e da Economia destinado a promover o turismo na época baixa - procura preencher as muitas lacunas da programação cultural da região. O autarca, socialista, entende que a ponte flutuante é “apenas um símbolo da vontade de Sanlúcar e Alcoutim em se unirem e sentirem que, efectivamente, fazem parte de uma Europa sem fronteiras”. Muitos dos guardas e contrabandistas, dos tempos passados, já partiram. Agora, recriam-se as suas histórias de vida para contar aos turistas, num concelho a deslizar para a desertificação e despovoamento. 

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