Banco de Portugal revê crescimento de 2019 para 1,7%

O cenário de crescimento mais lento, abaixo de 2%, registado em Portugal no final de 2018, será para manter nos próximos anos, num cenário em que o abrandamento da procura externa limita a possibilidade de crescer por via das exportações.

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Reuters/FRANCOIS LENOIR

Com a conjuntura internacional a tornar-se menos amigável e o efeito da aceleração do consumo a ser abafado pelo aumento forte das importações, o Banco de Portugal voltou esta quinta-feira a rever ligeiramente em baixa a sua estimativa de crescimento económico para este ano.

No boletim económico publicado esta quinta-feira, a entidade liderada por Carlos Costa passou a apontar para um crescimento de 1,7% em 2019, valor que antecipa que se mantenha em 2020, seguindo-se uma descida para 1,6% em 2021.

Os 1,7% previstos para este ano ficam já meio percentual abaixo da previsão de crescimento feita pelo Governo em Outubro quando apresentou o Orçamento do Estado para 2019. Em Abril, o Executivo deverá apresentar uma nova estimativa no Programa de Estabilidade que entregará em Bruxelas. Mário Centeno já reconheceu a existência de uma conjuntura mais difícil, salientando contudo que se continuam a ver sinais positivos na actividade económica em Portugal, nomeadamente na evolução da receita fiscal e contributiva.

O Banco de Portugal explica que a revisão da previsão face a Dezembro se deve aos dados que entretanto foram conhecidos do final de 2018 e que mostraram um ritmo de actividade económica menor do que o antecipado. Além disso, diz o banco, “a revisão do conjunto das hipóteses de enquadramento externo tem um impacto ligeiramente negativo na actividade, determinado em larga medida pela revisão em baixa do indicador de procura externa dirigida à economia portuguesa”.

Ainda assim, olhando para as novas previsões do Banco de Portugal e comparando-as com as projecções feitas em Dezembro, a variação esperada para as exportações até é revista ligeiramente em alta, de 3,7% para 3,8%, e a previsão para crescimento do consumo torna-se substancialmente mais elevada, passando de 2% para 2,7%.

O problema está no facto de, num cenário de estabilização da taxa de crescimento das exportações ao mesmo nível de 2018 (ano em que se deu um abrandamento desse indicador face a 2016 e 2017), espera-se uma aceleração das importações, que depois de crescerem 4,9% em 2018 deverão aumentar 6,3% em 2019. Em Dezembro o Banco de Portugal apontava para um crescimento das importações de 4,7% em 2019.

Neste cenário, o contributo das exportações líquidas (exportações menos importações) para o crescimento da economia diminui, constituindo, num cenário de alguma aceleração da procura interna, a explicação para o ritmo mais lento da economia.

Outra consequência deste crescimento das importações mais forte que o das exportações é uma deterioração do saldo da balança de bens e serviços da economia portuguesa. Depois de um excedente de 1% do PIB em 2018, o banco central projecta ainda um saldo positivo em 2019, mas já apenas de 0,2%, e um regresso aos défices, embora moderados, em 2020 e 2021.

O saldo global com o exterior, que também inclui as balanças de capital e de rendimentos, irá manter-se positivo, prevê o relatório.

Para além de avisar para a existência de riscos negativos para a evolução da economia, o Banco de Portugal caracteriza o actual momento da economia portuguesa como de “maturação da fase de expansão do ciclo económico”. Depois de conseguir crescimentos acima de 2%, Portugal não deverá, acredita a autoridade monetária nacional, voltar nos próximos anos a superar essa barreira, aproximando-se, num cenário em que a conjuntura internacional ajuda menos, do seu ritmo de crescimento potencial.

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