Pioneiros das redes neuronais ganham Prémio Turing

Tecnologia começou a ser explorada nos anos 1980 e é agora alvo de um renovado interesse.

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As redes neuronais são inspiradas no cérebro humano van wedeen / harvard medical school

Este ano, o prémio Turing 2018 – conhecido no ramo da tecnologia como o “Nobel da computação” – foi para três investigadores a trabalhar desde 1980 no desenvolvimento das redes neuronais, os sistemas de inteligência artificial que tentam copiar o cérebro humano e que permitem que assistentes digitais como a Siri, da Apple, e a Alexa, da Amazon, funcionem.

O prémio é atribuído anualmente pela Association for Computing Machinery (ACM), nos EUA.

Em computação, o termo “redes neuronais” é uma tecnologia que permite criar sistemas compostos de algoritmos relativamente simples (apelidados de “neurónios artificiais”) que, tal como os neurónios humanos, se influenciam uns aos outros através de conexões. É esta tecnologia que permite a máquinas aprender a analisar frases, identificar imagens, jogar xadrez e escrever textos após estudarem extensas bases de dados.

Embora a tecnologia tenha começado a ser explorada na década de 1980, em 2000 tinha decrescido em popularidade. Foram os canadianos Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio, e o norte-americano Yann LeCun que reacenderam o interesse. Agora recebem um milhão de dólares (perto de 888 mil euros) pela investigação e trabalho desenvolvido. Além de todos fazerem investigação na área, há anos que Hinton e LeCun ocupam cargos de liderança nas áreas de engenharia do Google e do Facebook respectivamente. Alguns chamam-lhes de “padrinhos” ou “pais” das redes neuronais.

“Qualquer pessoa com um telemóvel no bolso pode experienciar tangivelmente avanços no processamento de linguagem natural e visão computacional que não existiam há dez anos”, justificou a presidente da ACM, Cherri M.Pancake, em comunicado.

Desde 1996, que a ACM destaca pioneiros na área da computação com o prémio Turing, criado em homenagem ao matemático britânico Alan Turing, considerado por muito o “pai” dos computadores. Foi Turing que decifrou um código usado pelos nazis que permitiu encurtar a II Guerra Mundial. Ao admitir uma relação homossexual, porém, foi afastado do trabalho, condenado em tribunal e submetido a castração química. A morte, em 1954, foi classificada como suicídio. Em 2013, a Rainha Isabel II concedeu-lhe perdão a título póstumo.

Para Pancake, o prémio de Turing 2018 reconhece que “o crescimento e o interesse na inteligência artificial deve-se, e não em parte pequena, aos avanços recentes na área de deep learning [aprendizagem profunda] para os quais Bengio, Hinton e LeCun deixaram bases.”

Por exemplo, em 1983, Hinton – que hoje divide o seu dia entre a equipa de engenharia do Google e a Universidade de Toronto – foi responsável pela invenção das Máquinas Boltzman, uma das primeiras redes neuronais a utilizar modelos estatísticos. 

Desde 2010, Bengio – que nasceu em França, dá aulas na Universidade de Montreal, no Canadá e é o director cientifico do Instituto de Inteligência Artificial no Quebec – se foca em criar redes (conhecidas em inglês como as GAN – generative adversarial networks) que permitem a computadores criar imagens originais, numa técnica que simula a criatividade humana.

Já LeCun, que também nasceu em França – e é um vice-presidente e responsável pela área de inteligência artificial no Facebook – tem-se ocupado em desenvolver um conjunto de técnicas que permitem usar camadas de redes neuronais para analisar imagens visuais.

“No começo dos anos 2000, LeCun, Hinton e Bengio faziam parte do pequeno grupo que se manteve focado [na tecnologia]. Embora os seus esforços para reacender o interesse da comunidade de inteligência artificial em redes neuronais tenham sido recebidos com cepticismo, as suas ideias resultaram recentemente em grandes avanços tecnológicos”, lê-se no comunicado da ACM.

A cerimónia de atribuição dos prémios ocorre em Junho, em São Francisco, EUA.

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