Quinze anos depois, fãs portugueses de Eragon cumprem “sonho” de conhecer Christopher Paolini

O autor de Eragon esteve em Lisboa para promover o seu último livro, O Garfo, a Bruxa e o Dragão. Foi a primeira visita do escritor a Portugal e os fãs da saga quiseram estar presentes neste encontro para “ouvir as respostas àquelas perguntas que as pessoas vão fazendo ao longo da leitura dos livros”.

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Miguel Manso

Tudo começou com Eragon, há 15 anos. O primeiro livro foi editado em Portugal em 2004, mas esta é a primeira vez que o autor norte-americano Christopher Paolini visita o país. Uma estreia ansiada pelos fãs, que, nesta segunda-feira, encheram a livraria LeYa na Buchholz, em Lisboa, para a apresentação da sua última obra, O Garfo, a Bruxa e o Dragão (Edições ASA). Para alguns, que cresceram a ler a saga, cumprimentar Paolini e conseguir um autógrafo foi “a oportunidade de uma vida”.

Ainda faltava mais de meia hora para o início do encontro e o piso superior da livraria lisboeta já estava composto. Pelo menos 50 pessoas estavam já sentadas e outras tantas de pé, junto às estantes. À entrada, o som da caixa registadora era frenético: todos queriam ter uma cópia de O Garfo, a Bruxa e o Dragão, lançado no início deste ano, para o autor o autografar.

Pela sala, ouve-se falar português, inglês, espanhol. Sente-se a expectativa. Vários grupos de fãs, com idades que rondam os 20 anos, conversam e trocam opiniões – sobre livros, é claro, mas nem sempre sobre o Ciclo da Herança, a saga que os levou até lá.

Ao longo de quatro tomos, todos eles acompanharam a história de Eragon, um rapaz de 15 anos que se apropria (sem querer) de um ovo de dragão, com o qual vai chamar Saphira e com o qual vai criar uma amizade. Alagaësia, o universo criado no primeiro livro, está repleta de elfos, anões e urgals – seres com uma língua própria, o urgalês, criada de raiz por Paolini.

Guilherme Pinheiro, 23 anos, estudante do mestrado de Psicologia, faltou às aulas para poder estar presente: “Eu gostei da colecção e, já que ele veio, quis que assinasse o livro”, justifica. Leu os quatro livros da colecção há cerca de três anos, conta ao PÚBLICO. É um fã recente da saga, ao contrário de Joana Martinho, 27 anos, também universitária, que espera por Paolini. “Eu li o primeiro livro aos 15 anos. Li-o numa fase em que ainda não estavam todos os livros publicados, então tinha de esperar um ano ou dois para que saíssem”, lembra.

Teve de aguardar um pouco mais pelo último. Herança, o quarto livro do Ciclo da Herança saiu em 2011; O Garfo, a Bruxa e o Dragão já neste ano. Mas, para ela, a espera valeu a pena: “Valeu a pena porque gostei muito. É um bocadinho diferente dos anteriores, mas continua a notar-se a essência do autor, tal como no primeiro livro. Isso não se perdeu.”

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Para esta amante assumida do género fantástico, o encontro com o autor foi “a oportunidade de uma vida”: “Muito provavelmente não hei-de ter mais hipóteses”, diz, visivelmente entusiasmada.

Mais livros? “Talvez no próximo ano”

O encontro começou às 18h30 em ponto e a sala já estava quase cheia. Mais de 100 pessoas juntaram-se para ouvir Christopher Paolini, que teve atenção total desde que subiu ao pequeno palanque. “Obrigada por estarem aqui”: estas foram as suas primeiras palavras, recebidas com um aplauso, prova da reverência que lhe prestavam naquela sala. Mas antes de passar às questões, Paolini quis fazer uma pequena introdução.

Para quebrar o gelo, começou por dizer que no estado do Montana, nos EUA, onde vive, estavam -30ºC quando saiu de lá para Portugal – uma temperatura bem inferior à de “Lisboa e desta sala”. O mote estava dado: a conversa ia ser descontraída dali para a frente.

Com um discurso pontilhado por piadas e momentos de humor – que tinham uma resposta quase imediata por parte da audiência – o autor partilhou pequenas histórias que levaram à concepção deste último livro, o mais curto dos cinco que já escreveu e que junta três contos, todos passados em Alagaësia.

Ao longo da apresentação, o autor recordou por exemplo que o último conto do livro foi na realidade o primeiro a ser escrito, e que para ele voltar a Alagaësia foi como “voltar a casa depois de uma longa viagem”. Afinal, a escrita desta série ocupou-lhe uma grande parte da vida: entre os 15 e os 28 anos dedicou-se quase exclusivamente a este projecto. Agora, aos 35 anos, e depois de uma pausa, soube-lhe bem voltar. Contou ainda que a vontade de escrever surgiu “depois de ver um filme muito mau”. “Não, não era Eragon”, brincou.

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Christopher Paolini mencionou ainda que o primeiro conto, chamado O Garfo, começou com uma piada no Twitter. “Uma pessoa escreveu-me no Twitter – e tanto quanto sei pode ter sido um de vocês, portanto a culpa é vossa – a perguntar o que é que Murtagh [uma das personagens]​ estava a fazer depois do último livro. Eu respondi que estava a derrotar inimigos com um garfo”. E da piada nasceu o conto.

Para aguçar a curiosidade de quem estava presente, revelou que o quinto livro do Ciclo da Herança (que, para quem não se lembra, começou por ser uma trilogia) já está na forja, mas que antes de este livro sair várias outras histórias podem ainda vir a ser publicadas, incluindo um livro “enorme” de ficção científica que, “se tudo correr bem”, poderá ser publicado durante o próximo ano e meio.

“Eu tenho esta pergunta desde criança”

Uma parte incontornável de todas as apresentações de livros é a leitura de excertos. Paolini esforçou-se para que não fosse uma leitura “chata”, mas aproveitou para revisitar todos os seus livros. Escolheu apenas uma frase de cada um deles – algumas na língua dos elfos ou em urgalês, dialectos criados pelo próprio. Para fazer essa leitura, e “apesar de saber todas [as passagens] de cor”, pediu à audiência que lhe arranjasse os livros correspondentes em inglês. Houve logo quem se apressasse a tirar exemplares da mochila – tinham feito o trabalho de casa.

Depois das leituras houve tempo para questões. “Eu tenho esta pergunta desde criança”, começou por dizer o primeiro fã que lhe apresentou uma questão específica sobre elfos. Um sinal de que esta colecção acompanhou o crescimento de muitos leitores, como é o caso de Mariana Santos, 21 anos, estudante de Medicina. “Eu li o primeiro livro estava no quinto ano. Ou seja, já foi há muito tempo”, começa. “Quando li o primeiro livro senti-me completamente imersa na história.”

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Ao lado, Emanuel Noivo, também ele estudante de Medicina de 22 anos, conta uma história semelhante: “Eu li o Eragon quando saiu e lembro-me que li o livro todo num dia porque não consegui parar.” Estão na livraria para, como nos explica Mariana, “ouvir as respostas àquelas perguntas que as pessoas vão fazendo ao longo dos livros”.

E as perguntas existiram: sobre anões e dragões e vários pormenores que intrigaram os leitores mais atentos. Todas as questões foram feitas de forma organizada e as respostas tiveram sempre algum humor à mistura.

Das perguntas, passou-se para a sessão de autógrafos. A fila – longa – começou a formar-se logo a seguir à última resposta. Nessa fila, está Inês Póvoa, 16 anos (pouco mais velha do que Christopher Paolini quando começou a escrever o primeiro rascunho de Eragon), que veio de Torres Vedras para conhecer o autor. Começou a ler os livros no “6.º ou 7.º ano” – Eragon faz parte do Plano Nacional de Leitura para alunos dessa faixa etária – e escreveu a Paolini quando acabou de ler o quarto livro.

“Mandei-lhe uma carta e ele respondeu passado dois meses. Desde aí tornou-se um dos meus escritores preferidos. Quando soube que ele vinha a Portugal decidi que tinha de o vir ver”, afirma enquanto se põe na fila para conseguir um autógrafo no seu recém-comprado O Garfo, a Bruxa e o Dragão. Tinha uma longa espera pela frente para conseguir trocar algumas palavras com o autor. Para ela, pelo menos, não seria a primeira vez. 

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