Arrancou a ofensiva de Henrique Granadeiro contra acusação da Operação Marquês

Esta segunda-feira foram ouvidas as três primeiras testemunhas de um rol de 15 cuja inquirição foi pedida pela defesa do antigo administrador da PT.

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Juiz Ivo Rosa ouviu esta segunda-feira três testemunhas arroladas por Henrique Granadeiro. MANUEL DE ALMEIDA

Esta segunda-feira o juiz Ivo Rosa ouviu as primeiras três testemunhas de um rol de 15 cuja inquirição foi pedida pela defesa do antigo administrador da PT, Henrique Granadeiro, na instrução da Operação Marquês. O gestor, acusado de oito crimes neste processo - incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal - começou assim a ofensiva contra a acusação do Ministério Público, que alega que o antigo administrador da PT recebeu entre 2007 e 2012 cerca de 24,5 milhões de euros através da Espírito Santo Enterprises, o alegado “saco azul” que seriam “luvas” pagas pelo então presidente do BES, Ricardo Salgado, para beneficiar o grupo.

O objectivo, diz a acusação, seria garantir que o gestor beneficiava o grupo Espírito Santo em dois momentos: opondo-se à oferta pública de aquisição (OPA) que a Sonae lançou à PT, em 2006; e possibilitando a venda das participações da PT na Vivo à Telefónica e simultânea entrada da PT na Oi. Granadeiro, que contesta de forma veemente ter beneficiado o grupo Espírito Santo, tenta desta forma desmontar a tese do Ministério Público. Não de viva voz, já que não pediu para prestar declarações.

Nesse sentido os depoimentos foram vistos sem surpresa tanto pela acusação, como pelas defesas. A primeira testemunha a ser ouvida foi o advogado e professor catedrático, António Menezes Cordeiro, que foi presidente da Mesa da Assembleia Geral da PT e liderou em Março de 2007 a assembleia que recusou desblindar os estatutos da PT, uma condição essencial ao sucesso da OPA da Sonae.

Aos jornalistas que estavam à porta do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, Menezes Cordeiro assegurou que não viu nada de suspeito nas assembleias que dirigiu. “Aquilo que vi foram assembleias gerais nas quais as pessoas votaram, o grupo Espírito Santo votou, umas vezes ganhou e outras vezes perdeu”, afirmou.

Na sessão desta segunda-feira, que demorou perto de três horas, foi ainda ouvido o sócio da McKinsey, Pedro Mendonça, que foi consultor da PT, e um director da actual Pharol, Luís Sousa de Macedo, que já estava na empresa de telecomunicações no tempo de Granadeiro.

Este último foi o que depôs sobre mais questões, partindo da “parceria estratégica”, nas palavras da defesa de Granadeiro, que a PT manteve durante vários anos com o Banco Espírito Santo, passando pela oposição do conselho de administração da empresa à OPA da Sonae, já que o valor oferecido por acção não seria o justo. Essa conclusão, insiste a defesa de Granadeiro, foi sustentada em múltiplos pareceres pedidos a diversas sociedades de advogadas e consultoras. Luís Sousa de Macedo também terá explicado a racionalidade da compra de acções próprias pela PT, que para Granadeiro, tinha o objectivo de “robustecer um núcleo de accionistas estáveis com uma visão de longo prazo para o Grupo PT”. O depoimento terá servido para contextualizar a venda da Vivo no Brasil e da entrada da PT no capital da Oi, actualmente num processo judicial de recuperação.

Para esta terça-feira está prevista a audição de mais três testemunhas. São elas Rodrigo Costa, antigo administrador do grupo PT e actual presidente da Redes Energéticas Nacionais, Rita Sampaio Nunes, antiga directora da PT e actualmente na administração da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e Jorge Tomé, antigo administrador da PT e ex-presidente do Banif.

Entre as testemunhas arroladas pela defesa de Granadeiro estão ainda Carlos Slim (empresário mexicano que foi accionista da PT e é considerado uns dos homens mais ricos do mundo), Gerald McGowan (antigo administrador da PT) e Ricardo Knoepfelmacher (antigo presidente da administração da Brasil Telecom) que serão ouvidos por videoconferência em data a definir.

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